Situações de recaída e família de origem: Um estudo sobre a percepção de dependentes químicos
Postado
por Mariana Serrão
Silva, A. C., Bortolotto, C. M., Mazzali, D. B., Martins, D. S.,
Martini, J. S, Marques, L. M., ... & Dartora, T. (2012). Situações de
recaída e família de origem: Um estudo sobre a percepção de dependentes
químicos. In IV Jornada de Pesquisa em Psicologia, (p.
189). Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul/ Brasil.
O estudo objetivou
relacionar as recaídas de dependentes químicos com sua família de origem e
investigar estratégias de enfrentamento adotadas nas situações de risco.
Participaram 50
pacientes em tratamento que fazem parte do Centro de Estudos da Família e do
Indivíduo, dos quais 21 são da comunidade (CEFI em Cuiabá/MT) e 29 são
pacientes (Porto Alegre/RS). Todos do sexo masculino com idades entre 17 e 56
anos.
Os instrumentos
adotados na pesquisa foram: questionários para coletas de dados sócio
demográficos dos participantes e de seus familiares (sexo, idade, religião,
situação conjugal, escolaridade, renda familiar, convivência com pais); Family Background Questionnaire (FBQ) (Melchert,
1999), a fim de investigar o funcionamento
familiar através da percepção das experiências dos participantes. O coping
(estratégias de enfrentamento) foi examinado através do Inventário de
Estratégias de Coping de Folkman e Lazarus (1985), esse instrumento permite
avaliar estratégias de enfrentamento focadas no problema -ao analisar a
situação cognitivamente e tentar administrar de forma que cause menos ou nenhum
trauma - bem como- focadas na emoção- quando não há a percepção de resolução do
problema, ausência de ação. O modelo do Inventário possui quatro conceitos “(a)
coping é um processo ou uma interação que se dá entre o indivíduo e o ambiente;
(b) sua função é de administração da situação estressora, ao invés de controle
ou domínio da mesma; (c) os processos de coping pressupõem a noção de
avaliação, ou seja, como o fenômeno é percebido, interpretado e cognitivamente
representado na mente do indivíduo; (d) o processo de coping constitui-se em
uma mobilização de esforços, através da qual os indivíduos irão empreender
esforços cognitivos e comportamentais para administrar (reduzir, minimizar ou
tolerar) as demandas internas ou externas que surgem da interação com o
ambiente.”
A média de idade dos participantes
foi de 25 anos 54,9% declararam-se solteiros, 52,9% de escolaridade de nível
fundamental, 58,8% sem trabalho remunerado, predomina renda familiar média de
até 2000 reais. Além disso, a maioria
conviveu com o pai durante a infância (64,7%) e o pai está vivo (54,9%), sendo
que dentre os que perderam familiares, 45% perdeu o pai. Quanto a religião,
54,9% professam religião católica, embora 33,3% da família aparenta ser pouco religiosas. Dados
obtidos pelo FBQ mostram que, de um modo geral, os índices relativo à figura
materna aparecem mais altos do que para a figura paterna, o índice de
responsividade parental apresenta média de 3,71 para a figura materna e 2,59
para a figura paterna. No quesito aceitação, mostra 2,74 para a figura paterna
e 3,49 para a materna, quanto a abuso físico, 2,59 aparece em relação à figura
paterna e 3,12 com relação à materna. O envolvimento educacional apresenta um
escore semelhante aos dados demonstrados anteriormente, sendo 2,56 para a
figura paterna e 3,34 para a materna e 3,08 para tomada de decisões por parte
da figura materna e 2,38 por parte da figura paterna. O ajustamento psicológico
refere-se à saúde mental dos pais – perturbações e humor ou abuso de
substâncias – aparecendo mais alto para a mãe (3,02) o que para a figura
paterna (2,56). Os dados apontam índice médio quanto a abuso de substâncias
para a figura paterna (2,40) e materna (2,96). A expressão de afeto (2,83),
aliança parental ou grau de acordo entre o pai e a mãe em relação às regras ou
instruções aos filhos (2,61) e abuso sexual (1,88) demonstraram valores abaixo
da média na família de origem, porém os valores relacionados à negligência
(3,46), estressores familiares (3,06), controle parental ou modelo educativo
(3,13) e suporte social (3,16) apareceram acima da média. A média geral relativa à percepção dos sujeitos
sobre sua família de origem apresentou um escore de (2,81).
Ao relacionar com os dados do FBQ, o exercício
da parentalidade é maior na figura da mãe nos fatores: Responsividade,
Aceitação, Envolvimento Educacional e na Tomada de Decisões. Maior, também, é o
fator que se refere ao Abuso Físico. Os pesquisadores sugerem que pelo fato da
mulher absorver sozinha a educação destes filhos, demonstra o estilo autoritário,
mesmo apresentando um escore maior do que o do pai no Ajustamento Psicológico.
Este fato contribui para um maior escore no Controle Parental. Observou-se um
estilo parental permissivo/omisso em relação à figura do pai ao relacionar os
escores do FBQ da figura paterna, visto que respostas com extremo negativo 196
para o pai apareceram nos fatores de Responsabilidade, Aceitação, Envolvimento
Educacional, Tomada de Decisão e Ajustamento Psicológico.” Este estilo teria
influenciado na aquisição de valores menos saudáveis pelos dependentes químicos
do estudo? E temos de levar em consideração que o FBQ solicita que a pessoa
responda em relação a uma figura paterna, não necessariamente ao pai biológico.
Este fato reforça a ausência/distância do pai na dependência química.”
Verificou-se que
estratégias de enfrentamento, em geral, foram abaixo da média. Ao analisar os
fatores, observou-se que os recursos mais utilizados para enfrentar a recaída
quanto ao uso de drogas é a Fuga-Esquiva, que descreve pensamentos e esforços
comportamentais para escapar ou evitar o problema, o que representa um esforço
comportamental bastante apropriado para escapar da drogadição, demonstrado na
média de 1,9. Em segundo lugar, aparece como estratégia mais utilizada a
Reavaliação Positiva, que representa os esforços para criar um significado
positivo, com foco no crescimento pessoal e de dimensão religiosa, apresentando
um índice de 1,64. A Aceitação da Responsabilidade, reconhecer o próprio papel
no problema, demonstrou um escore de 1,56, também um pouco acima da média.
Como o estudo foi
feito com pacientes com tratamento em andamento, considera-se que as
estratégias de enfrentamento estiveram na média. Entretanto, ressalta-se a
importância do uso das estratégias de enfrentamento, visto que podem e devem ser aprendidas no contexto em
que a criança é educada, ou seja, na sua família de origem.
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