Esteróides Anabolizantes e o Sistema Nervoso
Resenhado por Monique Carregosa
Pedroso,
J. L. (2012). Esteróides anabolizantes e o sistema
nervoso. Rev Neurocienc.,20(2),181-182
Como o próprio título sugere, o presente texto buscou
mostrar a inter-relação entre anabolizantes e Sistema Nervoso, através da
descrição de pesquisas já existentes na área. Para tanto, o autor justifica o
estudo em razão do uso dessas drogas já ser um problema de saúde pública, uma
vez que acomete não só atletas, mas um público diversificado que cada vez mais
se preocupa com a estética e a imagem corporal. Consequentemente, com o uso e
abuso dessas substâncias cresce também a quantidade de efeitos colaterais, a
saber: acne, ginecomastia, disfunção erétil e problemas cardiovasculares e
hepáticos.
Sobre os efeitos diretos no Sistema Nervoso, o autor menciona estudos
que têm indicado alterações psiquiátricas, distúrbios do sono e alterações
neuro-hormonais. Como alterações psiquiátricas destacaram-se as mudanças do
humor, a exemplo da labilidade ou instabilidade emocional; euforia;
impulsividade; aumento da auto-estima e mudanças comportamentais, como o
comportamento violento.
Em
relação aos distúrbios do sono, enquanto alguns estudos apontaram a insônia
como uma das consequências do uso dos esteróides anabólico-androgênicos (EAAs),
outros detectaram o
aumento da fase 4 do sono não-REM e aumento da latência para início do sono
REM. Em termos de uso crônico de anabolizantes, se
por um lado usuários apresentaram uma redução no tempo
total de sono, na fase não-REM e de eficácia, por outro exibiram um aumento do
estágio N2. A síndrome de apnéia obstrutiva do sono também foi considerada como
outro possível efeito colateral, uma vez que os fármacos podem modificar a configuração estrutural da orofaringe.
Estudos recentes sobre o uso
crônico de anabolizantes, mas através do modelo animal e uso do esteróide
stanozolol, ainda evidenciaram uma diminuição nos níveis de fator neurotrófico
advindo do cérebro e dopamina no hipocampo e córtex pré-frontal; redução na
expressão dos receptores de glucocorticóides no hipocampo e no plasma e aumento
dos níveis basais matinais de cortisol plasmático. Portanto, todas as
supracitadas modificações metabólicas têm sido relacionadas a distúrbios do
humor, a exemplo da depressão. Além disso,
como o sistema monoaminérgico regula o
comportamento humano, comportamentos sexuais, medo, ansiedade e a agressividade,
sugere-se que os anabolizantes podem ocasionar alterações nas monoaminas,
comportamentais e distúrbios do humor.
Entretanto, ainda através do
modelo animal, Silva e cols. (2012) não constataram alterações estruturais do
cérebro no grupo exposto ao anabolizante Decanoato de Nandrolona, apesar da
curta exposição, especialmente nas fibras de Purkinje do cerebelo.
Conforme o autor, o resultado exposto pode reforçar a
teoria de que as descrições de efeitos adversos ao sistema nervoso ocorrem
principalmente no sistema neuro-hormonal. Desse modo, a provável ausência de
efeito tóxico no cerebelo pode ser fortalecida pela falta de clareza nos
trabalhos quanto à presença de ataxia ou
outras alterações cerebelares com a cronicidade dos anabolizantes.
Portanto, percebe-se que os esteróides anabolizantes exercem
consequências significativamente negativas no Sistema Nervoso, e, inclusive,
que resvalam no psiquismo dos usuários. Faz-se necessário estudos mais
específicos sobre as alterações neuro-hormonais ou estruturais provenientes do
uso de esteróides anabolizantes, a fim de conhecer melhor quais seus efeitos
positivos e/ou negativos e seu real impacto na sociedade e na saúde pública.
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