Coping religioso-espiritual e consumo de alcoólicos em hepatopatas do sexo masculino.
Postado por Laís
Almeida
Martins, M. E., Ribeiro,
L. C., Feital, T. J., Baracho, R. A., & Ribeiro, M. S. (2012). Coping
religioso-espiritual e consumo de alcoólicos em hepatopatas do sexo masculino. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 46, 1340-1347.
doi: 10.1590/S0080-62342012000600009
O
coping religioso/espiritual é a utilização de crenças e práticas religiosas e
espirituais como recurso facilitador da resolução de problemas, que previne ou
alivia as consequências emocionais negativas de fatores estressantes. O uso
abusivo do álcool é causa estimada de aproximadamente 4,5% das incapacidades e
3,8% do total de mortes no mundo em 2004 e, no ano seguinte, a taxa de mortalidade
por cirrose hepática alcoólica na população brasileira acima de 15 anos de
idade foi de 24,4 por 100.000 para homens e 4,7 para mulheres. O texto aponta
que pessoas mais religiosas tendem a consumir álcool com menor frequência e a
apresentar menos problemas relacionados ao uso. Levando em conta a escassez de
estudos com populações clínicas e com amostras brasileiras, o objetivo do
artigo foi avaliar o uso do coping religioso/espiritual em pacientes adultos
portadores de hepatopatias e verificar sua possível modulação pelo consumo de
álcool.
O
estudo foi do tipo transversal e abrangeu 123 pacientes em processo de
avaliação diagnóstica ou tratamento no ambulatório de hepatologia na
Universidade Federal de Juiz de Fora. Participaram da pesquisa homens de idade
entre 20 e 59 anos que frequentaram até pelo menos a 5ª série do ensino
fundamental. Os instrumentos utilizados foram: 1) questionário estruturado e
autoaplicável relativo aos aspectos sócio-demográficos; 2) questionário CAGE de
rastreamento de possível Síndrome de Dependência a alcoólicos na vida; 3)
Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT) e 4) Escala de coping
religioso/espiritual (CRE).
Os
resultados apontaram que a denominação religiosa se correlacionou de forma
significante aos índices utilizados para avaliação do coping
religioso/espiritual. Protestantes e evangélicos estiveram em maior número
dentre os pacientes com maior uso tanto de coping positivo quanto negativo;
católicos estiveram mais presentes dentre os que fizeram menor uso do coping
negativo e os que informaram não possuir religião utilizaram predominantemente
estratégias de coping negativo, que incluem reavaliações negativas da ideia de
Deus e insatisfação com as instituições religiosas.
A
pesquisa mostrou que a associação entre a alta frequência a serviços religiosos
e uso do coping religioso-espiritual indica o envolvimento com estratégias que
vão desde a relação positiva com a ideia de Deus e ritos religiosos até a
transformação pessoal e oferta de ajuda do outro. O uso da dimensão positiva e
da negativa do coping religioso-espiritual pelos hepatopatas indicam que
eventos estressantes podem mobilizar tanto um quanto outro, de forma que a
pessoa pode interpretar uma experiência estressora tanto como “provação de
Deus”, quanto por castigo. A utilização de estratégias de coping
religioso-espiritual tende a apresentar razão direta em relação ao número de
problemas de saúde física ou mental que a pessoa apresenta, que no caso desse
estudo foram doenças hepáticas e alcoolismo. É necessário considerar modulações
no uso do coping religioso-espiritual tanto negativo quanto positivo, pois há a
possibilidade de resultados indesejáveis no estado de saúde dos sujeitos.
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