Sou eu? O impacto das interações médico-paciente no bem-estar psicológico, na cognição e nos comportamentos de busca em cuidados com a saúde.
Resenhado por Susana Santana
Sloan, M., Naughton, F., Harwood, R., Lever, E., D’Cruz,
D., Sutton, S., Walia, C., Howard, P., & Gordon, C. (2020). Is it me? The impact of
patient–physician interactions on lupus patients’ psychological well-being,
cognition and health-care-seeking behaviour. Rheumatology
Advances in Practice, 4(2), p. 1-13. https://doi.org/10.1093/rap/rkaa037
O lúpus é uma doença autoimune cuja
conclusão do diagnóstico costuma demorar. O tempo que se passa entre o
surgimento dos primeiros sintomas e o fechamento do diagnóstico pode contribuir
para os impactos físicos e psicológicos adversos da doença. Além disso, vários
diagnósticos errôneos podem ocorrer durante esse período, atribuindo-se aos
sintomas iniciais causas exclusivamente psicológicas, de saúde mental ou de
sintomas medicamente inexplicáveis. Também é documentado que as experiências
sintomáticas vivenciadas por esses pacientes costumam, frequentemente, serem
deslegitimadas. Esse contexto de incerteza pode influenciar na redução da
confiança dos pacientes nos médicos e na diminuição dos comportamentos de busca
por cuidados de saúde.
O objetivo do estudo em questão foi
explorar o impacto das interações médico-paciente, antes e depois do
diagnóstico, sobre o bem-estar psicológico, a cognição e o comportamento de
busca de atendimento médico de pacientes com lúpus e doença indiferenciada do
tecido conjuntivo. Após a realização de um levantamento com 233 pacientes, sobre
experiências de pacientes com suporte médico, foram realizadas 21 entrevistas
semiestruturadas com alguns deles para analisar os temas recorrentes ao se
reportarem ao lúpus. Os temas que surgiram passaram por uma análise temática e
envolveram, principalmente: 1) o impacto da jornada diagnóstica; 2) a
influência dos médicos na confiança e segurança do paciente; 3) disparidades
nas prioridades médico-paciente; 4) insegurança e desconfiança persistentes; 5)
mudanças nos comportamentos de busca de assistência médica; e 6) capacitação
dos profissionais de saúde.
Os autores concluíram que interações
médicas negativas antes e depois do diagnóstico podem causar perda de
autoconfiança e perda de confiança na profissão médica. Essa insegurança pode
persistir mesmo em relacionamentos médicos positivos posteriores e deve ser
abordada. Os médicos que implementam estratégias de capacitação e de indução de
segurança, incluindo a disponibilidade em momentos de crise de saúde e a
validação dos sintomas relatados pelo paciente, podem levar a relacionamentos
médicos mais confiáveis e a um comportamento positivo de busca de cuidados de
saúde.
Por fim, percebe-se que estudos como
esse mostram a importância de pesquisas na área da Psicologia da Saúde. Quadros
clínicos complexos, como é o caso do lúpus, apontam para a necessidade de
aprofundar o conhecimento sobre os fatores psicossociais associados à doença.
Diante de evidências sólidas, pode-se propor estratégias de intervenção para
melhorar a relação médico-paciente, favorecer a adesão ao tratamento e
desenvolver comportamentos que promovam a qualidade de vida desses pacientes.
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