Modelo de expectativa do medo, ansiedade e pânico
Reiss, S.
(1991). Expectancy model of fear, anxiety, and panic. Clinical Psychology Review, 11(2), 141–153. https://doi.org/10.1016/0272-7358(91)90092-9
Resenhado por Amanda Feitosa
Reiss direcionou
a pesquisa da psicologia do condicionamento clássico e operante, para modelos
de expectativa e processamento de informação. Com o modelo de expectativa do
medo, ele propõe que existem três medos fundamentais (chamados de sensibilidades):
medo de lesão, medo da ansiedade e medo de avaliação negativa. É proposto que o
modelo se concentre na sensibilidade à ansiedade, o medo do medo. A
sensibilidade à ansiedade é definida como crenças sobre consequências pessoais
de experimentar ansiedade. Assim, o estudo objetivou resumir o modelo de
expectativa do medo e revisar estudos recentes que avaliam o modelo. O artigo
sugere direções para futuras pesquisas, baseado nas hipóteses discutidas.
A motivação
humana para evitar objetos temidos é função de duas classes: expectativa e
sensibilidade. A primeira diz respeito ao que a pessoa acredita que irá
acontecer, ao passo que a segunda se refere ao que a pessoa tem medo caso o
evento temido aconteça. Por exemplo, a pessoa pode ter a expectativa de que um
cachorro irá lhe morder, e a sensibilidade pode ser que se o cachorro lhe
morder, então pode ser infectada ou ter uma lesão grave na perna. A primeira é
o medo do acontecimento em si, e a segunda é o medo das consequências desse acontecimento,
sendo a interpretação da pessoa. Existem diferenças individuais de como as
pessoas tem expectativas sobre uma situação/objeto específico, assim como as
sensibilidades aos resultados dos eventos temidos.
A primeira
hipótese afirma que alguns medos são motivados parcial ou totalmente por
expectativas e sensibilidades à ansiedade. As crenças de ansiedade antecipam o
medo, sendo um fator de risco e não somente consequência do encontro com o
objeto temido. Achados mostram que pessoas com fobias de animais temem
diferentes situações ao se deparar com o estímulo aversivo, a saber, vergonha,
ataque físico, ter um infarto e se preocupar com sua sanidade. Percebe-se como
alguns medos são motivados por antecipação de perigo, expectativa de ataques de
pânico, entre outros.
A segunda
hipótese afirma que a sensibilidade à ansiedade é uma variável de diferença
individual que é medida pelo Anxiety
Sensitivity Index (ASI), o qual é superior a outras medidas de traço de
ansiedade na avaliação do transtorno de pânico. Estudos psicométricos mostram
que o construto pode ser considerado um traço da personalidade e que difere da
ansiedade-traço, sendo o ASI uma medida robusta e válida para mensurar a
variável. Outra hipótese é que alta sensibilidade à ansiedade está fortemente
associada ao medo, ou seja, pessoas que pontuam mais no ASI devem ter medo de
muitos objetos e situações diferentes. Estudos mostram que maior sensibilidade
à ansiedade se associa ao medo de maior variedade de situações.
Outra hipótese
levantada é que a sensibilidade à ansiedade interfere em outros quadros
ansiosos além da agorafobia, e que é um fator de risco para transtornos
ansiosos. Observa-se nas pesquisas que apesar da forte associação das duas, a
sensibilidade à ansiedade também é encontrada em fobias, abuso de substâncias,
transtorno de estresse pós-traumático e outros quadros clínicos. Nota-se também
como o construto aumenta as reações a um desafio biológico, hiperventilação,
mesmo controlando os efeitos da ansiedade-traço e de um histórico de pânico.
Os achados são
relevantes para a Psicologia da Saúde visto a alta prevalência de transtornos
ansiosos em quadros de saúde, assim como a influência clínica considerável da
sensibilidade à ansiedade na intensificação dos sintomas e surgimento dos
transtornos. A utilização de instrumentos confiáveis na mensuração do construto
e o entendimento de seu impacto na intervenção clínica é essencial para
aprimorar seja a prática clínica individual assim como a formulação de ações de
prevenção por autoridades de saúde.
Nenhum comentário: