O papel da desregulação emocional no suicídio como considerado através do quadro de ideação para ação
Law,
K. C., Khazem, L. R., & Anestis, M. D. (2015). The role of emotion
dysregulation in suicide as considered through the ideation to action
framework. Current Opinion in Psychology, 3, 30-35. https://doi.org/10.1016/j.copsyc.2015.01.014
Resenhado por Maísa
Carvalho
O suicídio, fenômeno multifatorial
associado a diferentes desfechos psicológicos, é resultante de um comportamento
deliberado e auto infligido com o intuito de morrer. O comportamento suicida
engloba a ideação suicida, a tentativa e o suicídio propriamente dito. Entretanto,
de acordo com a Teoria Interpessoal do Suicídio, há diferença entre os
indivíduos que apenas idealizam e os que engajam em comportamentos suicidas. Além
disso, a teoria postula que o desejo e a capacidade para o suicídio podem estar
presentes tanto em comportamentos suicidas graves ou letais. Esse desejo é
especialmente dirigido por duas distorções cognitivas específicas:
pertencimento frustrado, em que o indivíduo sente que carece de relacionamentos
interpessoais significativos, e a sobrecarga percebida, traduzida em uma
incapacidade de fazer contribuições significativas para o mundo e em uma
sensação de responsabilidade para outrem. A capacidade para tal fenômeno é
adquirida após longas experiências dolorosas e/ou provocativas, resultando em
aumento da tolerância à dor e à falta de medo da morte ou danos corporais.
Nesse panorama, a literatura evidencia uma associação entre a desregulação
emocional (DE) e o suicídio, mesmo sem uma psicopatologia diagnosticada. Como
forma de clarificar essa relação, o estudo objetivou escrutinar a associação
entre a DE, a ideação suicida, a capacidade adquirida e as tentativas de
suicídio.
Sabe-se que indivíduos desregulados
emocionalmente estão mais propensos a pensarem e a tentarem suicídio,
entretanto, o pensar não implica necessariamente na ação e a DE vem se
mostrando como um obstáculo que medeia a relação entre a ideação e a capacidade
de agir conforme esses pensamentos. Para que um indivíduo se envolva em uma
tentativa grave, é necessário que ele supere a capacidade de superar as suas
tendências inatas de sobrevivência. Um padrão de comportamentos que impliquem
em dor e/ou ações letais superam essa barreira, os quais são associados à DE. Além
disso, pessoas que possuem problemas em tolerar e regular emoções intensas
adquirem a capacidade para o suicídio instigando comportamentos
autodestrutivos, como o uso de drogas intravenosas e autolesão não suicida. Dessa
forma, um dos componentes centrais da capacidade adquirida é a grande habilidade
para tolerar desconfortos físicos e emocionais. A DE, por outro lado, também
pode agir como um impeditivo, visto que uma das suas expressões é tentar
reduzir experiências emocionais aversivas, sendo um empecilho para
comportamentos letais ou autodestrutivos. Concernente às tentativas, há evidências
que consolidam a relação entre a DE e o risco de tentar suicídio, todavia, o
comportamento suicida não é dirigido diretamente pela DE. Fatores como a
urgência negativa, que é uma tendência a agir de forma precipitada em meio a
estados negativos agudos, e a impulsividade são outros elementos que aumentam
esse risco.
A DE vem sendo considerada como um fator
transdiagnóstico para diferentes desfechos disfuncionais em saúde, por exemplo,
transtornos de ansiedade, comportamento suicida, entre outros, mas também é
identificada em populações não clínicas. Apesar disso, é necessária a
realização de mais estudos com o escopo da Psicologia da Saúde que possam
avaliar melhor o comportamento dessa variável e os efeitos das suas nuances nas
mais diversas populações e contextos, especialmente o suicídio. As intervenções
preventivas em DE também são de suma importância como forma de prevenir
psicopatologias e, para tal, o uso combinado de técnicas baseadas em evidências
para esse construto, a exemplo da Terapia Comportamental Dialética, vem
mostrando-se eficazes para reduzir os problemas ocasionados pela DE.
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