Síndrome do intestino irritável e qualidade de vida em mulheres com incontinência fecal

 

Markland, A. D., Jelovsek, J. E., Rahn, D. D., Wang, L., Merrin, L., Losavio, A., ... & Meikle, S. (2017). Irritable bowel syndrome and quality of life in women with fecal incontinence. Female pelvic medicine & reconstructive surgery, 23(3), 179-183. doi: 0.1097/SPV.0000000000000358

Resenhado por Luanna Silva

 

A Síndrome do Intestino Irritável (SII) e Incontinência Fecal (IF) são classificadas como distúrbios gastrointestinais funcionais devido à ausência de explicações de etiologia fisiológica. A SII é marcada por dor ou desconforto abdominal recorrente e hábitos intestinais alterados. Essa condição é classificada em 4 subtipos caracterizados pela presença de sintomas de constipação (SII-C), diarreia (SII-D), combinação dos quadros de constipação e diarreia (SII-M) e pela inespecificidade de sintomas (SII-U). Por sua vez, a IF consiste na incapacidade de controlar a eliminação das fezes. Tanto a SII quanto a IF são frequentemente mais diagnosticadas em mulheres do que em homens. Adicionalmente, as pesquisas apontam associação entre esses distúrbios, sendo identificado que os índices de ocorrência de SII são elevados entre mulheres com IF.

Os objetivos deste estudo foram investigar a prevalência de SII e seus subtipos em mulheres diagnosticadas com IF e avaliar o impacto da SII nos sintomas de incontinência fecal e na qualidade de vida dessa população. Participaram 119 mulheres diagnosticadas com IF recrutadas em clínicas de cuidados especializados. O diagnóstico para SII e a classificação dos subtipos da doença foi realizado através da aplicação do Rome III Questionnaire. Além disso, as participantes responderam medidas para a avaliação da qualidade de vida, severidade dos sintomas dos distúrbios apresentados, histórico médico e dados sociodemográficos.

Os resultados indicaram que 35% das participantes cumpriram os critérios diagnósticos da SII, sendo mais comum o subtipo com combinação dos quadros de constipação e diarreia (41%). No que se refere às características sociodemográficas (idade, cor da pele e etnia) não foram identificadas diferenças estatisticamente significativas entre as mulheres com sintomas exclusivos de IF e aquelas com sintomas de IF e SII. Foi verificado que quando comparadas às participantes diagnosticadas somente com IF, as pacientes com as 2 condições apresentaram médias de escores desfavoráveis em todos as medidas de qualidade de vida e severidade de sintomas.

Identificar a SII e seus subtipos entre as mulheres com IF é importante, pois pode contribuir para alcançar melhores desfechos. Por exemplo, reconhecer a associação entre esses quadros deve ser considerado no processo de escolha do tratamento ofertado, uma vez que intervenções não cirúrgicas podem ser mais apropriadas para pacientes com SII e IF. Ademais, é preciso dar atenção à saúde mental dessas mulheres. O maior grau de severidade dos sintomas, a dor constante associada ao quadro de SII e a percepção de que a presença da comorbidade provoca dificuldades no tratamento podem ocasionar danos psicológicos, a exemplo dos prejuízos na qualidade de vida identificados neste estudo.

Ser do gênero feminino é considerado fator de risco para variadas condições de adoecimento físico e mental. Aspectos como os papéis sociais, as normas e relações de gênero ajudam a entender a situação de vulnerabilidade dessa população. O trabalho de psicólogos da saúde promove a compreensão da variabilidade no enfrentamento e ajustamento desse grupo, assim como possibilita a construção de intervenções adequadas para esse público.

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