As Estratégias de Coping para o Manejo da Fissura de Dependentes de Crack

Resenhado por Lucila Moraes

Araujo RB, Pansard M, Boeira BU, Rocha NS. As estratégias de coping para o manejo da fissura de dependentes de crack. Rev HCPA. 2010;30(1):36-42.

      Estima-se que a cocaína e o crack são consumidos por cerca de 0,3% da população mundial, e que 70% dos usuários dessas drogas se encontram na América Latina. No Brasil, o consumo do crack chega a atingir 0,7% da população.
    O crack desencadeia sentimentos de euforia quase que instantaneamente após seu uso, o que reforça e motiva muitas pessoas a fazerem novo uso da substância. Além disso, o inicio de ação do crack é considerado rápido, o que torna seu efeito mais intenso e com menor duração, fazendo com que o individuo tenha maiores chances de se tornar dependente desta droga. Pesquisas apontam que os sintomas relacionados à abstinência do crack causam um uso mais intenso do que em qualquer outra droga. Por isso, a decisão de interrupção de uso do crack/cocaína não é um processo fácil, já que o usuário é fortemente influenciado pela fissura/craving (desejo intenso/ânsia por uma substância), além de passar por problemas em relação ao controle emocional e a dificuldade de um tratamento ambulatório pós-internação.
    O conceito de coping designa habilidades desenvolvidas para a adaptação e superação de obstáculos e situações estressoras. Pesquisas apontam que estratégias de enfrentamento adequadas podem prevenir recaídas do uso de drogas. Além disso, pacientes que receberam treinamento de habilidades de enfrentamento mostraram um menor consumo de cocaína quando comparados a usuários que não receberam tal treinamento.
       O presente estudo tem o objetivo de analisar as estratégias de coping para o manejo da fissura em dependentes de crack internados para desintoxicação. Para realização da pesquisa, foram avaliados 35 sujeitos dependentes de crack pelo CID-10, todos do sexo masculino e internados para desintoxicação em uma unidade especial de dependentes químicos em Porto Alegre. Foram analisados diferentes períodos de abstinência do crack para que a variável ‘tempo desde o último uso’ estivesse correlacionada com estratégias de coping. Os instrumentos usados para a coleta foram: Ficha de dados demográficos e referentes ao uso de substancia psicoativo; Escala Analógico-Visual a respeito da motivação para usar o crack (varia de 0 – não tenho nenhuma motivação – a 10 – tenho muita motivação para parar de usar crack); e o Inventário de Estratégias de Coping de Folkman e Lazarus.
Os resultados mostraram que as estratégias mais utilizadas foram a de Aceitação de Responsabilidade (57,2%), Confronto (54,3%) e a Fuga-Esquiva (45,7%). O estudo encontrou correlações positivas entre motivação para interrupção do uso do crack e as estratégias Resoluções do Problema e Fuga-Esquiva. Foi encontrada também uma correlação positiva entre o número de dias desde o último uso de crack e o maior uso de estratégias de coping de Autocontrole, Fuga e Esquiva, Resolução de Problemas e Reavaliação Positiva. Com relação a isto, estudos indicam que o autocontrole em resistir o consumo de drogas tem relação com um bom prognóstico para o tratamento desses usuários e autores como Araújo et al (2008) ainda ressaltam a importância e eficácia das estratégias de coping ao lidar com as fissuras e recaídas dos dependentes químicos.
       O resultado do estudo também mostrou uma correlação positiva entre tempo de hospitalização e as estratégias de Fuga-Esquiva e Resolução do Problema. Acredita-se que tais estratégias foram as mais citadas, pois o tipo de tratamento adotado pela equipe especializada foca no Modelo Prevenção e Recaída, no Tratamento de Habilidades e Tratamento de Exposição aos Estímulos; que utiliza técnicas como a de Relaxamento e Role Play, apontadas por Knapp como mais eficazes para o manejo da fissura em dependentes de substâncias.
      Em suma, o estudo mostrou haver relação entre o uso de algumas estratégias de coping com o tempo de internação, o tempo de abstinência da substância, e a motivação para
interrupção do uso do crack. Tal resultado ajuda a entender quais as estratégias de coping são utilizadas para o manejo da fissura do dependente químico, e pode auxiliar os profissionais especializados a entender qual estratégia maximiza a eficácia do tratamento e treinamento para tais pacientes.

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