Arteterapia: A arte como instrumento no trabalho do psicólogo

 

Reis, A. C. (2014). Arteterapia: A arte como instrumento no trabalho do psicólogo. Psicologia: Ciência e Profissão, 34, 142-157, doi:10.1590/S1414-98932014000100011

Resenhado por Márcio Diego Reis

Área de atuação profissional que emprega recursos artísticos com finalidade terapêutica por meio de técnicas expressivas, a arteterapia tem como essência a criação estética e a elaboração artística em benefício da saúde. Estabelecida como um dos métodos de trabalho do psicólogo, a arteterapia pode ser adaptada a diferentes objetivos e sustentada sobre diferentes abordagens teóricas que a reconhecem como meio de autoconhecimento e como potencializadora da criatividade, habilidade essencial ao desenvolvimento do indivíduo.

As teorias de Freud e Jung trouxeram as bases para o desenvolvimento da arteterapia como campo específico de atuação. A ideia freudiana de que o inconsciente se expressa por meio de imagens levou à compreensão da arte como uma via de acesso privilegiada ao inconsciente. A mediação da arte na comunicação apresenta vantagens, entre as quais a expressão mais direta do universo emocional, por não passar pelo crivo da racionalização que acompanha o discurso verbal. Com isso, o objetivo do artigo foi refletir sobre a arte como uma ferramenta de trabalho do psicólogo, contextualizando-a historicamente e discutindo os pressupostos fundamentais que sustentam essa prática em suas principais abordagens teóricas.

Jung foi quem propriamente começou a usar a linguagem artística associada à psicoterapia, pois considerava a criatividade artística uma função psíquica natural e estruturante, cuja capacidade de cura estava em transformar conteúdos inconscientes em imagens simbólicas. Contudo, a educadora norte-americana Margareth Naumburg é quem pode ser considerada a fundadora da arteterapia por ser a primeira a sistematizá-la. No Brasil, Osório Cesar e Nise da Silveira foram os psiquiatras precursores no trabalho com arte junto a pacientes em instituições de saúde mental.

Desenvolvida a partir de diferentes referenciais teóricos, a arteterapia encontra em cada um deles um ponto em comum: seu uso como meio de expressão da subjetividade. Na abordagem psicanalítica a atividade pictórica favorece a projeção de conteúdos inconscientes, facilitando, por uma via simbólica, a comunicação entre paciente e terapeuta. Uma vez que ao iniciar um processo psicoterapêutico o paciente se encontre com o próprio discurso bloqueado devido as resistências, a arte vem a ser um canal que facilita a comunicação.

Na psicoterapia junguiana, a função da atividade artística é mediar a produção de símbolos do inconsciente. Os símbolos são verdadeiros transformadores de energia psíquica, o psicólogo acompanha a pessoa em seu caminho para a autorrealização, dialogando e procurando facilitar essa jornada através da arte.

Sendo a psicologia da gestalt originalmente uma teoria da percepção, em que a vivência artística tem como finalidade ampliar a percepção do sujeito sobre si mesmo, a função terapêutica do fazer artístico é a aquisição de insights sobre como percebemos, nas formas criadas, tanto o mundo como a nós mesmos. Dessa forma, a vivência de criar arte promove a descoberta de sentimentos e de qualidades pessoais, auxiliando no desenvolvimento do potencial único de cada um.

Assim, a arte tem se constituído como um instrumento diferenciado de trabalho do psicólogo. Seja a atividade artística concebida como projeção do inconsciente na psicanálise, seja expressão do self na psicologia analítica ou como função de contato na autopercepção dentro da gestalt-terapia, a arteterapia vem ganhando espaço cada vez maior na área da saúde apresentando-se como uma das ferramentas fundamentais na promoção do bem-estar da pessoa com sofrimento psíquico.



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