Prevalência e preditores de ansiedade e sintomas depressivos entre pacientes diagnosticados com câncer bucal na China
Yuan, L., Pan, B., Wang, W., Wang, L.,
Zhang, X., & Gao, Y. (2020). Prevalence and predictors of anxiety and
depressive symptoms among patients diagnosed with oral cancer in China: A
cross-sectional study. BMC
Psychiatry, 20(1), 1-15. https://doi.org/10.1186/s12888-020-02796-6
Resenhado por Gessica Natalia Andrade Leal
O câncer bucal é um termo amplo que engloba as neoplasias da
cavidade oral e orofaríngea, a exemplo dos carcinomas do assoalho da boca,
palato e bochecha. O diagnóstico da doença é um grande estressor que pode
influenciar no desenvolvimento de sintomas significativos de ansiedade e
depressão, quadros clínicos em saúde mental que interferem na capacidade de
adaptação à doença. Alguns fatores têm sido associados à ocorrência de transtornos
ansiosos e depressivos nesses pacientes, tais como variáveis sociodemográficas
e o estigma vivenciado por eles. Por outro lado, recursos psicológicos
positivos como esperança, autoeficácia, otimismo e apoio social podem atenuar o
desenvolvimento dos quadros mencionados.
Diante desse cenário, foi realizado um estudo transversal entre
maio de 2016 e outubro de 2017 com 230 pacientes diagnosticados com câncer
bucal, em dois hospitais da China. Seu objetivo foi explorar a prevalência de
ansiedade e sintomas depressivos dentre esses pacientes, além de investigar os
principais fatores preditivos associados aos sintomas ansiosos e depressivos. A
hipótese do estudo é que a ansiedade e os sintomas depressivos estão negativamente
associados à percepção de estresse e estigma, além de positivamente associados
à percepção de apoio social, autoeficácia, otimismo e esperança.
As características sociodemográficas e clínicas foram coletadas
através de um questionário geral, a ansiedade foi mensurada pela Zung Self-Rating Anxiety Scale (SAS) e os sintomas depressivos pela Center for Epidemiologic Studies Depression
Scale (CES-D). A esperança, o estigma social, o suporte social, o otimismo,
o estresse percebido e a autoeficácia foram mensurados, respectivamente, pelos
seguintes instrumentos: Herth Hope Index (HHI), Social Impact Scale, Multidimensional
Scale of Perceived Social Support (MSPSS), Revised Life Orientation Test (LOT-R), Perceived Stress Scale-10 (PSS-10) e General Perceived
Self-efficacy Scale (GSE).
A prevalência de sintomas
ansiosos foi de 36% e de sintomatologia depressiva foi de 65%. Quanto às
variáveis sociodemográficas, foi identificado que os pacientes casados tinham maior
risco de desenvolver sintomas depressivos. Os resultados da regressão logística
indicaram que o estresse percebido foi associado tanto à sintomatologia
ansiosa, quanto depressiva. O estigma, principalmente a dimensão do isolamento
social, também foi associado às duas sintomatologias. Quanto aos recursos
positivos de enfrentamento, a esperança foi identificada como um fator
protetivo relativamente importante para sintomas depressivos, especialmente a
dimensão de prontidão positiva e expectativa. O otimismo foi considerado fator
de proteção para os sintomas de ansiedade. O suporte social e a autoeficácia
não mostraram relações significativas com os sintomas ansiosos e depressivos, refutando,
parcialmente, a hipótese inicial.
Os achados deste estudo são relevantes para a psicologia da saúde, pois reforçam que a vivência de uma doença como o câncer oral pode afetar o ajustamento psicológico do indivíduo, desencadeando sintomas de ansiedade e depressão em níveis de severidade importantes. Ao mesmo tempo, os achados apontam para intervenções que podem ser realizadas com esses pacientes, com o objetivo de reduzir o estresse percebido e o estigma, bem como aumentar os recursos positivos, especialmente o otimismo e a esperança.
Nenhum comentário: