A psicologia hospitalar e as equipes multidisciplinares
Fossi, L. Barcellos; Guareschi,
N. M. de Fátima. A psicologia
hospitalar e as equipes multidisciplinares. Faculdade de Psicologia da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Rev.
SBPH v.7 n.1 Rio de Janeiro jun. 2004
A psicologia hospitalar
é um conjunto de contribuições cientificas, educativas e profissionais que as
diferentes disciplinas psicológicas fornecem para dar a melhor assistência aos
pacientes no hospital (Rodrigues Marin, 2003). A
psicologia hospitalar tem construído sua história, passo a passo, considerando
que há menos de duas décadas a atuação do psicólogo em instituições
hospitalares não estava regulamentada.
O início das atividades da psicologia hospitalar
se deu na década de 1980. Nessa década, a instabilidade econômica do país gerou
um mercado de trabalho saturado de profissionais liberais e uma baixa nas
ofertas de emprego. Essa situação econômica se fez presente no início da
trajetória profissional de psicólogas que iniciaram sua atividade profissional
no hospital. No entanto, pouco se sabia sobre o psicólogo hospitalar, suas
funções não haviam sido preestabelecidas, e ainda não existiam muitos estudos
teóricos sobre o tema.
Médicos e enfermeiros observam que grande parte
dos pacientes voltam ao hospital novamente doentes, solicitando atendimento e
cuidados. As equipes médicas (e também outros funcionários do hospital) relatam
que, em alguns casos, somente a ajuda médica não basta para o tratamento ser
bem sucedido: o ser humano é muito mais que um corpo físico, e assim, o
atendimento integral à saúde é
indiscutível. A psicologia hospitalar não se limita ao usuário ou à
instituição, mas às especificidades que auxiliam todo o trabalho da equipe de
saúde. A experiência da multidisciplinaridade proporcionou a continuidade da
construção da identidade do psicólogo, enquanto um profissional do campo da
saúde.
A psicologia hospitalar, além de pertencer a área
clínica, abrange áreas como a organizacional, social e educacional,
utilizando-se de recursos técnicos, metodológicos e teóricos de diversos
saberes psicológicos. A
Psicologia Hospitalar busca comprometer-se com questões ligadas à qualidade de
vida dos usuários, bem como dos profissionais da saúde, logo, não se restringe
ao atendimento clínico, mesmo este sendo uma prática dos psicólogos
hospitalares.
O aparecimento de inúmeras especialidades da área
da saúde impossibilita que um único profissional englobe todos os conhecimentos
produzidos em sua área de atuação. As múltiplas situações difíceis e
inesperadas que fazem parte da realidade dos usuários dos hospitais gerais
refletem no trabalho da equipe multidisciplinar, o que mostra que uma única
especialidade profissional não consegue dar conta dessa gama de fatores
intrínsecos à doença e à hospitalização. Embora sejam os médicos os
protagonistas do manejo hospitalar, pois são eles que decidem sobre técnicas,
medicações, cura, internações e altas, os demais profissionais se adequam,
primeiramente, à demanda orgânica do indivíduo e às definições do médico, para
posteriormente, integrem sua prática ao atendimento hospitalar.
O vínculo entre o indivíduo e a equipe
multidisciplinar tem de ser considerado no manejo psicológico. É indispensável
que o psicólogo saiba detalhadamente das atividades desenvolvidas pelos demais
profissionais, bem como os limites de cada um, possibilitando uma atuação
integrada, com manejo único. No dia-a-dia do hospital os psicólogos muitas
vezes ocupam o lugar de tradutores entre os médicos e os usuários, podendo
tomar-se o entendimento de que as questões subjetivas são exclusivas do
psicólogo e as orgânicas do médico. Entretanto, o ser humano não é só somático
ou psíquico, ou seja, a fragmentação do atendimento à saúde pode não contemplar
a complexidade do ser humano, devido aos diferentes campos de saberes e poderes
envolvidos no atendimento ao usuário. Do ponto de vista da psicologia, o trabalho
das equipes multidisciplinares só se tornará válido e enriquecedor para os
usuários se cada profissional se responsabilizar por sua área de cuidados em
relação à saúde. No entanto, responsabilizar-se por sua área de saber não
significa evitar trocas de saber entre os diversos profissionais integrantes da
equipe, mas, sim, manter a clareza nas informações sobre os usuários.
Enfim, vale salientar que a psicologia hospitalar
é restrita ao Brasil e não existe, enquanto delimitação de campo de saber, em
outros países. Além de ser vista como profissão na área clínica, é também
organizacional, educacional e social, tendo um importante papel na área da
saúde ao proporcionar melhorias no cuidado aos usuários de hospitais e seus
familiares.
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