Efeito de antidepressivos e terapias psicológicas na síndrome do intestino irritável
Ford, A. C., Lacy, B. E., Harris, L. A., Quigley, E.
M., & Moayyedi, P. (2019). Effect of antidepressants and psychological
therapies in irritable bowel syndrome: An updated systematic review and
meta-analysis. Official journal of the American College of Gastroenterology,
114(1), 21-39. doi: 10.1038/s41395-018-0222-5
Resenhado por Luanna Silva
A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é
classificada como um distúrbio da interação intestino-cérebro. As condições
gastrointestinais dessa classe são caracterizadas pela motilidade perturbada,
hipersensibilidade visceral, função imune da mucosa alterada, perturbações na
microbiota intestinal e processamento alterado do sistema nervoso central. Antidepressivos
e terapias psicológicas podem ser benéficos para o tratamento dos distúrbios
gastrointestinais funcionais devido aos seus efeitos no sistema nervoso central,
na percepção da dor, hipersensibilidade visceral e motilidade gastrointestinal.
Contudo, ainda que a prescrição de antidepressivos para pacientes com SII seja
frequente, o mesmo não ocorre com as intervenções psicológicas. É possível que
a assistência psicológica não seja considerada um passo padrão no tratamento da
SII devido às limitações de acesso, dúvidas dos profissionais de saúde sobre
sua eficácia e à estigmatização que ainda existe quanto a busca por
psicoterapia.
Neste estudo foi realizada atualização
de uma revisão sistemática e metanálise publicada no ano de 2015. As buscas
foram realizadas nas seguintes bases de dados: MEDLINE, EMBASE, PsychINFO e Cochrane
Controlled Trials Register. Foram
incluídos ensaios clínicos randomizados que examinassem o efeito de
antidepressivos e terapias psicológicas em pacientes com idade superior a 16 anos
com diagnóstico de SII. A
estratégia de busca identificou 5316 trabalhos. Após análise e aplicação dos
critérios de exclusão foram identificados cinco novos estudos desde a última
revisão. No total, foram analisados 18 artigos que investigaram o efeito de
antidepressivos e 34 que avaliaram o efeito de intervenções psicológicas.
Os resultados demonstraram que os
antidepressivos e as terapias psicológicas são eficazes no tratamento da SII.
Dentre as intervenções psicológicas, a terapia cognitiva comportamental,
terapia de relaxamento, terapia psicológica multicomponente, hipnoterapia e
psicoterapia dinâmica foram eficazes na redução dos sintomas de SII. Abordagens
psicoterapêuticas que reduzem o contato pessoal com os pacientes, como terapias
ofertadas pela internet ou TCC de contato mínimo, não apresentaram benefícios.
De modo semelhante, mindfulness e gerenciamento de estresse não
apresentaram evidências de eficácia.
É preciso destacar que poucos estudos
psicológicos apresentaram baixo risco de viés. Por exemplo, muitos trabalhos
apresentaram baixos tamanhos de efeito e amostras pequenas. Além disso, foi
identificada evidência de heterogeneidade, o que pode levar a superestimação do
efeito do tratamento psicológico. Ainda que seja preciso levar em conta as
limitações enfrentadas na realização de ensaios clínicos randomizados em
psicologia, como por exemplo a dificuldade em adotar o método duplo cego, esses
achados apontam a necessidade de considerar com mais cautela as questões
metodológicas. Pesquisadores da psicologia da saúde podem contribuir para a
produção de trabalhos com maior rigor metodológico, colaborando para
investigação precisa dos efeitos das intervenções psicológicas em contextos de
adoecimento. Assim, será possível que a oferta de assistência psicológica se
consolide como recomendação padrão tanto para pacientes com SII, como para
outras condições de adoecimento físico.
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