O terapeuta na psicoterapia de grupo

 Bechelli, L. P. D. C., & Santos, M. A. D. (2005). O terapeuta na psicoterapia de grupo. Revista Latino-Americana de Enfermagem13(2), 249-254. doi: 10.1590/S0104-11692005000200018 

Resenhado por Maísa Carvalho

Humanos são seres sociais e possuem o desenvolvimento a nível biopsicossocial potencializado ao iniciar a vida social. Diversos teóricos da Psicologia -  mesmo de abordagens que não focalizam propriamente no aspecto social - tais como Skinner, Vygotsky, Piaget, Wallon, Beck, Rank, Moreno, dentre outros, apontam a importância de uma vivência social plena e diversificada para o desenvolvimento como um todo. Além disso, algumas dificuldades e problemas psicológicos podem surgir da deficiência do aspecto social ou, até mesmo, podem fazer emergir limitações indiretamente associadas, por exemplo, a alexitimia. Do contrário, potencialidades e aspectos pessoais relevantes podem ser melhor ajustados em meio a uma vivência grupal. Pensando nisso, as psicoterapias grupais objetivam a melhora de sintomas ou o trabalho de determinados temas a partir da utilização do dispositivo grupal; sendo uma modalidade psicoterapêutica amplamente utilizada em distintos problemas e contextos.

 O papel e a atuação do psicoterapeuta diferem da forma tradicional no setting individual. Na psicoterapia grupal, o psicoterapeuta se constitui não só como um guia, mas também como parte do grupo. No início do processo psicoterapêutico grupal, o trabalho costuma ser maior, visto que os membros do grupo não se conhecem e podem possuir dificuldades iniciais de ajustamento, além do aproveitamento do processo. Dessa forma, o psicólogo, em colaboração com os membros, institui as normas, cultura, valores e formas de funcionamento do grupo, visando e incentivando a participação de todos no processo. Insta salientar que o psicólogo que trabalha com grupos tem o papel de facilitar a participação e interação dos membros, fortalecendo a expressão emocional imediata no aqui e agora. Além disso, medeia conflitos e assegura o cumprimento das regras decididas por todos. Portanto, especialmente nas primeiras sessões, o psicólogo deve promover condições para que os membros participem ativamente e consigam expressar suas emoções, sem censura e medo de se sentir humilhado pelos outros.

Ao longo do processo, o psicólogo busca ajustar as intervenções de acordo com as respostas e maturidade do grupo, desenvolvendo a interação, facilitando a expressão e envolvendo os membros pelo diálogo, inserindo tópicos em comum e analisando as interações grupais. Assim, aplica o princípio de interação terapêutica, o qual aborda que o relacionamento entre os membros do grupo é mais importante do que a interação com o psicoterapeuta. Um ponto a ser evitado é a atenção a um membro específico do grupo. Alguns membros tendem tomar o espaço da sessão racionalizando emoções, falando das suas vidas por muito tempo ou interrompendo a fala de outros participantes. Nessas situações podem existir membros que se sintam desmotivados ou com raiva, colocando em risco a coesão grupal. O psicólogo precisa ter habilidade para tentar neutralizar de forma compassiva essas situações, inclusive sugerindo psicoterapia individual concomitante para esses membros “monopolizadores”.

Existem diferentes situações que podem emergir durante o processo de psicoterapia grupal, tanto situações comumente esperadas quanto outras não tão comuns. Mesmo assim, a responsabilidade do psicoterapeuta é manter o grupo funcionando, encontrando soluções eficazes, intervindo no grupo e não de forma individual. Assim, possui um papel relevante, no entanto, não central. Os membros precisam encontrar auxílio entre si, sendo esse fator imprescindível para a melhor vivência grupal possível. Por fim, existem muitas evidências científicas que relacionam temas da Psicologia da Saúde e vivências grupais que sustentam a eficácia das psicoterapias grupais, sendo elas frequentemente utilizadas por psicólogos clínicos, comunitários e da saúde nos mais diversos níveis de atenção à saúde, como a atenção básica.



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