Eventos traumáticos e infância: Uma revisão narrativa
Menezes, M. S., & Faro, A. (2023). Eventos traumáticos e infância: Uma revisão narrativa. In A. Faro, E. Cerqueira-Santos, J. Tejada, & J. P. Silva (Orgs.). Pesquisas em psicologia, saúde e sociedade (1th ed., pp. 16-34). Edições Concern. http://dx.doi.org/10.13140/RG.2.2.14335.07841
Resenhado por
Beatriz Oliveira
Eventos traumáticos (ET) são aqueles que
ocorrem de maneira inesperada e proporcionam ao indivíduo uma experiência de
estresse intensa. São exemplos de eventos como esses a perda de entes queridos
de maneira trágica, uma mudança de residência forçada, ataques de animais,
exposição a situações humilhantes, violências físicas ou sexuais. Vivências
como essas são consideradas traumáticas uma vez que superam a capacidade de
enfrentamento da pessoa, exigindo uma reorganização da sua vida. Os ET são
fortes indicadores de trauma psicológico (TP). O TP está relacionado à
percepção do indivíduo diante da situação estressora, de modo que ele avalia e
interpreta o evento como algo ameaçador e catastrófico, bem como está associado
aos pensamentos e sentimentos negativos desencadeados a partir da experiência.
Quando ET ocorrem na infância ou adolescência
podem acabar interferindo no desenvolvimento saudável, com consequências
físicas, psicológicas, comportamentais, cognitivas e sociais que não se limitam
apenas a essas fases, mas que podem persistir até a fase adulta. O objetivo
deste capítulo foi, a partir de uma revisão narrativa, reunir achados a
respeito dos tipos mais comuns de ET, suas repercussões psicológicas, sociais e
físicas, seus impactos à saúde mental, variáveis de enfrentamento e adaptação
positiva diante dos eventos e as medidas mais utilizadas para sua avaliação.
Em relação aos ET mais recorrentes, foi
encontrado desastres ou tragédias, perda inesperada de pessoas próximas e
violência interpessoal (física, sexual, negligência e abuso psicológico).
Observou-se que alguns grupos estão mais vulneráveis à experiência de
determinados ET no Brasil. Por exemplo, crianças e adolescentes são as
principais vítimas de violência interpessoal. A maioria das pessoas que sofrem
violência sexual são do gênero feminino. Idosos, população infantojuvenil e
pessoas com alguma condição de saúde incapacitante são as que mais sofrem com
abandono e negligência. Quanto aos prejuízos à saúde mental, foi observado uma
predisposição das pessoas expostas a ET para o desenvolvimento de transtornos
de depressão, de ansiedade, de personalidade, de estresse pós-traumático e
trauma complexo. Já as estratégias de enfrentamento que poderiam auxiliar no
manejo dos efeitos negativos dos ET foram resiliência, coping, suporte social e
crescimento pós-traumático.
A revisão apontou algumas das repercussões
dos ET, podendo ser (1) físicas, como: atraso do crescimento e desenvolvimento
físico, doenças dermatológicas e doenças sexualmente transmissíveis; (2)
psicológicas, associadas às alterações cognitivas (redução da capacidade de
concentração e atenção), emocionais (maior experiência de sentimentos
negativos) e comportamentais (autolesão); (3) sociais, relacionada ao
engajamento em comportamentos de risco, antissociais e agressivos. Por fim, foi
listado alguns dos instrumentos disponíveis para a avaliação dos ET. Em âmbito
internacional, há o Child Trauma
Interview (CTI) e a Retrospective
Assessment of Traumatic Experience (RATE). Já no contexto brasileiro,
tem-se o Questionário Sobre Traumas na Infância (QUESI), o Early Trauma Inventory (ETI), bem como sua versão reduzida, o Early Trauma Inventory Self Report – Short
Form (ETISR-SF) e a Escada de Cuidado (EC).
Os pontos abordados neste capítulo deixam
evidente os impactos significativos à saúde e ao desenvolvimento que podem ser
experimentados por aqueles que foram expostos a ET. Estudos como este são
essenciais para que profissionais da saúde, especialmente psicólogos, possam
nortear suas práticas, a fim de proporcionar um melhor cuidado às pessoas que
foram vítimas de ET e lidam com suas consequências em diferentes âmbitos.
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