Dados demográficos, psicológicos e comportamentais de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual
Resenhado
por Iracema Freitas
Serafim,
A. P., Saffi, F., Achá, M. F. F., & Barros, D. M. (2011). Dados
demográficos, psicológicos e comportamentais de crianças e adolescentes vítimas
de abuso sexual. Revista de
Psiquiatria Clínica, 38, 143-147.
doi: 10.1590/S0101-60832011000400006
A
relação entre transtorno mental e abuso sexual vem sendo abordada pela
literatura e pela prática clínica. Dentre os transtornos foram identificados, o
transtorno afetivo, transtorno de
estresse pós-traumático, transtorno de ansiedade, distúrbios alimentares,
dependência química, transtornos psicossexuais (problemas quanto ao seu papel e
funcionamento sexual), sintomas depressivos e agressivos, além de serias
dificuldades em relacionamentos interpessoais.
Nesse
estudo verificou-se que tanto meninos quanto meninas vítimas do abuso apresentaram
elevada frequência para depressão e transtorno de estresse pós traumático
(TEPT). A amostra foi composta por 205 crianças e adolescentes vítimas de
abuso, com idades entre 6 a 14 anos, sendo 130 meninas e 75 meninos, que
passaram por uma avaliação clínica psiquiátrica, uma entrevista diagnóstica e
uma bateria de testes psicológicos como: Teste de Pfister, TAT- Teste de
Apercepção Temática, CAT-A –Teste de Apercepção Temática Infantil e Teste de
desenho Casa-Arvóre-Pessoa.
Os
resultados apresentados mostram que meninos sofrem abuso entre 3 a 6 anos e as
meninas entre os 7 a 10 anos; o perpetrador (abusador) é com maior frequência o
pai, seguido do padrasto, tio, primo e desconhecidos; a depressão e TEPT são mais
comuns entre as meninas, já entre os meninos o retraimento perante a figura
masculina é maior. Um ponto interessante é a visão que a amostra apresenta
quando se trata da figura feminina, como sendo protetora, frágil e incapaz,
enquanto a figura masculina como a de alguém que tem necessidade de fazer o
mal, forte e violenta. Quanto aos aspectos afetivos e emocionais tiveram maior porcentagem,
a culpa, vergonha, medo e insegurança
O
abuso não leva apenas ao comprometimento da saúde mental, também leva a déficits
cognitivos, emocionais, sociais e comportamentais. Apesar dos estudos sobre o
tema terem crescido, há dificuldades em prestar assistência às vítimas,
primeiro em virtude dos aspectos afetivos emocionais acima citados que acabam
levando ao silêncio dos abusados, seguido da impotência e negligência da figura
feminina diante da força e violência do perpetrador. Além disso questões de
ordem social e a própria exposição da vítima, bem como do tipo de serviços
voltados para tal problema tendem a tornar o suporte pouco eficaz, uma vez que
os profissionais envolvidos (médicos, legistas, assistentes sociais,
autoridades policiais e judiciarias) podem chegar a diagnósticos equivocados
quanto ao caso analisado.
O
trauma psíquico causado pelo abuso se reflete em todas as esferas de
funcionamento da vítima, que deveria ter na família o ambiente protetor. No
entanto, recebe esse ambiente passa a ser uma ameaça constante para a vitima, que
está diante de um espaço estressor contínuo. Desenvolvendo uma sensação de desamparo,
medo e abandono, sem qualquer possibilidade de defesa, pois a vítima se vê na condição de convívio diário com seu agressor. Tal
modelo de relacionamento será projetado para as demais modalidades de
relacionamento que o abusado irá desenvolver com o mundo e seus traumas tendem
a ser identificados e tratados apenas no estágio mais avançado em que o
sofrimento psíquico toma repercussões mais graves, como na manifestação da
depressão, retraimento social e demais comportamentos desadaptativos.
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