Coping e gênero em adolescentes
Postado por
Iracema R. O. Freitas
Câmara, S. G. &
Carlotto, M. S.(2007). Coping e gênero em adolescentes. Psicologia em Estudo, 12, 1, 87-93.
Os
eventos estressores causam impacto sobre a saúde orgânica e psicológica dos
indivíduos, porém existem estratégias de enfrentamento que podem reduzir o
impacto de tais eventos sobre a saúde. Os recursos utilizados para minimizar os
efeitos negativos de um estressor podem ser de ordem cognitiva ou
comportamental, segundo Lazarus e Folkman(1980), ou se desdobrar em quatro
categorias como descreve Blalock e Joiner(2000), são elas: aproximação comportamental (uma ação que pretende enfrentar uma
situação estressante); aproximação
cognitiva (reavaliação positiva ou elaboração de alternativas); evitação comportamental (execução de comportamentos
impulsivos que reduzam a tensão); e evitação
cognitiva (pensamentos ou respostas que tentem reduzir a gravidade da situação
ou negá-la). Estas dimensões situacionais representam modalidades de ajustes do
individuo aos problemas que encontra, sendo chamadas de coping. Na adolescência muitas estratégias ainda não foram
desenvolvidas dificultando o enfrentamento de situações estressoras. Para que
haja o ajustamento saudável aos problemas é necessário o desenvolvimento de um
repertório comportamental, resultante de
fatores demográficos, pessoais, socioculturais e ambientais que influenciam no
tipo de estratégias de coping. Além disso, o gênero e os papéis sociais que
lhes são atribuídos podem ser considerados fatores que
também impactam no bem-estar físico e psicológico desses indivíduos.
O
presente estudo avaliou associação entre bem estar e coping em 389 adolescentes
com a idade média de 17,3 anos ,
cursando o ensino médio de escolas públicas e particulares de Porto Alegre.
Foram aplicados um questionário de dados sociodemográficos,
o General
Health Questionnaire - GHQ-12 e a Escala de Enfrentamento para Adolescentes – ASC.
Os resultados indicaram que há associação entre bem-estar psicológico e as
estratégias de enfrentamento nos dois grupos (sexo masculino e sexo
feminino). Redução da tensão, busca de
apoio espiritual, falta de afrontamento, fixar-se no positivo e resolver
problemas são estratégias mais utilizadas por indivíduos do sexo feminino,
condutas aceitáveis em seu contexto sociocultural, em que os sentimentos da
mulher devem ser liberados com moderação. Com o sexo masculino as estratégias
mais encontradas foram a distração física, guardar para si, ignorar o problema
e ação social, demonstrando que entre os meninos o enfrentamento pode ocorrer
por meio do suporte social.
As
variáveis relativas a evitação
comportamental e cognitiva diferenciaram
significativamente entre os grupos, com destaque para redução de tensão como
chorar, gritar, buscar uma maneira de aliviar a tensão, alterar a quantidade de
comida ou ainda o tempo de dormir são estratégias mais utilizadas pelas
meninas. Já a distração física utilizada pelos meninos sempre remete ao apoio
dos seus pares, que buscam nas atividades físicas alcançar o mesmo resultado de
evitação comportamental. A evitação cognitiva nas meninas se
manifesta na postura derrotista, ou seja, a sensação de incapacidade ou paralização
frente ao problema e ainda sensação de mal-estar com sintomas físicos de
ansiedade, enquanto os meninos acabam guardando para si seus sentimentos e
problemas.
Por
se tratar de um período de construção de identidade, de experimentação e
amadurecimento de repertórios comportamentais e cognitivos de enfrentamento,
torna-se importante o estudo do coping entre os adolescentes, para que se
identifique como o estilo de vida em cada sexo pode refletir na sua saúde
física e mental. As estratégias de coping mal sucedidas podem levar a
comportamentos de risco como única forma de enfrentamento possível, ou seja,
terá um repertório pobre ou pouco saudável de coping.
Nenhum comentário: