Intervenção com crianças em tratamento quimioterápico: um relato de experiência.

Resenhado por Thatianne Almico

Castro, M. M. C. & Ribeiro, L. M. S. (2007). Intervenção com crianças em tratamento quimioterápico: um relato de experiência. Revista Pediatria Moderna, v. 43, nº2.


A quimioterapia (QT) é um tratamento bastante utilizado como tentativa de controle do câncer e pode ser administrada de diversas maneiras. Apesar de possibilitar bons resultados a QT é muito tóxica e atinge diversos tecidos do organismo, destruindo-os. Além disso, a repercussão do diagnóstico do câncer infantil ocasiona uma série de transformações e desestruturações na vida da criança e da família, visto que a rotina da criança muda completamente devido às idas ao hospital, aos exames e tratamento invasivos e dolorosos.
A falta de compreensão da doença e do tratamento gera na criança sensação de perigo e de que algo ruim está acontecendo com ela, principalmente pelo fato de as limitações consequentes da doença interferirem na vida social da criança, impedindo-as de ir à escola, de brincar e fazer as atividades que fazia antes. Diante disso, alguns ajustes são necessários também na família, para que todos possam se adaptar ao novo contexto da doença. Para tanto é fundamental algumas mudanças de papel, atitudes e postura nas diversas situações.
A família tem um papel fundamental auxiliando a criança no enfrentamento da doença e na adaptação das dificuldades que surgem com o tempo de tratamento, com isso está também suscetível a uma desestruturação em nível emocional, vivenciando sentimentos como depressão, medo das sequelas do câncer, culpa, desespero, sentimento de impotência, entre outros. Por outro lado, a representação que as crianças e suas famílias constroem da doença e seu tratamento irá influenciar no enfrentamento da mesma. O que resultará num significado particular à experiência da enfermidade, ressignificando e transformando o caráter desconhecido da doença tornando-a familiar. Buscando uma nova visão da realidade, tornando a doença compreendida a partir do modo como ela se apresenta na vida psicossocial do sujeito e da interpretação que é dada a ela.
Considerando que a melhora da criança é determinada, também, por seu comportamento, bem como reações psíquicas, crenças e as percepções sobre a doença e seu tratamento, considera-se importante utilizar intervenções que facilitem a compreensão da criança acerca do seu estado de saúde e do tratamento que está submetida. A fim de que a mesma tenha conhecimento da importância do seu poder ativo estimulando-a a colaborar com o tratamento, auxiliando-a de modo que o enfrentamento se dê da forma menos estressante possível. Com isso, este trabalho teve por objetivo a partir da intervenção psicoeducativa, mostrar como as crianças representam e experienciam o tratamento psicoterápico, averiguando a repercussão da mesma.
O estudo foi realizado numa clínica particular de oncologia em seis encontros, um por semana, em duas horas/dia em média. A atividade dividiu-se me dois momentos: primeiro, as crianças tiveram a oportunidade de falar sobre suas experiências, crenças e fantasias sobre a doença e tratamento e segundo, realizou-se uma dramatização (intervenção) a fim de que as crianças pudessem compreender melhor seu tratamento. Para realizar a atividade foi utilizado o livro (“Conhecendo o Quiminho”, Françoso, 2003), onde foi contada a história do Quiminho.
Observou-se com a atividade que as crianças compartilhavam os mesmos sentimentos em relação ao tratamento, sendo estes relacionados a dor, mal-estar, fraqueza, entre outros. Ainda assim reconheciam o seu potencial curativo, um meio de afastarem-se da morte, demonstrando consciência da gravidade da doença. Notou-se também que as crianças possuem pouco conhecimento sobre o tratamento, visto que revelaram tomar o medicamento apenas para ficarem curados. Isto indica que as crianças têm uma representação ambígua do tratamento, pois ao mesmo tempo em que cura, destrói. Dentre todos os efeitos colaterais, a queda do cabelo (80%) foi associada como o principal dano da medicação. Como se não bastassem as consequências da quimioterapia, as crianças relataram ainda o incômodo da aplicação, seis crianças afirmaram não conhecer outra forma de aplicação (46,15%) e três já receberam a aplicação pelas três vias.

Ao final do estudo foi possível compreender a importância de criar espaços nos quais as crianças possam compartilhar seus sentimentos, medos e crenças acerca do tratamento quimioterápico, viabilizando a mesma elaborar sua experiência e ressignificar o tratamento. Com isso espera-se que a criança tenha uma mudança de postura frente à doença e assuma um papel ativo e positivo diante do enfrentamento, construindo um repertório de estratégias para lidar com câncer a fim de passar por esse processo de modo mais saudável.

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