Adverse health effects of anabolic–androgenic steroids
Resenhado por Ariane de Brito
Amsterdam, J. V.;Opperhuizen, A; &Hartgens, F.
(2010).Adverse health effects of anabolic–androgenic steroids. RegulatoryToxicologyandPharmacology, vol. 57, p. 117–123.
O presente texto refere-se a um artigo holandês
que teve como objetivo analisar os dados científicos sobre esteróides
anabólicos androgênicos (EAA, anabolizantes, “bombas”, ...) disponíveis na
literatura internacional. Foi enfatizada a avaliação dos riscos agudos e
crônicos dos efeitos adversos à saúde com o uso de EAA. Antes de mencionar
esses efeitos, os autores apresentam o conceito de EAA, seguido pelas formas de
administração, características dos usuários e prevalência. Ao final são
mencionados os danos sociais/ comportamentais relacionados com o uso dessas
substâncias.
Os EAA são substâncias sintéticas derivadas
de hormônios sexuais masculinos (andrógenos). Essas substâncias provocam tanto o
crescimento do músculo esquelético (efeito anabólico) quanto o desenvolvimento
de características sexuais masculinas (efeito androgênico). Desde os anos de
1950 os EAA são usados, especialmente, por homens e atletas, com o objetivo de melhorar
o desempenho atlético e a atratividade física.
Os autores relatam três categorias
distintas de esteróides que se diferenciam entre si a partir da forma como a testosterona
é sintetizada, a saber: esteróides sintéticos pertencentes (1) à Classe A, que possuem
maior solubilidade lipídica e exigem administração intramuscular; (2) à Classe
B, que são compostos que podem ser administrados por via oral; e (3) à Classe
C, também disponíveis para administração oral.
No que diz respeito ao uso clínico dos
EAA, eles são comumente indicados para casos de hipogonadismo em homens, puberdade
atrasada, interrupção prematura do surto de crescimento na adolescência e
alguns tipos de impotência. No entanto, para os autores, o uso recreativo e
abusivo dessas substâncias se tornou comum entre atletas e fisiculturistas.
A utilização de EAA acontece
frequentemente através de combinações, isto é, o usuário toma dois ou mais
anabolizantes juntos, misturando anabolizantes de administração oral e/ou intramuscular,
por exemplo. Outra prática acontece através de ciclos, onde no início de um
ciclo, baixas doses de substâncias são administradas e tal dosagem é gradualmente
aumentada durante 6 a 12 semanas. Na segunda metade do ciclo, as doses são
lentamente diminuídas para zero. Acredita-se que dessa forma o corpo tem tempo
para se ajustar às altas dosagens, além de permitir que o sistema hormonal se
recupere. Entretanto, os autores apontam que o sinergismo ou outros benefícios
dessas práticas nunca foram demonstrados.
Em relação à prevalência do uso
de anabolizantes, estudos americanos da década de 1990 apontam tal uso em 4-11%
e 2,5% dos estudantes do ensino médio masculino e feminino, respectivamente. De
modo geral, os dados mais significativos mencionados pelos autores no artigo
são de que dois terços dos usuários deEAA começaram seu abuso aos 16 anos de
idade; que as estimativas desse uso foram mais elevadas em grupos de usuários
de academias, fisiculturistas, levantadores de peso e populações prisionais;
que no Brasil os anabolizantes mais usados são a nandrolona e o estanozolol; e
que aproximadamente 1% da população de diversos países europeus e nos EUA já
usaram EAA.
Sobre os efeitos adversos, o abuso
de anabolizantes pode causar mudanças tanto reversíveis quanto irreversíveis no
organismo. As variáveis de tempo e dosagem de substância influem diretamente
nesses efeitos. A partir desse momento, os autores citam no decorrer do artigo,
diversos deles. Entre os agudos estão dores de cabeça, retenção de líquidos, diarréia,
dores de estômago e acnes, além de alterações menstruais, hipertensão e o
desenvolvimento de infecções no local da injeção. Estudos observacionais
sugerem que a maioria dos usuários de EAA experimenta pelo menos um efeito colateral,
sendo os mais comuns: acne, atrofia testicular, ginecomastia, estrias cutânea e
dor no local da injeção.
Já entre os efeitos adversos crônicos
estão os problemas urogenitais, cardiovasculares e doença hepática. Algumas das
alterações podem ser revertidas como por exemploa produção de espermatozóides
reduzida, impotência e atrofia testicular em homens e as irregularidades
menstruais, aumento do clitóris e o desenvolvimento de características
masculinas nas mulheres. Felizmente, os autores ressaltam que a maioria dos
efeitos fatais graves aparecem relativamente pouco frequentes, apesar do uso de
anabolizantes estar relacionados com casos de morte súbita, infarto agudo do
miocárdio e suicídio.
Efeitos neuropsiquiátricos também são
associados ao abuso do EAA. Irritação, agressão, depressão, mania são alguns
deles. Os autores mencionam que a frequência destes efeitos é geralmente baixa,
e que depende da dosagem utilizada.
Em comparação com outras drogas de abuso,
os EAA não são fortemente euforizante,
mas mesmo assim, o efeito de bem-estar de uso de anabolizantes e os efeitos
disfóricos de retirada podem contribuir para um quadro de síndrome de dependência
de EAA em alguns indivíduos. Apesar de estudos recentes (Brower, 2009;
Kanayamaet al, 2008, 2009) sugerirem que a dependência de EAA seja bastante
comum, para os autores deste artigo, isso só vem a acontecer com uma minoria
dos usuários. Para eles, a dependência de EAA é confundida como a dependência
de exercício físico e o uso de múltiplas drogas.
Por fim, os autores mencionam os
danos sociais, principalmente os relacionados com a agressão e a criminalidade.
A agressividade pode levar os usuários a provocarem atos violentos por
apresentarem essa tendência, que pode se manifestar como luta, abuso físico
e/ou sexual, assalto etc. Quanto à criminalidade, os autores chamam atenção
para a venda de EAA. Legalmente eles são disponíveis apenas por prescrição
médica. No entanto, 75% dos usuários holandeses, compram anabolizantes
ilegalmente via colegas de academias, instrutores e pela internet. O comércio
ilícito e quando associado com outras atividades criminosas, costumam vender
substâncias de qualidade inferior, sendo seus clientes predominantes, jovens
desportistas.
O artigo faz um
amplo levantamento dos efeitos adversos causados pelo abuso de EAA, bem como
das questões norteadoras que cercam este uso abusivo. Vale ressaltar que este
estudo foi financiado pelo Ministério da Saúde, Bem-Estar e do Desporto
Holandês e que os resultados desta análise foram utilizados em um estudo
recente que buscou classificar o dano relativo de EAA dentro de uma seleção de dezenove
drogas ilícitas, incluindo heroína, cocaína, ecstasy e maconha.
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