Fatores geradores de estresse para atletas da categoria de base do futebol de campo

Resenhado por Mariana Menezes

Santos, P. B., Coelho, R., W., Keller, B., Stefanello, J., M., F. (2012). Fatores geradores de estresse para atletas da categoria de base do futebol de campo. Journal of Sport Sciences, 6 (4): 382-387


O estresse pode ser prejudicial aos atletas ao produzir alguns sintomas físicos, mentais e comportamentais como músculos tensos, inabilidade para se concentrar e maneirismos nervosos durante alguns eventos esportivos; mas também pode favorecer o atleta, preparando seu corpo para atividade intensa e deixando-o alerta, ou seja, preparando seu organismo para um bom desempenho. Deste modo, a capacidade para lidar com o estresse pode ser determinante para o rendimento de um atleta. Em várias modalidades esportivas, e em especial no futebol, a preocupação em manter o bom rendimento do jogador em treinamentos e partidas para que não comprometa jogos futuros é grande. O jogador se sente pressionado a atender as expectativas do treinador, dos companheiros de equipe, dos seus familiares e da mídia.
Além de que os atletas mais jovens têm mais dificuldades para controlar suas reações emocionais por estarem em uma fase sensível do desenvolvimento de sua personalidade, sobretudo naqueles que têm entre 16 e 17 anos. Durante a adolescência, esses jovens passam por alterações físicas, mentais e sociais, além de adquirirem características e competências que os tornam capazes de viver como um adulto. No entanto, nem sempre sua maturação biológica acompanha a idade cronológica, fazendo com que as diferenças entre indivíduos do mesmo sexo possam refletir-se em diferentes graus de maturidade biológica e em diferentes respostas às situações estressoras. O número de atletas que apresentam um estágio maturacional tardio é muito pouco, enquanto muitos jovens jogadores de futebol encontram-se no estágio maturacional acelerado. Com base em tais argumentos, o estudo referido buscou verificar a intensidade e direcionalidade das situações geradoras de estresse para atletas da categoria de base de futebol de campo em diferentes estágios maturacionais.
Para a realização do estudo foi necessária a participação de 18 atletas da categoria de base de futebol de campo, do sexo masculino, com idade média de 16,6 (± 0,5) anos e 8,3 (± 2,1) anos de prática na modalidade. Na coleta de dados foram utilizados dois instrumentos, o Inventário dos Fatores de Stress no Futebol (ISF) e a avaliação do estágio maturacional através da idade esquelética. O primeiro foi utilizado para identificar a direcionalidade (se o estresse é negativo, neutro ou positivo) e a intensidade (de muito negativo até muito positivo) da percepção dos fatores geradores de estresse para atletas de futebol. O inventário foi elaborado de forma que os 77 itens ficassem agrupados e representassem sete grandes fontes de estresse (situações de fracasso eminente ou real, situações de aspectos da competição, situações de demanda física e psicológica, situações de conflito, situações de perturbação, situações de risco e situações de crítica e repreensão) cada uma formada por alguns itens do questionário. O IFS foi aplicado aos atletas após o termino de uma competição. A avaliação do estágio maturacional através da idade esquelética foi feita a partir da radiografia das mãos e dos punhos dos atletas que foram comparadas com radiografias padrão correspondentes a níveis sucessivos de maturação esquelética em idades cronológicas específicas. O que permitiu que os atletas fossem divididos em dois grupos de acordo com o seu estágio maturacional (10 atletas compuseram o grupo com maturação precoce e 8 o grupo com maturação normal).
De acordo com os resultados da pesquisa nenhum atleta apresentou maturação tardia. A análise da diferença das fontes de estresse entre os dois grupos de atletas não indicou diferença significativa em nenhuma das fontes entre os grupos com maturação precoce e normal. Quando verificada a diferença entre os grupos para cada fator, encontraram-se diferenças significativas em três fatores: grande superioridade dos adversários, pressão do técnico para vencer e jogar com muito calor. Quanto à direcionalidade e intensidade do estresse, os atletas com maturação normal avaliaram os fatores “grande superioridade dos adversários” e “jogar com muito calor” como aspectos negativos e com intensidade moderada de estresse, pois corresponderam a fatores negativos que foram mais ou menos estressantes para os atletas. O fator “pressão do técnico para vencer” para esse grupo de esportistas foi considerado positivo, embora com baixa intensidade. Para o grupo com maturação precoce, o único fator considerado negativo foi “jogar com muito calor”, embora tenha apresentado baixa intensidade. Por outro lado, os fatores “pressão do técnico para vencer” e “grande superioridade dos adversários” foram fatores avaliados positivamente pelos atletas, diferindo apenas na sua intensidade. Ou seja, enquanto a pressão do técnico exerce forte influência sobre os atletas, a grande superioridade dos adversários não parece ser muito relevante.

Portanto, identificar quais fatores podem gerar estresse e afetar o desempenho esportivo é muito importante quando o assunto é futebol. Pois sua identificação poderá ajudar a o atleta a conhecer mais a respeito do seu próprio padrão de comportamento, auxiliá-lo a desenvolver estratégias apropriadas para resolver os conflitos dos quais se deparar, estar mais preparado para as pressões que poderá vir a passar, para as incertezas e angústias que vierem a interferir no seu sucesso esportivo e contribuir para que ele não abandone o esporte muito cedo.

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