Desfechos em saúde mental de adultos que desenvolveram depressão na adolescência
Johnson, D., Dupuis, G., Piche, J., Clayborne, Z.,
& Colman, I. (2018). Adult mental health outcomes of adolescent depression:
A systematic review. Depression
and anxiety, 35(8),
700-716. https://doi.org/10.1002/da.22777
Resenhado
por Luiz Guilherme L. Silva.
A depressão é um transtorno mental com
início precoce, sendo comum o desenvolvimento na infância ou adolescência.
Estima-se que adolescentes com até 18 anos tenham de 8 a 20% de chances de
desenvolver o transtorno. Apesar do avanço com tratamentos de transtornos
mentais, essas doenças estão entre as 10 que mais causam incapacidade
globalmente, sendo que os custos anuais extrapolam os 50 bilhões de dólares nos
EUA. Ressalta-se a importância de estudar depressão, pois adolescentes
diagnosticados têm até 5 vezes mais chances de tentar suicídio e duas vezes
mais de desenvolver um transtorno depressivo recorrente. Na adultez, esses
pacientes podem apresentar comportamentos suicidas, sobretudo aqueles em que
têm depressão severa de curso crônico. Outro quadro associado à depressão é a
ansiedade, visto que mais da metade dos pacientes adultos também satisfazem
critérios a um diagnóstico de transtorno de ansiedade. Assim, o estudo
objetivou sintetizar os achados relativos à depressão, ansiedade e
comportamentos suicidas em adultos que tiveram depressão na adolescência.
Uma revisão sistemática foi conduzida
nas bases de dados Medline, EMBASE e PSYCinfo para
identificar estudos observacionais que investigavam a depressão na adolescência
e a psicopatologia na adultez. Os autores excluíram estudos que não
contemplassem medidas exclusivas do transtorno depressivo maior. Foram
encontrados 3682 artigos e, após a aplicação dos critérios de inclusão e
exclusão, restaram 20 estudos que compuseram a revisão sistemática e 11 estudos
a metanálise.
Encontrou-se que a prevalência da
depressão foi de 10 a 43% para os adultos e que em afro-americanos a
prevalência em adolescentes foi de 12% e entre 15 a 26% em adultos. Diferenças
de gênero foram encontradas apontando maior prevalência de depressão no gênero
feminino tanto em adolescentes quanto adultas. Encontrou-se que as chances de
um adulto desenvolver depressão tendo apresentado depressão na adolescência foi
de 2,8 vezes maior. Também se observou que adolescentes com depressão tinha 2,5
vezes mais chances de desenvolver depressão quando adultos. A ansiedade na
adultez foi uma variável associada à depressão na adolescência. A prevalência
de ideação suicida variou entre 9 e 13%, ao passo que a tentativa de suicídio
foi de 4 a 6%. Alguns estudos mostraram associação entre a depressão na
adolescência e a ideação e tentativa de suicídio.
A depressão apesar de ser um transtorno
mental tratável, é dada pouca relevância acerca dessa questão, sobretudo na
adolescência. A Psicologia pode colaborar para a modificação desse cenário se
aproveitando da sua inserção em diversos âmbitos, a exemplo da Psicologia Escolar,
a qual pode identificar indivíduos com sintomas depressivos relevantes e fazer
o devido encaminhamento para profissionais clínicos. Outra área que pode
contribuir com a mudança do atual panorama é a Psicologia da Saúde, uma vez que
podem identificar possíveis pacientes e elaborar intervenções mais eficazes e
com menor custo, se beneficiando do uso da internet e de outras ferramentas
disponíveis. Vale ressaltar, contudo, que um possível empecilho ao contato com
os pacientes deprimidos é que, muitas vezes, eles apenas procuram tratamento
quando se encontram em fase aguda, na qual são comuns os pensamentos de
desesperança e suicídio.
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