O consumo de álcool como fator de risco para a transmissão das DSTs/HIV/Aids.
Resenhado
por Mariana Menezes
Cardoso, L. R. D., Malbergier, A., & Figueiredo, T. F. B. (2008). O
consumo de álcool como fator de risco para a
transmissão das DSTs/HIV/Aids. Revista de Psiquiatria Clínica, 35, 70-75.
O consumo de álcool no Brasil
é uma prática frequente. Um levantamento feito em 2005 pelo Cebrid/Unifesp
sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil indicou que 74,6% dos brasileiros
já fizeram uso de álcool alguma vez na vida. O consumo de álcool é classificado
em beber moderado, binge, beber pesado e beber esporádico. O consumo moderado é
caracterizado pela ingestão de até 15 doses semanais para homens e 10 doses
semanais para mulheres, sendo que os homens não devem ultrapassar o consumo de
três doses diárias e as mulheres de duas doses diárias. Nesse padrão, ambos não
devem trazer risco para si ou terceiros. O binge é o consumo equivalente a
cinco doses de bebida alcoólica para homens e quatro para mulheres em um período
determinado de tempo. Já o beber pesado se trata do consumo diário e excessivo
da substância. Para todas essas definições, devem-se considerar o tempo que a
pessoa levou para consumir cada dose e seu peso corporal.
Por ser uma droga psicotrópica
depressora do sistema nervoso central, o álcool atua de modo a diminuir as
atividades cerebrais, estando por isso, associada a redução da ansiedade, desinibição
e aumento da loquacidade, o que facilita certos atos difíceis de serem
realizados sem o efeito de bebidas alcoólicas. A relação entre uso de álcool
antes ou durante o ato sexual geralmente é justificada pela crença de que o
consumo dessa substância poderia favorecer um desempenho sexual desejável e
aumentaria o prazer. Essa associação tem sido relatada como um fator de risco
para infecção das DSTs/HIV/Aids, pois pessoas que consomem bebidas alcoólicas
em contextos nos quais praticam sexo tendem a não utilizar preservativo nos
atos sexuais, a trocar de parceiros com mais frequência, a ter parceiro casual
e a praticar sexo em grupo e sexo anal.
A capacidade de discernir os
riscos associados à infecção pelo HIV também é prejudicada pelo consumo
alcoólico, o que dificulta a negociação e uso do preservativo, facilitando a
disseminação do vírus HIV e de outras DSTs. Já é sabido que indivíduos
alcoolizados têm mais chance de praticar sexo sem preservativo do que
indivíduos não alcoolizados, no entanto, outro fator relevante nessa associação
é a quantidade consumida antes ou durante o ato sexual. A característica do
beber pesado mostra-se como um diferencial no engajamento de comportamento
sexual de risco para infecção pelo HIV. Pessoas que bebem pesado têm mais
chance de se envolver em comportamento sexual de risco do que pessoas que não
apresentam esse padrão de consumo. Porém, tanto o beber pesado quanto o beber
moderado também estão associados à prática de sexo sem preservativo, múltiplos
parceiros, parceiro casual, prática sexual com profissionais do sexo e uso de
drogas injetáveis.
Além do padrão de consumo, outro
fator associado à prática de sexo sob efeito de álcool é o local onde o
indivíduo consome a bebida. Os locais apontados como facilitadores para o
consumo de álcool associado com atividade sexual estão vinculados a atividades
sociais, principalmente noturnas, como bares, boates, danceterias e clubes. Também
há relação entre gênero e comportamento sexual de risco. De modo que homens
tendem a se engajar com mais frequência em comportamento sexual de risco quando
estão alcoolizados do que mulheres. No entanto, mulheres também tendem a
emitir comportamento sexual de risco quando estão sob efeito do álcool, embora
consumam bebidas alcoólicas com menor frequência. Já entre os
adolescentes, o consumo de álcool vem sendo associado com o início precoce das
atividades sexuais. Quanto mais precoce se dá o início do uso de álcool,
maiores são as chances de o adolescente se engajar em comportamentos sexuais de
risco.
Para finalizar, diante do que
foi discutido, conclui-se que o uso de álcool associado ao comportamento
sexual se mostra como um fator de risco para disseminação das DSTs/HIV/Aids,
doença que se caracteriza como um grave problema de saúde pública em vários
países, inclusive no Brasil. Assim, quando o sexo é praticado sob efeito de
álcool, as pessoas tendem a ter vários parceiros e a não utilizar preservativo.
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