Impactos do Bullying na Autoestima e Autoimagem
Albuquerque,
P. P. de ., & Fragelli, R. M. . (2023). Impactos do bullying na autoestima
e autoimagem. Revista Psicologia E Saúde,
14(4), 57–69. https://doi.org/10.20435/pssa.v14i4.1844
Resenhado por Hugo
Vinicius Santana Batista
O bullying é um tipo de violência entre pares, no qual
ações físicas e sociais negativas são cometidas de forma intencional e
repetitiva contra um indivíduo. Um alto número de estudantes relata já ter sido
vítima de bullying devido à sua aparência física, especialmente escolares do
gênero feminino. A autoestima e autoimagem são de extrema importância para a
compreensão das repercussões de tais situações nos adolescentes. Por essa
razão, o seguinte estudo teve como objetivo investigar, retrospectivamente, a
ocorrência de bullying motivado por aparência física e seus impactos no
bem-estar de estudantes por meio dos níveis de autoimagem e autoestima
Realizou-se uma pesquisa com 107 estudantes de uma
universidade pública do interior de Minas Gerais. Foi utilizado como
instrumento o “Questionário Violência
entre pares na adolescência e construção de autoimagem”, construído pelas
autoras. O instrumento se divide em três partes, com itens relacionados à
violência, aparência física, autoestima e autoimagem dos participantes. Para
analisar os dados, utilizou-se estatística descritiva, teste Qui Quadrado para avaliar a relação entre diferentes variáveis
analisadas na pesquisa (como gênero e bullying), além do teste t de Student de amostras independentes,
para comparar os níveis de autoestima e autoimagem nos que vivenciaram bullying
e os que não vivenciaram.
De
acordo com os resultados, observou-se que 66,4% dos participantes afirmaram ter
sido alvos de bullying na adolescência. Dos aspectos da aparência das vítimas que possam ter
motivado a experiência de bullying, o peso, formato corporal, formato do
cabelo e gênero foram os mais relatados. De forma mais específica, 36,4% do público
masculino indicou ter sido alvo de violência especialmente por aspectos
relacionados a peso corporal, ao passo que o público feminino apontou gênero
(35,1%) e tipo capilar (32,4%) como pretexto para a violência. Cabe destacar
que, dentre os resultados, houve relação significativa entre vivência de
bullying e o nível de autoestima (t(105)=3,05,p=0,003), porém não existiu
relação relevante entre o bullying e o nível de autoimagem
(t(105)=0,28,p=0,78), o que se diferencia de estudos da mesma vertente.
Essas evidências permitiram reafirmar estreita relação
com padrões sociais e culturalmente valorizados, em que as diferenças e
diversidades não são toleradas. Em relação aos resultados dos aspectos da
aparência, a imagem corporal também pode estar relacionada ao bullying, visto
que na adolescência, também existe uma demanda por um “corpo ideal”. Assim,
qualquer causa que diferencie o jovem do seu grupo de amigos pode ser
vivenciada como algo perturbador. Descobertas relacionadas a preocupações e
comportamentos com a imagem corporal são de extrema importância para o
desenvolvimento de intervenções promotoras de saúde e satisfação do corpo com
adolescentes.
A importância do estudo se dá pela contribuição às
pesquisas que relacionam bullying e seus impactos nos adolescentes, visto que é
uma situação que reverbera em diversos âmbitos da vida desse grupo, inclusive
na saúde mental. A pesquisa, além de contribuir com a psicologia da saúde no
sentido da melhor compreensão de transtornos que envolvem a autoimagem na
adolescência, como o transtorno dismórfico corporal, também pode servir como
base para programas de prevenção à violência nas escolas. Trabalhos de
prevenção, intervenção e acompanhamento devem envolver não só a comunidade
escolar, mas a família e a sociedade como um todo, o que faz com que o
profissional da psicologia tenha um papel essencial nesse contexto.
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