A pandemia de COVID-19 no Brasil: crônica de uma crise sanitária anunciada

12:00
Werneck, G., & Carvalho, M.S. (2020). A pandemia de COVID-19 no Brasil: crônica de uma crise sanitaria anunciada. Cadernos de Saúde Pública, 36 (5), 1-4. doi: 10.1590/0102-311X00068820 

Resenhado por: Catiele Reis 

A pandemia da COVID-19 tem sido um dos maiores desafios sanitários deste século. O insuficiente conhecimento científico sobre a doença, somado com a alta velocidade de disseminação da doença gerou incertezas sobre qual a melhor forma de lidar com a epidemia em diferentes partes do mundo. No Brasil, os desafios são ainda maiores dado panorama de desigualdade social em que vive grande parte da população, com condições precárias de moradia e sem acesso sistemático à água. Este artigo buscou dividir, de forma esquemática, uma forma de lidar com a pandemia subdividida em quatro fases: contenção, mitigação, supressão e recuperação.  
A fase de contenção ocorreria antes mesmo do primeiro caso chegar ao país e envolveria um amplo rastreio de pessoas vindo do exterior e seus contatantes, visando postergar ou até mesmo evitar a transmissão comunitária. Tal medida foi usada na epidemia da SARGS, do Ebola e evitou que o novo coronavírus tivesse um efeito ainda mais devastador em cidades como Taiwan, Singapura e Hong Kong, mesmo estando próximos à China. A segunda fase, de mitigação, inicia quando a transmissão sustentada já existe no país. O objetivo dessa fase é diminuir o nível de transmissão da doença nos grupos de risco. Tais medidas são chamadas de “isolamento vertical” e são acompanhadas, geralmente, de algum grau de redução de contato social. Em geral, começa com o cancelamento de grandes eventos, suspensão de aulas e o fechamento de teatros e shoppings.  
A fase de supressão, ou isolamento horizontal, pode ser necessária quando as medidas anteriores não conseguem ser efetivas ou porque a redução alcançada no isolamento vertical já não é suficiente para conter o avanço do vírus. Nesta fase, afastam-se as pessoas por tempo suficiente para que o sistema de saúde se solidifique e se amplie a quantidade de testagem como uma ferramenta terapêutica e preventiva. Há controvérsias governamentais quanto a medidas de isolamento horizontal por causa das suas repercussões econômicas, sociais e psicológicas no âmbito populacional. Por fim, mas não menos importante, a fase de recuperação inicia quando o número de casos se torna residual. Esta requer uma organização da sociedade para a reestruturação social e econômica do país. Necessitando, certamente, de uma intervenção efetiva do estado. 
No Brasil, o panorama é incerto e as estimativas estatísticas esbarram na falta de dados confiáveis, seja no número absoluto de casos ou na implementação efetiva de medidas de supressão, frente às recomendações contraditórias das autoridades em cada nível de governo. Pouco se sabe como a epidemia se propagará e afetará as comunidades de baixa renda, um panorama novo, considerando os países mais afetados até o momento. É válido ressaltar que a epidemia de COVID-19 encontra a população brasileira em situação de extrema vulnerabilidade, com altas taxas de desemprego e com uma intensa redução de valores investidos em saúde e pesquisas. É justamente nesses momentos em que se percebe a importância de investimentos em ciência, tecnologias e um sistema de saúde que garanta o direito universal em saúde.  

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