Desigualdades raciais em saúde e a pandemia da COVID-19
Goes, E. F., Ramos, D. O., & Ferreira,
A. J. F. (2020). Desigualdades raciais em saúde e a pandemia da Covid-19. Trabalho,
Educação e Saúde, 18(3).
Resenhado por
Renata Elly
A
pandemia do novo coronavírus tem sido um maior desafio para populações
vulneráveis. O Brasil é um país que apresenta diversas desigualdades internas,
concebidas, sobretudo, pelo racismo. O racismo é um processo histórico e um
sistema estruturante, gerador de comportamentos, crenças, preconceitos e
práticas, que fundamentam desigualdades evitáveis e injustas entre grupos
sociais, baseadas pela raça ou etnia. O racismo é também estudado como um
determinante social da saúde, uma vez que expõe mulheres e homens negros a
situações mais vulneráveis de adoecimento e morte, além de influenciar no
acesso desse público aos sistemas de saúde e qualidade dos atendimentos.
Estudos
indicaram que a população afro-estadunidense é a menos testada nos EUA, quando
comparecem para o atendimento apresentando sintomas característicos da
Covid-19. Em alguns estados, a exemplo de Michigan, a população negra é 14% da
população e apresenta 30% dos casos positivos da Covid-19, apesar da
subnotificação. Em Chicago, os afro-estadunidenses representam 29% da população
da cidade e 70% das mortes (dados de abril de 2020). A análise mais elaborada
nos EUA, no entanto, ainda não é possível, uma vez que não existam dados a
respeito de todos os estados e cidades sobre a testagem distribuída por raça ou
etnia.
No
Brasil, considerando a ausência de vários direitos, sabe-se que o desfecho
negativo e um sofrimento mais severo pode atingir em maior grau a população
negra. Em relação a outras doenças, a população negra apresenta maior
prevalência em comparação a população branca, a exemplo da hipertensão e
diabetes. O presente artigo, diante dos motivos apresentados acima, coloca a
população negra como mais um grupo de risco para Covid-19, além dos indicados
pela OMS, como idade maior que 60 anos e portadores de doenças
imunossupressoras e hematopoiéticas. Os locais onde reside uma significativa
proporção da população negra são precários e sem acesso a serviços básicos de
saneamento, água potável e serviços de saúde, resultando no acúmulo de agravos
à saúde.
A
população negra é também a que ocupa a maior parte dos trabalhos informais e está
sendo condicionada a não adoção da principal medida de prevenção da Covid-19, o
distanciamento social. Em estudos realizados nos EUA, a população que
apresentava melhores índices de distanciamento é a branca, rica e com maior
escolaridade. O combate ao racismo está para além das demandas atuais da
pandemia, porém, o presente cenário demanda ações específicas de proteção
social que não estão sendo cumpridas e, por isso, deve ser exigido maior
transparências dos órgãos, maior realização de testes em áreas vulneráveis e na
população privada da liberdade.
Diante
disso, é possível notar que a pandemia é vivenciada de forma diferente a partir
do local que você ocupa na sociedade e as políticas públicas disponíveis. A
Psicologia da Saúde insere-se nesse contexto demonstrando a importância de
maior equidade entre populações de diferentes classes e raça, para uma maior
prevenção e cuidados em saúde, o que, possivelmente, melhoraria os números
relacionados aos óbitos e casos da pandemia da Covid-19.
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