Associações entre facetas e aspectos da personalidade segundo o modelo dos Cinco Grandes Fatores e transtornos afetivos: Uma revisão sistemática e síntese das melhores evidências
Lion,
K. A., Elliott, R., Ware, K., Juhasz, G., & Brown, L. J. E. (2021). Associations
between facets and aspects of Big Five Personality and affective disorders: A systematic
review and best evidence synthesis. Journal of Affective Disorders, 288,
175-188. https://doi.org/10.1016/j.jad.2021.03.061
Resenha por
Brenda Fernanda
Os
transtornos afetivos figuram como os principais acometimentos da saúde mental, com
os transtornos ansiosos como mais prevalentes, seguidos pelos transtornos de
humor. Estas condições também ocasionam um impacto significativo no que diz
respeito aos custos, sendo fundamental identificar fatores de risco. O modelo
dos Cinco Grandes Fatores (Big Five) propõe que a personalidade pode ser
descrita em cinco grandes traços de personalidade: neuroticismo (referente à
reatividade ao estresse e evitação), extroversão (referente à sociabilidade e
emoção positiva), conscienciosidade (referente à recompensa adiada e
organização), amabilidade (referente à polidez e compaixão) e abertura à
experiência (referente à criatividade e apreciação estética). Os traços de
personalidade do Big Five se correlacionam com transtornos afetivos,
sendo o neuroticismo considerado um fator de risco, e a conscienciosidade e
extroversão fatores de proteção. Entretanto, as relações entre transtornos
afetivos e outros traços de personalidade são menos claras, havendo a
necessidade de conhecê-las melhor.
Frente
a essa lacuna, realizou-se uma revisão sistemática da literatura, a fim de
identificar estudos que investigaram as associações entre os traços de
personalidade e transtornos afetivos. As facetas do Big Five foram mensuradas
utilizando o NEO-PI-R e os aspectos usando o BFAS. As bases de dados utilizadas
foram: PsycINFO, EMBASE, MedLine e OpenGrey, sendo contemplado artigos
de 1º de janeiro de 1985 a 30 de junho de 2020. Quinze estudos preencheram os
critérios e relataram um total de 408 associações. Os dados foram analisados usando
a síntese das melhores evidências.
Os
cinco grandes construtos de personalidade existem dentro de uma hierarquia, desde
traços amplos a facetas estreitas, permitindo que a personalidade seja
considerada em diferentes níveis de especificidade. Várias medidas de construtos
de personalidade de ordem inferior foram desenvolvidas, de modo que cada
construto mais amplo é dividido em seus componentes estatisticamente mais
robustos. Assim sendo, a maioria das facetas do neuroticismo associou-se positivamente
aos transtornos afetivos. Emoções positivas na extroversão e competência e
autodisciplina na conscienciosidade estiveram negativamente associadas aos
transtornos afetivos. A confiança na amabilidade e as ações na abertura à
experiência associaram-se negativamente aos transtornos de ansiedade, ao passo
que a fantasia na abertura à experiência associou-se positivamente aos
transtornos de ansiedade. No nível de aspecto, a retirada no neuroticismo foi
positivamente associada ao transtorno depressivo maior (TDM), enquanto a
diligência na consciência foi negativamente associada ao TDM.
Conclui-se
que o neuroticismo, emoções positivas, competência e autodisciplina
correlacionam-se com vários transtornos ansiosos e depressivos. Essas facetas
podem ser marcadores genéticos para transtornos afetivos em geral. Estudos como
este são relevantes para a Psicologia da Saúde, pois identificam fatores de
risco para o adoecimento mental, possibilitando que intervenções específicas
sejam pensadas.
Nenhum comentário: