Estratégias de enfrentamento utilizadas para parar de fumar após diagnóstico de câncer: Dois estudos de caso.

Resenhado por Brenda Fernanda

Chaves, B. L., & Mendes, T. N. (2013). Estratégias de enfrentamento utilizadas para parar de fumar após diagnóstico de câncer: Dois estudos de caso. Psicologia Hospitalar, 11, 25-51. 


Sabe-se que o câncer ocasiona diversos danos à saúde, sendo atualmente avaliado como um evidente problema de saúde pública mundial. De todos os novos cânceres humanos diagnosticados, 5% situam-se na região de cabeça e pescoço. Algumas pesquisas (Fardin, 2003, Gilson, 2007 e Gervásio et al., 2001, citados por Castro, Nardi & Dedivitis, 2010), apresentam resultados que apontam a relação do sexo com a incidência de câncer nesta região, sendo os homens os maiores acometidos pela doença. No entanto, nos últimos anos tem-se verificado um aumento significativo na incidência entre mulheres, incitando a reflexão sobre a mudança dos hábitos femininos (Alvarenga et al., 2008; Castro et al., 2010). Além disso, algumas evidências mostram que a incidência do câncer de cabeça e pescoço aumenta com a idade.
No que diz respeito às estratégias de enfrentamento, elas não são utilizadas de forma isolada, e nenhuma é superior a outra para lidar com o estresse e com a dependência nicotínica. Cada estratégia tem seus prós e contras, a depender do indivíduo, de seu grupo social e do contexto que está vivenciando (Peçanha, 2008). Estudos evidenciam que os sujeitos, frente a situações estressoras, selecionam um número extenso de estratégias que, juntas, serão determinantes ao enfrentamento dessas situações (Folkman, Lazarus, Dunkel-Schetter, De Longis & Gruen, 1986, citados por Savoia, Santana & Mejias, 1996).
A definição teórica de Estratégias de Enfrentamento (Coping) mais reconhecida e abrangente entre todas é o modelo cognitivista elaborado por Folkman e Lazarus (1988, citado por Staniscia, 2011), que se refere ao enfrentamento como um conjunto de esforços cognitivos e comportamentais utilizados pelos indivíduos com a finalidade de lidar com demandas específicas internas ou externas que podem ser avaliadas pelo indivíduo como sobrecarregantes ou excedentes de seus recursos pessoais (Junior, 2009; Staniscia, 2011).
Especialmente no contexto de parar de fumar tem-se observado em estudos que o enfrentamento apropriado pode prevenir a recaída do uso do tabaco. O presente estudo relaciona-se a dois estudos de caso, de caráter descritivo, que teve como objetivo investigar as principais estratégias de enfrentamento empregadas por dois sujeitos com câncer de cabeça e pescoço para parar de fumar após receberem o diagnóstico da doença. Um dos sujeitos era do sexo masculino e o outro do sexo feminino, ambos ex-tabagistas que realizaram o tratamento para o câncer em um hospital especializado. A coleta de dados foi realizada através da utilização de dois instrumentos, uma entrevista semi-estruturada e o Inventário de Estratégias de Enfrentamento de Folkman e Lazarus (1985, adaptado por Savoia, Santana & Mejias, 1996).
Em relação ao sujeito 1, sexo masculino, 57 anos, como resultados dos dados do Inventário de Estratégias de Enfrentamento do Folkman e Lazarus, constatou-se que as três Estratégias de Enfrentamento mais utilizadas foram: Aceitação de responsabilidade (se responsabiliza pelo comportamento de parar de fumar), Resolução de Problemas (tentativa de usar técnicas para manejar o fim do tabagismo) e Reavaliação positiva (as estratégias procuram avaliar o que tem de positivo no comportamento de parar de fumar). Sobre o sujeito 2, sexo feminimo, 69 anos, concluiu-se, com base nos dados da entrevista ( houve dificuldade da participante em compreender algumas informações do Inventário), que as estratégias de enfrentamento mais utilizadas foram: Afastamento (há um afastamento dos estímulos que remetem à vontade de fumar) e Autocontrole (há uma crença de que deve, simplesmente, haver um auto-controle para parar de fumar).
Os dados da presente pesquisa corroboraram a importância das estratégias de enfrentamento como suporte para extinção do tabagismo. Lazarus e Folkman (1984, citado por Staniscia, 2011) afirmam que todas as estratégias de enfrentamento (exceto afastamento) são utilizadas no momento inicial de contato com a doença, pois os sujeitos se encontram diante de uma situação estressora nova e possuem energia emocional para recorrer a todos os tipos de recursos de enfrentamento disponíveis. No entanto, observou-se na presente pesquisa que a única estratégia que os sujeitos não utilizaram foi o Confronto, no qual o indivíduo acredita que tem que enfrentar a abstinência do tabaco sem se afastar das situações de risco. As demais estratégias  foram empregadas, em graus diferentes para cada caso, com base na necessidade de cada um dos sujeitos.

Diante do exposto, esse estudo poderá contribuir para que equipes de saúde e, principalmente, psicólogos da saúde, norteiem ações e criem programas antitabagismo específicos, com intervenções pontuais e que terão maior chance de serem bem-sucedidas.

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