O protocolo unificado realmente muda neuroticismo? Resultados de um estudo randomizado
Resenhado por Brenda Fernanda P. Silva-Ferraz
Sauer-Zavala,
S., Fournier, J. C., Jarvi Steele, S., Woods, B. K., Wang, M., Farchione, T.
J., & Barlow, D. H. (2020). Does the unified protocol really change
neuroticism? Results from a randomized trial. Psychological Medicine,
1–10. https://doi.org/10.1017/S0033291720000975
O neuroticismo é um traço de personalidade
do modelo Big Five que está associado ao aparecimento e manutenção de
uma série de transtornos mentais e condições de saúde, bem como uma série de
resultados danosos, como problemas de saúde física, maiores taxas de divórcio,
perda de produtividade e maior procura por tratamento). Sendo assim, tem-se
considerado o quanto esta característica pode ser abordada no tratamento. Até o
presente momento, evidências demonstram resultados mistos em relação à capacidade
de resposta do neuroticismo ao tratamento, talvez devido ao fato de que as
intervenções dos estudos geralmente são projetadas para atingir os sintomas dos
transtornos ao invés do próprio neuroticismo.
O objetivo do presente estudo foi explorar
se o tratamento com o protocolo unificado (UP), uma intervenção
transdiagnóstica que foi desenvolvida especialmente para atingir o
neuroticismo, resulta em maiores reduções no neuroticismo em comparação aos
protocolos padrão-ouro da terapia cognitivo-comportamental (TCC) com foco em
sintomas e uma condição de controle de lista de espera (WL). O protocolo
unificado foi desenvolvido por Barlow e colaboradores (2018) e é composto por
tópicos e sessões que abordam: consciência plena em relação às emoções (aumentar
atenção às emoções sem julgá-las), flexibilidade cognitiva, engajamento em
comportamentos positivos, tolerância a sensações físicas (frente a situações
desafiadoras) e exposição emocional, visando a um melhor enfrentamento.
Participaram do estudo 223 pacientes com
transtornos de ansiedade. Utilizou-se uma medida de auto-relato validada de
neuroticismo, bem como medidas de sintomas psicológicos. No que concerne aos resultados,
na semana 16 (última semana do protocolo), os participantes na condição UP exibiram
níveis significativamente mais baixos de neuroticismo do que os participantes
da TCC focada em sintomas e na lista de espera.
Conclui-se, portanto, que os efeitos do
tratamento no neuroticismo podem ser mais robustos quando esse traço é explicitamente
visado, em detrimento a intervenções voltadas para os transtornos como
ansiedade e depressão. Conhecer tais informações é fundamental para que os
psicólogos da saúde possam pensar em ações eficazes baseadas em construtos
psicológicos, visando melhores desfechos de saúde física e mental.
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