Comportamento tabágico: Um estudo com fumantes, ex-fumantes e não fumantes

Resenhado por Laís Santos


Afonso, F., & Pereira, M. G. (2013). Comportamento Tabágico: Um estudo com Fumantes, Ex-Fumantes e Não Fumantes. Revista Temas em Psicologia, 21, 379-389. doi: 10.9788/TP2013.2-06


            O comportamento tabágico se diferencia dos demais comportamentos de uso de substâncias psicoativas pelas elevadas taxas de morbidade em longo prazo. Estudos revelam que o consumo de nicotina, bem como de outras substâncias como o álcool, podem reduzir os níveis de ansiedade, estresse e depressão. De acordo com alguns estudos, o consumo de cigarros pode afetar o nível de qualidade de vida, de modo que a maior duração e o maior consumo de nicotina podem influenciar diretamente a diminuição da qualidade de vida dos indivíduos.
            Estudos apontam que o apoio que é dado pelos parceiros pode influenciar o fumante a cessar o comportamento tabágico, por exemplo. Estima-se também que a satisfação marital exerça influência positiva no que se refere à recuperação desses sujeitos e ao consumo do cigarro. Seguindo essa linha de raciocínio, o coping familiar é outro ponto de grande importância. A adaptação familiar a contextos crônicos, como é o caso da dependência do fumo, está relacionada à busca por suporte social, assim como o uso de diálogo aberto entre os familiares. A família pode atenuar os efeitos nocivos decorrentes do uso do tabaco, além de poder também proporcionar maior bem-estar físico e emocional aos seus familiares.
            Pesquisas revelam ainda que, relacionado ao uso do tabaco, há a criação das chamadas representações, que dizem respeito à forma como os indivíduospercebem a sua doença. De acordo com alguns estudos, muitos fumantes acabam não reconhecendo a vulnerabilidade a que estão expostos ao fazer uso do tabaco, minimizando, em muitos casos, os efeitos nocivos de sua dependência. Com isso, o modo como os fumantes se percebem pode interferir diretamente na consciência ou não, dos riscos e da vulnerabilidade a qual estão expostos.
            Frente a estas questões, o estudo em pauta analisou sintomas de transtornos psicológicos, qualidade de vida, suporte do parceiro, coping familiar, ajustamento de casal e representações do tabaco em fumantes, ex-fumantes e não fumantes. A amostra foi composta por 224 fumantes (com duração do consumo de pelo menos três anos), 169 ex-fumantes (com tempo de abstinência maior do que três meses), e 173 não fumantes. Dos fumantes, 52,7% (n = 118) eram homens e, dos 224, 60% (n = 134) afirmaram ter realizado ao menos uma tentativa para tentar parar de fumar. Dos ex-fumantes, 68,6% (n = 116) eram homens; e todos (n = 169) já haviam tentado ao menos uma vez parar de fumar. O grupo de não fumantes foi composto em sua maioria por mulheres, 74% (n = 128). Este grupo foi comparado aos outros dois, mediante o nível das variáveis psicológicas.
            No que se refere aos ex-fumantes e a qualidade de vida dos mesmos não sofreu alterações e não foi afetada por problemas relacionados à cessação do comportamento de fumar. Esse resultado vai ao encontro da própria literatura, visto que esta relaciona qualidade de vida ao menor consumo de fumo, assim, pelo fato desses indivíduos não estarem mais fumando, a vida deles não está mais sendo afetada pelos pontos negativos de tal comportamento. Com relação ao nível de ansiedade, os ex-fumantes se mostraram mais ansiosos quando comparados aos outros dois grupos, fator que pode ser explicado pela configuração amostral, na qual parte dos sujeitos era ex-fumante que estava sem fumar a pouco tempo, três meses em média. Os ex-fumantes salientaram também a busca por ajuda interpessoal, representando assim a importância do suporte social e ajuda, seja de parceiros ou mesmo da própria família no incentivo à cessação do comportamento de fumar.
            O grupo dos não fumantes esboçou uma representação emocional mais ameaçadora com relação ao uso do tabaco, além de menor compreensão e mais coesão com relação ao ajustamento de casal (pelo fato deles não fumarem, a dinâmica do casal não é afetada). Desse modo, subentende-se que este grupo, caso viesse a fazer uso do tabaco, poderia ser afetado emocionalmente e que a maioria não teria uma explicação para o seu comportamento.
            O grupo de fumantes esboçou diferenças quanto ao nível de qualidade de vida, porém a maioria demonstra ter um bom desempenho físico e menor incidência de dor corporal, quando comparados aos outros dois grupos. Por tanto, entende-se que os fumantes percebem que a sua saúde é boa, e não vem, assim, consequências negativas imediatas atreladas ao comportamento tabágico. Como se sabe, a literatura revela os vários prejuízos decorrentes da dependência do tabaco; desse modo, a percepção dos fumantes de que ‘tudo vai bem’ pode influenciar negativamente a probabilidade de que este venha a parar de fumar, já que ele se sente bem, minimizando a percepção de risco de doenças em longo prazo.
            Em suma, o estudo em pauta enfatiza que as intervenções acerca do consumo de fumo devem ser guiadas pela importância dos sintomas de transtornos psicológicos, bem como pela qualidade de vida, coping familiar, ajustamento de casal e representações do fumo para os três grupos. As representações do comportamento tabágico para os fumantes, em especial, foram um dos aspectos mais interessantes do trabalho. Como foi visto, a percepção de boa qualidade de vida, ausência de dores, pode influenciar negativamente as chances de cessar o comportamento tabágico. Além disso, os sintomas de transtornos psicológicos, como a ansiedade, podem ser agravados mediante o uso, e até mesmo a abstinência de tal substância. Assim, vê-se a importância da atuação de todo os profissionais do âmbito da saúde na criação estratégias eficazes de conscientização destes grupos, a fim de reduzir ao máximo os riscos em longo prazo a que estes estão expostos.


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