Homens, Mulheres e Estresse: Revisão Conceitual e Distribuição Social
Resenhado por Mariana Menezes
Faro, A., Pereira, M., & Lima, M.
Homens, Mulheres e Estresse: Revisão Conceitual e Distribuição Social. . Em Actas do 9 Congresso Nacional de Psicologia
da Saúde. Lisboa (Portugal), Fevereiro de 2012, Placebo: Lisboa (447-452).
No que diz respeito ao estresse há
diferenças individuais entre os sexos. Vários estudos mostram que as mulheres
são mais vulneráveis ao estresse se comparadas aos homens em diversos contextos
e são mais propensas a desenvolver doenças autoimunes, doenças crônicas não
terminais e psicopatologias ligadas ao estresse. Porém, os homens são o
principal alvo da maioria das doenças associadas a quadros de estresse crônico,
exibindo maior prevalência de doenças cardiovasculares, doenças crônicas
terminais e cânceres, além de possuírem maior taxa de mortalidade e menor
expectativa de vida.
Assim como o estresse, o funcionamento
biológico, social, e psicológico também varia entre os sexos. No nível
biológico, os homens exibem reações neurofisiológicas com mais intensidade e os
níveis de catecolamina e cortisol são significativamente mais altos se
comparados as mulheres em situação semelhante ou a homens que não estão sob
estresse. Diante de estressores agudos as mulheres demonstram um
restabelecimento mais lento dos índices hormonais, maior frequência cardíaca e
picos hormonais mais severos.
As diferenças biológicas entre os sexos
necessitam de estudos mais aprofundados, pois geralmente são estudadas em
associação com outras variáveis, o que torna difícil saber se é o próprio sexo
como condição biológica que vulnerabiliza ou se são outras influências
combinadas com estas características, tais como a contextualização social de
gênero e a responsividade psicológica. Apesar da crença da maior
vulnerabilidade das mulheres, permanecem várias questões em aberto a respeito
da generalização da vulnerabilidade ao estresse. Com isso, os domínios social e
psicológico da suscetibilidade ajudam a compreender melhor a relação entre sexo
e estresse.
No domínio social, os homens com mais
altos níveis de estresse são as vítimas padrão de morte prematura, violência
física e acidentes fatais. Enquanto que as mulheres são acometidas por
estressores derivados do sexismo, pois este impõe maior exposição aos
estressores de origem interpessoal e institucionais, produzindo maiores ameaças
ao bem estar e saúde das mulheres.
A resistência aos estressores que tendem
a mudar em homens e mulheres está ligada a capacidade de adaptação
psicossocial. Os homens exibem mais intensas reações de estresse frente à
inferiorização intelectual ou à avaliação de desempenho individual, o que os
faz responder com o modelo “luta x fuga”. Já as mulheres se mostram mais
sujeitas ao estresse diante de conflitos interpessoais e rejeição social e são
mais propensas a agir de modo auto e heteroprotetor, além da criação e
manutenção de redes sociais.
No domínio psicológico importam os
efeitos dos mecanismos psicológicos de adaptação. Em estudos realizados por
autores como González, Peiró, Rodrigues e Greenglass, o sexo se mostrou um
preditor da relação exposição-saúde, tendo em vista que as mulheres exibiram
menor estresse ao utilizar estratégias de enfrentamento voltadas para o apoio
social, e os homens apresentaram um menor índice de estresse quando utilizavam
estratégias focalizadas no problema.
Conclui-se que independente do sexo que
demonstre maior vulnerabilidade em determinada situação, o papel da
interpretação e o manejo particular dos estressores têm se revelado como
importantes para que se possa compreender a variabilidade intra e intergrupal
do estresse. A partir do que foi constatado até aqui, podemos pontuar dois
aspectos vitais para o delineamento de futuros estudos: a interação entre os
sexos e outras variáveis, pois relacionada ao entorno social pode incrementar o
impacto dos estressores e a vulnerabilidade do estresse; e a influência da
mediação cognitiva na responsabilidade do estresse por haver indícios de que a
variabilidade do estresse segundo o sexo parece ser bem mais explicada através
do uso de mecanismos psicológicos de adaptação, quando comparados a fatores
biológicos e macrossociais.
O texto é de grande valia para os
pesquisadores envolvidos em estudos sobre o estresse, ao passo que um olhar
diferenciado em torno da variável sexo torna os achados mais confiáveis.
Analisar a variância dos aspectos biológicos, sociais e psicológicos; da
vulnerabilidade; da resistência e das consequências entre os sexos têm
relevância quando se estuda o estresse.
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