O impacto longitudinal de uma condição de saúde crônica física no bem-estar subjetivo
Debnar, C., Carrard, V., Morselli, D., Michel, G.,
Bachmann, N., & Peter, C. (2021). The longitudinal impact of a chronic
physical health condition on subjective well-being. Health Psychology, 40(6), 357–367. https://doi.org/10.1037/hea0001090
Resenhado por Ana Beatriz Silveira
Segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS), as condições crônicas de saúde física são definidas como problemas
que persistem por um período prolongado, como artrite, doenças
cardiovasculares, câncer e diabetes. Essas condições geralmente são
acompanhadas por comorbidades psicológicas e demandam um ajustamento
psicológico do paciente a elas. O ajustamento psicológico a alguma adversidade,
como o diagnóstico de uma doença crônica, deve ser avaliado de forma
multidimensional visto que estudos anteriores demonstraram que a presença de
sintomas negativos não necessariamente significa a ausência de afeto positivo
ou avaliação negativa sobre a própria vida. Além disso, a temporalidade
mostra-se fator importante na avaliação do ajustamento, pois este é um processo
que se desdobra ao longo de vários anos.
O estudo buscou descrever o processo
multidimensional e longitudinal do ajustamento psicológico, avaliando
diferentes tipos de condições físicas crônicas através do estabelecimento de
perfis de autopercepção de bem-estar a partir dos dados coletados, as mudanças
desses perfis ao longo do tempo e o que explica essas mudanças. A amostra foi
composta por 356 participantes que apresentaram diagnóstico de condição física
crônica não congênita entre 2009 e 2011, tendo uma média de idade de 54 anos um
ano antes do diagnóstico. Foram encontrados quatro perfis de bem-estar
subjetivo: muito alto, alto, baixo e vulnerável. Um ano antes do diagnóstico, a
amostra obteve maiores níveis de bem-estar do que um ano após, mostrando que a
presença de uma doença física crônica aumenta o risco de menor bem-estar
subjetivo. Isso reafirma o que dizem vários relatórios: a proporção de
indivíduos com menor bem-estar após um evento negativo tem sido subestimada em
estudos passados.
No tocante à transição entre os
perfis de menor e maior bem-estar ao longo do tempo, até um ano após o
diagnóstico houve tendência de permanência no mesmo perfil, o que pode significar
que níveis de bem-estar anteriores ao diagnóstico influenciam o ajustamento
psicológico à doença. Do segundo ao quarto ano após o diagnóstico houve maior
variação no bem-estar, sugerindo recuperação deste devido à adaptação ou sua
diminuição devido a uma reação tardia do paciente à doença, o que destaca a
necessidade de cuidado e acompanhamento a longo prazo de pessoas vivendo com
essas condições.
Em relação aos fatores preditivos dessas
variações, uma maior estabilidade emocional demonstrou ser fator protetivo
contra a diminuição tardia do bem-estar. Ao passo que um melhor status de saúde e menos eventos
negativos durante a vida estão relacionados à recuperação de maiores níveis. Em
contraste com a literatura anterior, a escassez financeira mostrou-se preditora
de melhora no bem-estar do segundo ao quarto ano após o diagnóstico, o que pode
ser explicado pelo fato de que esse fator foi avaliado apenas um ano antes do
diagnóstico, não refletindo a condição atual dos participantes.
Com isso, o artigo levanta pontos pertinentes sobre o estudo
do ajustamento a doenças crônicas, como a necessidade de corrigir a
subestimação das proporções de pacientes com baixo bem-estar e a importância de
se integrar traços de personalidade na avaliação do paciente. Isso ajuda a
caracterizar melhor aqueles que são de maior risco, o que poderá auxiliar no
avanço dos estudos e intervenções da Psicologia da Saúde sobre esse aspecto
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