Ansiedade, depressão e característica de personalidade em homens com disfunção sexual

Resenhado por Monique Carregosa

Britto, Rodriguo; Benetti, S. P. da Cruz. Ansiedade, depressão e característica de personalidade em homens com disfunção sexual. Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS. Rev. SBPH vol 13 no. 2, Rio de Janeiro - Julho/ dez. - 2010, p. 243-258.


O presente artigo trata da disfunção sexual, termo utilizado quando a atividade sexual não se desenvolve a contento e por resultar de perturbação em uma ou mais das fases do ciclo de resposta sexual (Abdo, 2007). Conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IV TR, 2002), uma disfunção sexual (ou Transtorno Sexual) é caracterizada por uma perturbação nos processos que formam o ciclo de resposta sexual – formado por Desejo, Excitação, Orgasmo e Resolução - ou por dor associada à prática sexual.
Por haver um número significativo de casos em homens de diversas idades, esse transtorno é considerado problema de saúde pública. Desse modo, o estudo é justificado pelo fato de o chamado desempenho sexual ser considerado um dos principais fatores responsáveis pelo bem-estar psicológico dos indivíduos, em função da sexualidade assumir um importante papel na construção da identidade e personalidade dos mesmos.
Como exemplo, os autores citam Paranhos (2007), visto que este aponta o surgimento de fármacos como o Viagra (citrato de sildenafil), no final da década de 90, como um dos relevantes agentes de mudança cultural, no que diz respeito à maneira de se entender a sexualidade masculina. Em todo caso, conforme o texto, a sexualidade pode atingir os mais diferentes âmbitos da vida dos indivíduos, justamente por ser tanto fonte de prazer como de frustração.
Acreditando-se que os casos de disfunção sexual tanto podem causar como serem causados por estados de ansiedade e depressão, o objetivo da pesquisa foi analisar as características de personalidade e a incidência de ansiedade e depressão em homens com disfunção erétil (DE) e ejaculação precoce (EP), comparando esses dois grupos. Por ejaculação precoce entende-se por ocorrer sem que o paciente deseje. Ela pode ser classificada como primária (ejaculação rápida desde o início de sua vida sexual) ou secundária (ocorre numa dada fase da vida do homem) e de acordo com Gina (2002), é um problema que atinge entre 22% e 38% dos homens em alguma fase da vida. Por disfunção erétil (DE), se entende que é a inabilidade de se ter ou manter uma ereção apropriada para o acasalamento. Esse transtorno atinge quase metade dos homens acima de 40 anos e pode comprometer o relacionamento interpessoal e a qualidade de vida do sujeito.
Em termos de estudos que correlacionem a disfunção sexual à depressão e/ou ansiedade, verifica-se que apesar desta última existir na maioria dos casos, Althof et al. (2005) alertam que a correlação entre ansiedade e disfunção erétil, não é claramente indicativa que a disfunção foi causada pela ansiedade per se. Já a depressão está presente na maioria das disfunções sexualis, nos mais diferentes quadros disfuncionais masculinos. Ou seja, tanto na disfunção erétil psicogênica como na disfunção de base orgânica, mostrando assim que ela é um importante fator de risco para a disfunção sexual no todo, ao ocasionar sintomas como sensação de fadiga, estresse, apatia, desinteresse, dentre outros que dificultam o desejo sexual.
A fim de se investigar os dados supracitados, aplicou-se o Inventário de Depressão de Beck (BDI), o Inventário de Ansiedade de Beck (BAI) e a Bateria Fatorial de Personalidade (BFP) em 42 pacientes de uma clínica de andrologia de Porto Alegre, todos diagnosticados com disfunção sexual psicogênica e com idade entre 18 e 45 anos. Os participantes tiveram dois encontros agendados cada, os quais realizaram-se na sala de Psicologia da referida clínica e o questionário sociodemográfico foi preenchido antes da aplicação dos instrumentos.
Utilizou-se o método quantitativo descritivo, com um amostra por conveniência do público já mencionado e para a análise dos dados foi utilizado o programa SPSS versão 18.0. Inicialmente, foram realizados cálculos descritivos e de freqüência para identificação da amostra e posteriormente ANOVA e teste T para identificar as associações entre características de personalidade, Ansiedade, Depressão e Disfunções Sexuais. Para classificar os sujeitos em relação aos fatores de personalidade foram calculados os escores Z das médias dos participantes, conforme o manual de aplicação da Bateria Fatorial de Personalidade (Nunes, Hutz& Nunes, 2008).
Como resultado, evidenciou-se que a média de idade entre os dois grupos (EP e DE) foi similar, mas identificou-se diferenças relevantes entre eles quanto à disfunção sexual primária, tempo de disfunção, tempo que levou até procurar ajuda médica, se já fez uso de algum tipo de medicamento como estimulante sexual, ansiolíticos ou antidepressivos, se possui parceira fixa e com quem realizou sua primeira relação sexual. Não foi encontrada diferença de idade média da primeira relação sexual entre os dois grupos (DE M=18,24, DP= 2,14 e EP M=17,38, DP= 3,80).
Encontrou-se uma incidência significativa de ansiedade e depressão em portadores de EP e DE, sendo que os últimos tiveram escores maiores em ambos os testes (BDI e BAI). Ao recorrer para a literatura, os autores concluíram que os resultados correspondem aos achados de outros teóricos, a saber: Tondo et al (1991), Meyer (1997) e Shabsighab (1998). Por fim, em relação aos resultados da Bateria Fatorial de Personalidade (PFP), o alto escore em neuroticismo pareceu ser o fator de personalidade mais associado às disfunções.
Em suma, pode-se concluir que os autores pretenderam obter um maior conhecimento a respeito dos aspectos emocionais e das características de personalidade desses pacientes, a fim de contribuírem para o seu tratamento. No mais, faz-se importante destacar a necessidade de identificação dos fatores de risco à disfunção erétil e à ejaculação precoce, como também traços de personalidade que indiquem uma pré-disposição a desenvolver determinado sintoma, pois só assim será possível buscar intervenções eficazes para a saúde desses indivíduos.

A leitura é recomendada para os profissionais de saúde e estudiosos da área, visto que a pesquisa indica o possível caminho para se chegar a novas descobertas acerca da disfunção sexual e fatores correlacionados. Para a Psicologia da Saúde, a importância do estudo é incontestável por envolver estados emocionais como ansiedade e depressão, o que permite olhar o transtorno sob uma perspectiva interdisciplinar e livre de tabus provenientes de ideais machistas da nossa sociedade.

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