Análise comparativa entre a Terapia Cognitivo-Comportamental e a Terapia do Esquema

 

Ghisio, M. S., Lüdtke, L., & Seixas, C. E. (2016). Análise comparativa entre a Terapia Cognitivo-Comportamental e a Terapia do Esquema. Rev. Bras. Psicoter. (Online), 17-31. Recuperado em: https://cdn.publisher.gn1.link/rbp.celg.org.br/pdf/v18n3a02.pdf

Resenhado por Luanna Silva 

A Terapia Cognitivo-Comportamental foi desenvolvida na década de 60 por Aaron Beck. Essa abordagem pressupõe que a forma como os indivíduos interpretam o evento medeia o modo como se comportam. Beck propõe que representações negativas de si mesmo, do mundo e do futuro podem explicar a ocorrência da sintomatologia psicopatológica. A TCC é estruturada, diretiva, ativa, de prazo limitado e pode ser usada para tratar uma variedade de transtornos psiquiátricos. O engajamento e motivação do paciente são fatores essenciais para eficácia da TCC, contudo para pacientes caracterológicos, a capacidade de desenvolver novas habilidades, se comprometer com tarefas prescritas e adotar estratégias trabalhadas pode ser custoso. Assim, um dos desafios enfrentados pela TCC é o tratamento de pacientes crônicos e com transtornos de personalidade.

A Terapia de Esquema de Jeffrey Young surge com o objetivo de aperfeiçoar o modelo da terapia cognitiva e criar novas estratégias para o tratamento de pacientes mais rígidos, que não respondem bem a proposta padrão da TCC. Além de utilizar princípios da abordagem de Beck, a TE adota elementos da Gestalt-terapia, da psicodinâmica e conceitos da teoria do apego. De acordo com Young, os esquemas são a estrutura mais profunda do aparelho psíquico e direcionam os outros níveis de cognição. Esquemas iniciais desadaptativos são o centro dos transtornos psiquiátricos, são rígidos e difíceis de mudar. Eles são resultados de necessidades emocionais não atendidas na infância, como por exemplo, a necessidade de estabilidade ou carinho. Ainda que comecem a se formar na infância, os esquemas iniciais desadaptativos continuam em desenvolvimento durante toda a vida, não havendo a necessidade de um evento traumático para que sejam gerados, podendo surgir de eventos negativos regulares e constantes.

Young descreve 18 esquemas iniciais desadaptativos principais, os quais estão agrupados em cinco domínios. Pacientes com esquemas no domínio de conexão e rejeição são caracterizados pela incapacidade na formação de vínculos seguros. No domínio de autonomia e desempenho prejudicados, os esquemas se relacionam com dependência e sentimento de incompetência. Os esquemas do domínio de limite prejudicados colaboram para a falta de limites no cumprimento de regras, autodisciplina e respeito aos direitos alheios. Indivíduos com esquemas no domínio de orientação para o outro tendem a atender a necessidade de outras pessoas em detrimento da sua, a fim de receber aprovação e evitar retaliação. Por último, o domínio de supervigilância e inibição é marcado pela repressão de sentimentos e impulsos com o propósito de cumprir regras internas rígidas.

Diferente da TCC, a TE pode ser breve, médio ou longo prazo. Além disso, se observa na TE uma ênfase maior em questões da infância e adolescência como possível origem de problemas psicológicos. Em comparação com a TCC, essa abordagem envolve uso mais amplo da relação terapêutica e explora mais a experiência afetiva, como por exemplo através da utilização de imagens e dramatização. Adota-se uma postura de confrontação mais ativa dos padrões cognitivos e comportamentais e utiliza-se menos a descoberta guiada. O desenvolvimento da TE indica a necessidade de ampliação de possibilidades de tratamento de pacientes com problemas caracterológicos e transtornos de personalidade. Esse tipo de paciente pode ser um desafio para a prática do psicólogo da saúde, logo conhecer e estudar possibilidades de atenção a esse público se mostra relevante.



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