Associação de intolerância a alimentos com síndrome do intestino irritável, sintomas psicológicos e qualidade de vida
Jansson-Knodell, C. L.,
White, M., Lockett, C., Xu, H., & Shin, A. (2022). Associations of food
intolerance with irritable bowel syndrome, psychological symptoms, and quality
of life. Clinical Gastroenterology and
Hepatology, 20(9).
https://doi.org/10.1016/j.cgh.2021.12.021
Resenhado por Luiz Fernando de Andrade Melo
Intolerância
a alimentos é uma resposta não imunológica adversa à alimentação e com uma gama
de sintomas variados como flatulência, dor abdominal, inchaço e diarreia. A
intolerância à lactose constitui ao tipo de intolerância mais frequente, sendo
caracterizada pela má digestão provocada pela deficiência da enzima lactase no
organismo. Embora as diversas intolerâncias a comidas sejam prevalentes na
população, há ainda lacunas sobre sua relação com outros aspectos da saúde dos
indivíduos como sua influência na qualidade de vida. Com isso, este estudo
buscou analisar a relação entre intolerância a alimentos com a síndrome do
intestino irritável, ansiedade, depressão e a qualidade de vida.
Foram
incluídos 470 participantes, separados em dois grupos: um com 197 que havia
algum tipo de intolerância e outro com 273 sem nenhum tipo de intolerância.
Seus dados foram coletados através do Charlson
Comorbodity Index para avaliação de sintomas gastrointestinais e avaliação
médica. Para verificar a presença da síndrome do intestino irritável foi
utilizado o Rome IV Diagnostic
Questionnaire. Já para aspectos psicológicos usou-se a Hospital Anxiety and Depression Scale – HADS para mensurar os
níveis de ansiedade e de depressão e o Short-Form
Health Survey 12 – SF-12 para avaliar a qualidade de vida a partir do
relato de saúde física e mental. Ademais, as análises consistiram em regressões
lineares, testes t e análises
multivariadas secundárias.
Os
resultados da pesquisa demonstraram que pessoas com algum tipo de intolerância
a comida têm maior probabilidade de ter a síndrome do intestino irritável,
sendo que intolerantes à lactose com outro tipo de intolerância possuem chances
ainda maiores. Os escores de ansiedades e depressão foram os maiores entre
aqueles que possuíam intolerância à lactose, especialmente nos indivíduos com
outra intolerância associada. Também foi visto que os escores da SF-12, que representam a qualidade de
vida, foram menores entre intolerantes à lactose que possuíssem outra
intolerância a alimentos em conjunto. Por fim, os resultados que compreendem
sintomas e comportamentos demonstraram que pessoas com intolerância
frequentemente eliminam alimentos, faltam o trabalho e buscam serviços médicos.
Os
achados revelam a importância de estudar as variáveis presentes no estudo. A
associação entre má digestão da lactose e a síndrome do intestino irritável
ainda é incerta, necessitando de maiores pesquisas que analisem profundamente
tal relação, suas causas e seus impactos. Já no caso dos sintomas psicológicos,
podem ser levantadas hipóteses que expliquem os resultados obtidos, mas que
salientam a relevância de estudos nesse sentido. Algumas delas incluem o papel
do metabolismo do L-triptofano na síntese de serotonina, o efeito da ansiedade
na percepção dos sintomas da intolerância e as mudanças na dieta que interferem
na regulação do estresse, da inflamação e da produção de cortisol. Além disso,
os sintomas gastrointestinais e a qualidade de vida física podem estar ligados
com a relação entre intolerância e bem-estar mental, mas é necessário pesquisar
variáveis presentes nessa relação.
Em resumo, o estudo se mostra relevante e pode servir de base para pesquisas futuras que preencham as lacunas encontradas na literatura. Ele também é importante porque aborda aspectos psicológicos relacionados à saúde física e problemas do sistema digestivo. Desse modo, a Psicologia da Saúde poderá tê-lo como referência para intervenções clínicas que reduzam o estresse sofrido por pacientes intolerantes e facilitem sua adesão a dietas e à reeducação alimentar.
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