Abordagem centrada na pessoa – relação terapêutica e processo de mudança
Borja-Santos, C. (2004). Abordagem centrada na pessoa – relação terapêutica e processo de mudança. PsiLogos, 1(2), 18-23. doi: 10.25752/psi.6071
Resenhado por Amanda Feitosa
A abordagem centrada na pessoa (ACP) surgiu como
uma tendência contrária aos paradigmas comportamentais e psicanalíticos
predominantes. Criada por Carl Rogers na década de 40, buscou uma forma de
encarar o indivíduo diferente das teorias dominantes da época. Enquanto o
behaviorismo condicionava o comportamento humano a fatores externos e a
psicanálise responsabilizava fatores internos, esta abordagem humanista considerou
o ser humano como dotado de liberdade e poder de escolha. Rogers acreditava que
o indivíduo - mesmo em situações adversas - possui a capacidade de autonomia e
determinação, sendo um ser motivado para um processo construtivo. Atualmente, a
ACP não se restringe somente à psicoterapia, podendo ser aplicada em diversos
contextos, a saber: relações familiares e áreas relacionadas à aprendizagem.
Assim, este estudo objetivou revisar os principais conceitos trazidos por esta
abordagem.
A ACP ressalta a importância da experiência
subjetiva e pré-reflexiva como critério de conhecimento. Ou seja, é papel do
terapeuta partir do ponto de vista do paciente, procurando sua compreensão de
si e do mundo. Diferente de outras abordagens, esta atitude é a base do
processo terapêutico. A aproximação com o indivíduo através da empatia é um
tipo particular de compreensão, não sendo considerada somente uma etapa inicial
da psicoterapia ou um instrumento que sirva para fortalecer a relação
terapeuta-paciente. A compreensão empática permite transmitir ao paciente os
elementos necessários que lhe deem poder de autodireção. Rogers considerava
esta relação com o paciente como uma experiência profunda de aprendizagem, que
lhe permitiu observar a tendência natural para o crescimento e para a
socialização dos indivíduos.
Além disso, o estudo salientou a tendência
atualizante e a não-diretividade como conceitos essenciais da ACP. Rogers destaca
que nas condições adequadas, o indivíduo possui potencial para se desenvolver
de forma construtiva. A tendência atualizante é um conceito motivacional de sua
teoria, sendo todas as motivações e necessidades do indivíduo uma expressão
desta tendência. É importante ressaltar a necessidade de um meio que permita o
desenvolvimento desta personalidade construtiva. Por sua vez, a
não-diretividade é a atitude do terapeuta de criar as condições adequadas para
que o paciente possa se reorganizar e encontrar sua própria direção. Caso a
pessoa não tenha um referencial de acolhimento e respeito, ela pode ter uma
imagem distorcida de si, falseada por trazer como critérios de avaliação a
experiência de outros. Logo, o principal objetivo da relação terapêutica é
restabelecer o acordo entre a experiência total da pessoa e a experiência
consciente do self, o qual se desenvolveu afastado da realidade do indivíduo.
A abordagem centrada na pessoa acredita na tendência individual de crescimento e de autorrealização. Para os psicólogos da saúde, a exemplo dos que atuam na área hospitalar, estes podem se beneficiar dos pressupostos da ACP no processo de realização de acolhimentos e abordagens clínicas. Os profissionais deste campo também podem auxiliar na formulação de políticas públicas com base na abordagem humanista e sugestões para abordagens em contexto de saúde, como propostas de acolhimento.
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