Qualidade de vida e diabetes mellitus: Autopercepção de adolescentes em uma cidade do sul do Brasil

 

Menezes, M., Lacerda, L. L. V. D., Borella, J., & Alves, T. P. (2019). Qualidade de vida e diabetes mellitus: autopercepção de adolescentes de uma cidade do sul do Brasil. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 35. https://dx.doi.org/10.1590/0102.3772e35430.

 

Resenhado por Luíza Ramos

 

            A diabetes mellitus (DM) configura-se como um grupo heterogêneo de distúrbios metabólicos que possui em comum a hiperglicemia, resultado de defeitos na secreção ou na ação da insulina. A diabetes tipo 1 (DM1) é caracterizada pela produção deficiente de insulina no corpo, com início na infância. Na adolescência, especificamente, esta doença tende a se tornar especialmente estressora, uma vez que é um período marcado por redescobertas do corpo, das potencialidades e limites e da capacidade de se definir como elemento de atração e relação com os outros. Assim, a problemática da doença e o tratamento podem levar o jovem a se definir como particularmente diferente e “anormal” face ao grupo de pares, além de apresentarem dificuldade emocional para lidar com a doença, afetando a qualidade de vida. Essa qualidade de vida é definida como um construto que abarca o ajustamento psicossocial, bem-estar, autoestima, estresse e estratégias de enfrentamento. O objetivo do texto foi avaliar a qualidade de vida em relação à saúde em adolescentes diagnosticados com diabetes mellitus do tipo 1.

            Os dados foram coletados em duas Unidades de Atenção Secundária em Saúde de uma cidade no sul do Brasil, com pessoas diagnosticadas com DM1 com idades entre 10 e 18 anos. A amostra foi composta por 20 adolescentes de ambos os sexos. Foi aplicado o Questionário de Qualidade de Vida KIDSCREEN-52, que é composto por dimensões que relacionam a qualidade de vida à saúde e atividade física, a sentimentos, ao estado emocional, à autopercepção, à autonomia e tempo livre, à família e ambiente familiar, a questões econômicas, a amigos e apoio social, ao ambiente escolar e aprendizagem e ao bullying.

O escore médio geral da percepção de qualidade de vida dos adolescentes apresentou-se elevado, mesmo considerando a DM1. Isso pode ser atribuído ao fato de os participantes não estarem hospitalizados e todos estarem fazendo o acompanhamento ambulatorial para o tratamento da diabetes. Na relação da DM1 com a qualidade de vida, o controle da glicemia representa uma medida importante, visto que evita a probabilidade de ocorrência de crise aguda e evita o desenvolvimento precoce de complicações crônicas, possibilitando uma percepção de qualidade de vida mais positiva. Curiosamente, dimensões como bullying e autonomia apresentaram escores altos, indicando que os adolescentes se sentiam capazes de gerir suas rotinas e não se sentiam provocados ou rejeitados pelo grupo de pares.

O escore médio mais baixo foi observado na dimensão saúde e atividade física, que se refere ao nível de atividade, energia e aptidão física do adolescente. A baixa pontuação relaciona-se à sensação de exaustão física e baixa energia, e a não se sentir bem e em forma fisicamente. Em relação ao gênero, a dimensão estado emocional foi a pior avaliada pelas meninas, indicando percepção de sentimentos como solidão, tristeza e insuficiência. Já entre os meninos, a dimensão autopercepção foi a de menor escore, o que pode indicar insatisfação com a imagem corporal e baixa autoestima. Isso se deve à possibilidade de terem sido influenciados pelo ideal de aparentar um corpo musculoso, mais comum entre os homens, que não pode não ser atingido em decorrência da diabetes e das imposições do tratamento.

Em suma, estudos como este mostram-se relevantes para a Psicologia da Saúde, uma vez que promove a investigação de aspectos psicológicos diante de um diagnóstico de doença física. Assim, técnicas e intervenções podem ser aprimoradas com a finalidade de promover mais qualidade de vida para adolescentes com diabetes.

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