Personalidade e fadiga: metanálise de sete estudos prospectivos

 

Stephan, Y., Sutin, A. R., Luchetti, M., Canada, B., & Terracciano, A. (2022). Personality and fatigue: meta-analysis of seven prospective studies. Scientific Reports, 12(1), 1-8. https://doi.org/10.1038/s41598-022-12707-2

Resenhado por Lucas Souza

 

A fadiga caracteriza-se pela sensação a sensação de cansaço crônico, de falta de motivação e diminuição da energia. Essa queixa é frequente nos serviços de atenção primária em saúde e pode ser um indicador ruim em saúde por estar associado com síndrome de fragilidade em idosos, limitação de atividades de vida diária, doença cardiovascular e maior mortalidade. O presente estudo objetivou investigar o papel dos traços de personalidade descritos no modelo dos Cinco Grandes Fatores (CGF) de personalidade no surgimento queixa de fadiga em estudos prospectivos.

            Trata-se de um estudo do tipo metanálise realizado com sete estudos do tipo coorte em três nacionalidades distintas: Estados Unidos, Holanda e Inglaterra. Ao todo, somou-se 41006 participantes que realizaram seguimento de 5 a 20 anos. Em todos os estudos foram mensurados os traços de personalidade do modelo CGF, fadiga, fatores sociodemográficos (idade, sexo, nível educacional) e outras covariáveis como inatividade física autoavaliada e saúde geral autoavaliada. Para mensuração da personalidade foram utilizados os seguintes questionários: versões de 26, 21 e 10 itens do Midlife Development Inventory (MIDI), a versão de 50 itens do International Personality Item Pool (IPIP) e a versão de 29 itens do Big Five Inventory (BFI). Para avaliação da presença de fadiga, os estudos utilizaram dois itens do questionário Center for Epidemiologic Studies-Depression (CES-D). A autoavaliação da saúde física e da inatividade física foram acessadas por escalas do tipo likert diferentes em cada estudo. A análise dos dados foi realizada separadamente e os resultados foram combinados utilizando o programa Comprehensive Meta-Analysis para realização de análises descritivas e regressões logísticas.

            Os resultados mostraram que o traço neuroticismo foi relacionado com maior incidência de fadiga (OR = 1,73, IC 95% 1,62-1,86). Cada desvio padrão nos níveis de neuroticismo esteve relacionada com aumento em 70% na probabilidade de desenvolver fadiga. Níveis mais elevados de extroversão (OR = 0,73, IC 95% 0,64-0,83), conscienciosidade (OR = 0,67, IC 95% 0,62-0,74), abertura (OR = 0,86, IC 95% 0,77-0,95) e amabilidade (OR = 0,85, IC 95% 0,78-0,93) apresentaram efeito protetivo em relação ao desenvolvimento de fadiga. A relação entre neuroticismo e fadiga se dá por diversos mecanismos prováveis: a vivência de afetos negativos de forma mais intensa pode se traduzir em fadiga; a tendência comportamentos pouco saudáveis e a relação com condições crônicas como a síndrome metabólica, dor e dificuldades para dormir. A tendência básica relacionada a altos níveis de energia nos indivíduos mais extrovertidos e a aderência aos comportamentos em saúde naqueles com maior conscienciosidade podem ajudar a entender essas relações o seu papel protetor em relação à fadiga. Por fim, a amabilidade e a abertura apresentam menor relação com a fadiga, contudo, seu poder protetor pode estar relacionado com melhores indicadores em saúde de modo geral.

Esse estudo contribui com a psicologia da saúde ao tentar compreender melhor o desenvolvimento da queixa de fadiga através das relações que pode apresentar com os traços de personalidade descritos no modelo CGF. A identificação de fatores de risco para o surgimento da queixa de fadiga pode ajudar a identificar os indivíduos de maior risco e melhorar as estratégias de intervenção para promoção da saúde.

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