Coping mediates the association of mindfulness with psychological stress, affect, and depression among smokers preparing to quit.
Resenhado por Ariane de Brito
Vidrine, J. I, Businelle, M. S., Reitzel, L. R., Cao, Y.,
Cinciripini, P. M., Marcus, M. T., Li, Y., & Wetter, D. W. (2015). Coping mediates the
association of mindfulness with psychological stress, affect, and depression
among smokers preparing to quit. Mindfulness, 6, 433–443. doi:
10.1007/s12671-014-0276-4.
Estima-se que 20,0% da população
norte-americana fuma cigarros e que grande parte dos fumantes têm dificuldade
significativa com a cessação do tabagismo. Além disso, 70,0% dos fumantes
relatam o desejo de parar de fumar, e aproximadamente 45,0% por ano, tentam
cessar o uso. No entanto, apenas 10,0% dos fumantes que recebem tratamento
formal são capazes de manter a abstinência de um ano. A cessação do tabagismo
tem se caracterizado com um importante estressor para os usuários, que costumam
experimentar níveis de afeto negativo, estresse psicológico percebido e
depressão. Isto parece justificar as baixas taxas de abstinência desses
usuários a longo prazo, pois esses sintomas se tornam poderosos indicadores de
recaída. Por esse motivo, torna-se interessante identificar fatores que contribuam
com o aumento das taxas de abstinência e que previnam a recaída.
Mindfulness, que como
definido por Jon Kabat-Zinn (1994), significa "prestar atenção de uma
maneira particular; de propósito, no momento presente, e sem julgamento, ou que
reflete a aceitação da experiência” (Roemer & Orsillo, 2003; Teasdale, 1997),
tem sido apontado como um fator que pode ser relacionado com baixos níveis de
afeto negativo, níveis mais elevados de afeto positivo e regulação emocional
reforçada. Intervenções baseadas em mindfulness
têm demonstrado redução do autorrelato e índices objetivos de afeto negativo e
estresse e aumento do afeto positivo. Para a cessação do tabagismo, existem
algumas evidências (4 estudos publicados) que sugerem que os tratamentos à base
de mindfulness são eficazes. Por se
tratar de uma evidência de tratamento emergente, os autores pontuam que há uma
necessidade de discutir os mecanismos através dos quais a mindfulness melhora resultados de cessação do tabagismo.
Neste estudo, o coping (enfrentamento) é
entendido como a utilização de ações cognitivas ou comportamentais específicas
para lidar com problemas incômodos diários, sendo a mindfulness um dos mecanismos de coping que pode atenuar os níveis
de afeto negativo e o estresse psicológico percebido. A mindfulness aumenta a identificação precoce de pensamentos e
sentimentos problemáticos, como por exemplo, o desejo e/ou vontade de fumar,
que, por sua vez, promove a utilização de comportamentos adaptativos e
flexíveis de enfrentamento, levando a regulação emocional do indivíduo. Desse
modo, o presente estudo objetivou analisar o enfrentamento como um mecanismo
potencial de associações de mindfulness
com níveis de afeto negativo e positivo, depressão e estresse psicológico entre
fumantes.
Os 158 participantes foram recrutados na área
metropolitana de Houston via mídia impressa local, entre fevereiro de 2005 a
maio de 2006. Os critérios de inclusão foram: história de tabagismo de pelo
menos cinco cigarros por dia durante o ano anterior, motivação para atingir a
abstinência de fumar dentro de 30 dias da inscrição, capacidade de falar e ler
em inglês, e ter um endereço residencial e número de telefone funcionando em
casa. A média de idade dos participantes foi de 43,8 anos, 44,0% eram do sexo
feminino, 38,0% eram casados e 47,0% relataram ter renda familiar anual inferior
a US$ 30.000. Os participantes fumavam em média 20,8 (DP = 9,2) cigarros por dia, para uma média de 24,8 (DP = 12,1) anos. A média do nível da
linha de base de monóxido de carbono exalado foi de 21,3 (DP = 11,3) ppm. Já a média da pontuação do Heaviness of Smoking Index (HSI) foi de 3,4 (DP = 1,4), enquanto que a pontuação média do Kentucky Inventory of Mindfulness Skills (KIMS) foi de 31,4 (DP = 3,8). Foram utilizados quatro
medidas padronizadas para avaliar dependência de nicotina (HSI), mindfulness (KIMS), coping (Daily Coping Inventory), afetos
positivos e negativos (PANAS) e depressão (CES-D).
De maneira geral, os resultados indicaram
que indivíduos que relataram maior uso de ação direta, busca de suporte social,
religião e relaxamento apresentaram níveis significativamente mais baixos de
estresse percebido e níveis mais elevados de afeto positivo. Constatou-se ainda
que: mindfulness foi
significativamente menos associado com o estresse percebido, maior foi o efeito
no afeto positivo, menor efeito no afeto negativo, e menos associado com a
depressão.
Na análise das dimensões de enfrentamento
como potenciais mediadores da associação entre consciência e estresse percebido
obteve-se que duas das oito dimensões de enfrentamento (ação direta e
relaxamento), mediou significativamente a associação, e que duas adicionais dimensões
de enfrentamento (busca de apoio social e religião), aproximou-se de
significância. Neste modelo de múltiplos mediadores de enfrentamento
responderam por 26,0% do efeito total de mindfulness
sobre o estresse percebido. Das quatro dimensões de enfrentamento incluídos no
modelo de múltiplos mediadores, apenas um (relaxamento) mediou
independentemente a associação entre consciência e percepção de estresse
psicológico.
Além disso, três dos oito dimensões de
enfrentamento examinadas, busca de suporte social, religião e relaxamento,
mediaram significativamente a associação entre mindfulness e afeto positivo. Por outro lado, quando associada ao
afeto negativo, nenhuma das dimensões de enfrentamento apresentaram resultados
estatisticamente significativos. Já na associação com a depressão, apenas a
dimensão relaxamento apresentou mediação significativa.
O estudo em questão demonstrou que mindfulness foi inversamente associada
com o estresse percebido, afeto negativo e depressão, e positivamente associada
com o afeto positivo. Além disso forneceu a primeira evidência de que várias
estratégias de enfrentamento podem mediar a relação entre mindfulness com estresse psicológico percebido, afeto positivo e
depressão, especificamente, o relaxamento. Para os autores, no geral, o padrão
robusto e consistente de associações que surgiu entre mindfulness e esses preditores estabelecidos de recaída sugere que
uma maior atenção plena (mindfulness)
poderia atenuar a vulnerabilidade à recaída em fumantes.
Apesar de existirem poucos estudos que avaliam
intervenções com fumantes baseadas em mindfulness
(Bowen e Marlatt 2009; Davis et ai. 2007), evidências consideráveis indicam a
eficácia de intervenções baseadas em mindfulness
visando uma variedade de resultados e entre populações diversas. Mindfulness foi positivamente associada
com a dimensão de enfrentamento de busca de apoio social, que por sua vez, foi
negativamente associada com o estresse percebido e positivamente associada com
afeto positivo.
Sabe-se que estratégias de enfretamento e
prevenção de recaída estão associadas, e ainda, que as habilidades de
enfrentamento podem ser melhoradas através de intervenções, que quando visam melhorar
diretamente a mindfulness também pode
impactar positivamente no comportamento de enfrentamento dos indivíduos
fumantes ou não.
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