O estresse e a conexão emocional
Resenhado por Geovanna Souza
McEwen, B. S. & Lasley, E. N. (2003). O estresse e a conexão emocional. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003. In: O fim do estresse como nós o conhecemos (pp. 60-78).
Neste capítulo, Mc Ewen e Lasley abordam o estresse sob uma nova visão: focada no aspecto emocional e na relação entre o cérebro-estresse. Os autores buscam narrar diversos estudos realizados acerca do desencadeamento do estresse através dos hormônios e do cérebro. Aqui, o cérebro deixa de ser visto apenas como um iniciador da reação ao estresse, passando a ser considerado também, um alvo do estresse. O texto se inicia falando da mudança que diversos estudos provocaram ao longo do tempo na teoria principal do estresse, tendo como principal autor Hans Selye.
Hans Selye foi o pioneiro ao falar de “estresse”, no entanto, em seus primeiros estudos ele evitava essa palavra, pois achava que ela remetia a ideia de tensão nervosa. Apenas em 1950 foi que ele começou a pensar no estresse como uma reação que ocorre dentro do organismo. A partir de então, Selye definiu que a reação que ocorre dentro do organismo representa o estresse, e os estímulos externos passou a ser conhecido por ‘estressores’.
Em 1956 com a publicação de The Stress of Life, Selye começou a mostrar que estava disposto a reconhecer a ideia de estresse psicológico, até então rejeitada por ele. No entanto, mesmo disposto a ver o estresse sob uma nova forma, ele manteve sua definição de estresse como uma reação inespecífica do corpo. Os autores McEwen e Lasley falam em seu texto que segundo John Mason, Selye não queria confundir sua síndrome de adaptação geral com estresse emocional.
Apesar de Selye não querer esse tipo de conexão em suas teorias, havia outros estudiosos que se interessavam em estudar a conexão emocional junto ao estresse. Talvez a explicação dada a isso esteja relacionada com o fato de que, nas décadas de 1930 e 1940 as emoções não eram consideradas da alçada da ciência. Faltavam estudos que comprovassem as emoções e sua ligação à reação ao estresse e, até mesmo ao cérebro. O cérebro era provocador de grandes dúvidas para diversos estudiosos, já que muitos pesquisadores do tema achavam que o estresse era desencadeado e coordenado apenas por fatores fisiológicos/hormonais. Sendo assim, McEwen e Lasley narram que o cérebro “não foi considerado um órgão emocional até a década de 1950, quando Paul McLean identificou estruturas que denominou sistema límbico” (p. 62), onde a partir de então, novos estudos mostravam como as emoções como o medo ou a raiva, estavam ativas durante reações emocionais.
Mesmo com estudos descrevendo que as emoções e a reação ao estresse estavam ligadas ao cérebro, os cientistas da época de Selye sabiam que a força para tal reação era fornecida pelo sistema endócrino, sob comando da glândula pituitária, resultando na produção de hidrocortisona. No entanto, não havia nenhuma rede de nervos que ligasse a pituitária ao cérebro, comprovando uma ligação ‘concreta’ entre ambos. Dessa forma, McEwen e Lasley fazem o seguinte questionamento: “como poderia a síndrome metodicamente caracterizada de Selye ser desencadeada por algo surgido nas trevas da mente?” (p. 63). Para responder a essa pergunta eles começam a descrever como os hormônios se tornam mensageiros das reações do estresse , provocando emoções nos indivíduos. Citando a pesquisa de Sir Geoffrey Harris, os autores descrevem que foi a partir de então, que se pôde comprovar que o cérebro secretava seus próprios hormônios, enviando comunicações ao sistema endócrino por meio da pituitária, propondo que o cérebro ativava as glândulas endócrinas. Harris denominou essa descoberta de “sistema vascular portal hipofásico”.
Nesta mesma época já era conhecido pelos cientistas que o sistema nervoso transmitia sinais por meio de mensageiros chamados de neurotransmissores. O primeiro neurotransmissor descoberto foi a acetilcolina, em 1920, e depois surgiram outros, como a adrenalina, que é conhecida por fazer parte da reação inicial do estresse. Esses e outros neurotransmissores não devem ser rotulados a uma única função, uma vez que McEwen e Lasley afirmam que eles tem muitos papéis diferentes no cérebro, ressaltando que para as pessoas que se interessam em estudar a relação do estresse com o cérebro, a interação que ocorre entre os neurotransmissores e seus receptores são de extrema importância. Quando um se conecta ao outro, pode resultar em uma emoção ou em algum sinal de que a reação de luta ou de fuga já não é mais necessária, amenizando as reações causadas pelo estresse.
Em 1983, Wylie Vale anunciou a descoberta de um hormônio que mudaria os estudos de muitos cientistas. Ele e sua equipe descobriram o fator de liberação do hormônio que desencadeia a reação ao estresse: a hidrocortisona. Isso comprovou o que Sir Geoffrey havia dito em seus estudos, mostrando como a imagem do estresse mental ativa a reação ao estresse.
Estudos de Mason, ainda na década de 1950, possibilitaram detectar a quantidade de hidrocortisona em urina e sangue, testando os níveis de hormônios antes, durante e depois do estresse. Repetindo alguns estudos de Selye, Mason tentou isolar o estresse psicológico, a fim de saber se o apenas o estresse poderia ativar a síndrome de adaptação geral. Em seus estudos ele usou inicialmente ratos, mas foi utilizando macacos em jejum que ele conseguiu maior êxito. Mason concluiu que o estresse psicológico que acompanhavam os macacos era um fator poderoso que deveria ter maior atenção dos pesquisadores. Com isso, Mason e seus colegas de estudos receberam as honras por mostrar como os estímulos psicológicos podem afetar a produção dos hormônios do estresse.
Por fim, McEwen fala que seu interesse pelos hormônios do estresse e pelo estresse nasceu da sua curiosidade em saber como o mundo e nossas experiências nele podem modificar o cérebro. Ele e Lasley continuam relatando que um dos principais desafios acerca do estresse foi estabelecer como os hormônios chegavam ao cérebro e se ligavam a seus receptores. A resposta para tais dúvidas começaram quando foi descoberto que toda vez que o hormônio sexual se prendia ao receptor, o funcionamento do cérebro era modificado. A partir desse estudo, várias pesquisas foram realizadas a fim de saber se o mesmo ocorre no caso do estresse. No entanto, é enfatizado ao se concluir o capítulo, que para se conhecer por completo o que os hormônios do estresse fazem quando alcançam nosso cérebro, levaria muitos anos. Mas em 1970, pesquisas realizadas pelos próprios autores deste texto, indicavam que as respostas estavam começando a aparecer. Diversos pesquisadores haviam mostrado como o cérebro percebe um evento estressante e como as reações hormonais o ajudam a enfrentar tais situações. Nessas novas pesquisas o cérebro é visto de uma maneira diferente: não apenas como iniciador da reação ao estresse, mas também, como um alvo do mesmo.
Este capítulo traz grandes contribuições para o tema, uma vez que ele nos revela informações claras a respeito do estresse enquanto origem hormonal, e sob uma nova forma, que seria a conexão emocional e cerebral que é estabelecida durante os momentos de estresse. Sendo assim, as reações causadas pelo estresse pode ser entendida a partir de diversos aspectos que contribuíram e contribuem para novos estudos sobre o assunto, demonstrando como o cérebro pode ser o iniciador do estresse.
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