Loneliness and Health: Potential Mechanisms

Resenhado por Geovanna Souza

J. T. CACIOPPO et al. (2002). Loneliness and Health: Potential Mechanisms. Psychosomati Medicine 64:407–417.

O presente artigo traz em seu texto dois estudos a fim de explorar quatro mecanismos que podem ajudar a solidão a exercer efeitos negativos sobre a saúde dos indivíduos. Esses mecanismos são os comportamentos de saúde, a ativação cardiovascular, os níveis de cortisol, e do sono. Os autores buscam esclarecer alguns aspectos dos estudos e do que já trás a literatura sobre o assunto.
Os autores expõem que, segundo Berkman e Syme (1979), os adultos socialmente isolados apresentam maiores taxas de mortalidade, mesmo após a contabilização de auto-relatos de saúde física, status socioeconômico, tabagismo, consumo de álcool, obesidade, atividade física, entre outras coisas. Assim, é mostrado que diversos estudos a respeito do isolamento social demonstra seus fatores que podem levar à morbidade ou mortalidade.
O isolamento social é normalmente associado na literatura a alguns índices, tais como estado civil, contato com um amigo próximo, membro religioso e membro de grupos de voluntários. Em um dos estudos citados no artigo, os autores narram que o foco de estudos mais recentes encontram-se na construção da solidão sob um aspecto psicológico, que consiste em sentimentos de isolamento social. Embora os dados sejam mais limitados, diversas pesquisas mostram uma ligação entre a solidão e a mortalidade, bem como entre o isolamento e mortalidade. Cacioppo et al (2002) nos apresenta uma dessas pesquisas em seu texto, onde ele toma como base para sua a pesquisa as mesmas hipóteses deste estudo. Essas hipóteses dizem que indivíduos solitários tendem a se envolver em comportamentos de saúde mais pobres/negativos do que os indivíduos que não são solitários; os indivíduos solitários mostrariam ativação cardiovascular e níveis de cortisol alterados no final do dia e o isolamento ao qual os indivíduos se encontram submetidos, refletem em noites de sono de má qualidade.
Essas hipóteses foram testadas no Estudo 1 da pesquisa de Cacioppo et al (2002), em uma amostra de estudantes universitários com uma média de idade de 19 anos, que falando em termos de desenvolvimento, foram selecionados indivíduos que apresentaram hábitos de saúde ao longo da vida. Já no Estudo 2, a amostra foi compostas por adultos mais velhos (média de idade de 65 anos), cuja resiliência fisiológica poderia vir a ser diminuída quando comparados à amostra do Estudo 1.
No Estudo 1, foi avaliada a atividade autonômica, os níveis de cortisol salivar, a qualidade do sono e comportamentos de saúde em 89 alunos de graduação, sendo 45 homens e 44 mulheres. De forma geral, a resistência periférica foi maior em participantes solitários do que em participantes não solitários, ao passo que a produção e frequência cardíaca eram mais elevadas. Indivíduos solitários também relataram sono mais pobre do que indivíduos não solitários. Indivíduos solitários e não solitários não diferiram significativamente no índice de massa corporal, consumo de álcool, consumo de tabaco ou qualquer outra droga. Em nível cardiovascular, os participantes solitários mostraram maior TPR (resistência periférica total) no início e durante a presença de estressores psicológicos.
Indivíduos solitários não relataram comportamentos de saúde mais pobres do que os indivíduos não solitários. Embora o uso de medidas de autorrelato seja uma limitação deste estudo, os pesquisadores descrevem que este dado é semelhante ao de Eccles et al (1997), onde é concebível que os comportamentos de saúde afetam morbidade e mortalidade de base ampla, mas não contribuem a diferenças nos resultados de saúde para só e indivíduos não solitários, pelo menos em adultos jovens. O mesmo pode ser dito dos níveis de cortisol do cotidiano, que também foram comparáveis ​​para só jovens adultos não solitários.
No Estudo 2, foi avaliada a pressão arterial, frequência cardíaca, níveis de cortisol salivar, a qualidade do sono e comportamentos de saúde em 25 adultos mais velhos, cuja solidão foi avaliada no momento do teste em sua residência. Foi pedido aos participantes para falar sobre atividades que realizam, tais como consumo de álcool, cafeína, drogas.
De forma geral, no estudo 2 os resultados encontramos mostraram que indivíduos solitários e não solitários não diferiram significativamente no índice de massa corporal. Foi testada a hipótese de que indivíduos solitários, em contraste com os indivíduos não solitários, correm o risco de ter uma saúde mais precária, porque eles são menos ativos, bebem mais álcool, comem mal, ignoram o uso do cinto de segurança e, em geral envolvem-se em comportamentos de saúde pobres. As amostras de jovens e idosos mostraram diferenças triviais entre os comportamentos de saúde de indivíduos solitário e não solitários, o que sugere que os comportamentos de saúde não pode ser uma das principais causas de diferenças na morbidade e mortalidade entre os indivíduos solitários e não solitários. Os autores reforçam a ideia trazida por outras pesquisas de que, neste contexto, indivíduos solitários tendem a perceber seu mundo social mais ameaçador do que os indivíduos não solitários.
As avaliações de sono usando o PSQI (Índice de Qualidade Sono de Pittsburgh) evidenciou que os participantes solitários, tanto jovens (Estudo 1) como idosos (Estudo 2), exibiram menor qualidade de sono em múltiplas dimensões. Nos indivíduos solitários, um dos efeitos encontrados em noites de sono mal dormidas, remete a uma diminuição da resistência física e psicológica desses indivíduos. Assim, é descrito que os resultados para dormir em Estudos 1 e 2, apontam para um mecanismo até então não reconhecido pelo qual o sentimento de solidão pode, com o tempo, levar a diminuição da saúde. Os resultados apontam para dois mecanismos que merecem atenção especial: a ativação cardiovascular e disfunção do sono. Comportamentos saudáveis e regulação do cortisol podem exigir medidas mais sensíveis e de grandes tamanhos de amostra para discernir seus papéis na solidão e na saúde.
O presente artigo e seus estudos nos mostram como comportamentos saudáveis e o nível de cortisol podem influenciar positiva ou negativamente os modos de vida de indivíduos solitários e não solitários, levando à diminuição da saúde e do bem-estar. Dessa forma, o isolamento social pode apresentar mudanças significativas na vida dos indivíduos, e é de extrema importância que se façam mais pesquisas a respeito do tema, tanto no exterior, como no Brasil.


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