Depressão, o Mal do século: De que século?


Resenhado por Rafael Matos

Gonçalves, C. A. V; Machado, A.L. (2007). Depressão, o mal do século. Rev. Enferm UERJ, Rio de Janeiro, abr/jun; 15: 298-304.

O presente texto refere-se a um artigo que busca resgatar a história da depressão no Ocidente por meio de uma análise histórico-social das perspectivas científicas, filosófica e poética que outrora vigoravam nas quatros fases da história do mundo ocidental, a saber: Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Além de mostrar que as diferentes concepções acerca da depressão influenciam na conduta dos profissionais da saúde.
Segundo os autores, no último relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão se situava em quarto lugar entre as principais causas de ônus entre todas as doenças, alegando ainda, que se persistir a incidência da depressão, até 2020 ela estará em segundo lugar, atrás apenas da doença isquêmica cardíaca.
A alusão ao fato de a depressão tratar-se de um mal dos novos tempos é muito frequente, principalmente nos meios de comunicação. Na última década do século XX foi considerada “doença do século”, expressão a qual não se é muito difícil de ouvir nos dias de hoje. Alguns podem pensar que esta afirmativa é verdadeira. No entanto, apesar dessas estatísticas, a depressão não é uma doença do século XXI, afirmam os autores. Segundo eles, as perturbações há muito chamadas de melancolia são agora definidas como depressão.
Durante as quatros fases históricas, a depressão apresentava as mesmas sintomatologia da configuração atual, diferindo em sua etiologia e a forma com que era vista. Na Antiguidade, a depressão estava ligada a bile negra, substância corporal que era fria e seca. Esta noção derivava da Teoria dos Quatro Humores, que considerava o temperamento como consequência dos quatros fluidos corporais: fleuma, bile amarela, sangue e bile negra – esta substância nunca foi encontrada no corpo humano –, para a Idade Média a depressão era considerada tudo que não era sagrado, na Idade Moderna, com o Renascimento, Iluminismo e Romantismo, alguns a consideravam como resultado da manifestação do anseio pelo grande e o eterno, nesta mesma época com o avanço da ciência surgem às primeiras noções de que a depressão trata-se de uma doença mental com caraterísticas hereditárias. O desenvolvimento da psiquiatria na Idade Contemporânea impulsionou a noção da depressão que temos hoje, a saber, de que a mesma é um transtorno de humor.
Este resgatamento histórico da história da depressão mostra que a mesma possui uma origem remota. Levando os autores a questionar de que século estamos falando quando consideramos a depressão como a “doença do século”.
No cotidiano, um fator que contribui para esta definição da depressão (doença do século) é o frequente uso da palavra depressão como sinônimo de tristeza.
Esta concepção errônea sobre a depressão juntamente com a noção de doença do século podem causar prejuízos à saúde das pessoas, uma vez que elas por terem a crença de que a depressão é algo comum, ou por confundirem sintomas isolados com o transtorno, acabam naturalizando o problema, e deixam de procurar por assistência em casos de sofrimento psíquico e/ou casos verdadeiro de depressão,  por outro lado, os profissionais da saúde podem cometer erros diagnósticos e consequentemente prognósticos ao serem influenciados por estas concepções, como salientam os autores, o conhecimento norteia a conduta dos profissionais.






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