Associação de depressão com risco de lúpus eritematoso sistêmico em mulheres avaliadas ao longo de duas décadas

Association of Depression With Risk of Incident Systemic Lupus Erythematosus in Women Assessed Across 2 Decades

Roberts, A. L., Kubzansky, L. D., Malspeis, S., Feldman, C. H. & Costenbader, K. H. (2018). Association of Depression With Risk of Incident Systemic Lupus Erythematosus in Women Assessed Across 2 Decades. JAMA Psychiatry, 75 (12) 1225 – 1233.

Resenhado por Joelma Araújo

Vários estudos sugerem que a depressão pode ser um fator de risco para doenças autoimunes. O artigo em questão investigou a associação da depressão com o lúpus eritematoso sistêmico (LES), um distúrbio autoimune, potencialmente grave, caracterizado pelo amplo envolvimento do sistema orgânico e está associado à morbidade de forma precoce. O maior estudo transversal, realizado por Bachen, Chesney e Criswell (2009), constatou que mulheres com LES relataram uma prevalência 1,7 vezes maior de depressão do que as mulheres na população em geral
Segundo os autores do artigo, para determinar se a depressão aumenta o risco de LES, é fundamental considerar as estruturas causais possíveis: (1) a depressão pode ser um sintoma precoce do LES; (2) os sintomas pré-diagnóstico do LES podem levar à depressão; e (3) o LES pode ser inicialmente diagnosticado como depressão. Se a depressão realmente contribui para o risco de LES, é importante considerar como se dá essa influência. A depressão leva ao aumento da inflamação crônica, marcada por níveis mais altos de biomarcadores, o que é parcialmente explicado por fatores de saúde, como maior índice de massa corporal (IMC) e tabagismo.  Assim, uma maior prevalência de fatores de risco à saúde entre pessoas com depressão pode ser responsável por um risco aumentado de desenvolver LES.  Portanto, o estudo visou investigar se existe uma associação entre o risco da incidência de LES e o diagnóstico de depressão, relacionando também com o papel potencial dos fatores de risco à saúde.
Para tanto, realizou-se um estudo de coorte longitudinal e prospectivo de 20 anos que avaliou dados coletados de dois grupos de coortes de mulheres participantes do Estudo de Saúde das Enfermeiras (1996-2012) e do Estudo de Saúde das Enfermeiras II (1993-2013).  Foram incluídos dados de 194.483 mulheres (93% brancas; 28-93 anos). Durante o acompanhamento, ocorreram 145 casos de LES. Comparadas com mulheres sem depressão, as com histórico depressivo tiveram um aumento subsequente do risco de LES (HR, 2,67; IC 95%, 1,91-3,75; p  <0,001). O ajuste do índice de massa corporal, contracepção oral, tabagismo e hormônio pós-menopausa usam associações levemente atenuadas (FC ajustada, 2,45; IC 95%, 1,74-3,45; P <0,001). O risco de LES foi elevado com cada um dos três seguintes indicadores de depressão modelados separadamente: diagnóstico clínico de depressão (FC, 2,19; IC95%, 1,29-3,71), uso de antidepressivos (HR, 2,80; IC95%, 1,94-4,05) e os escores do MHI-5 indicando humor deprimido (HR, 1,70; IC95%, 1,18-2,44). As associações permaneceram fortes quando o status de depressão foi defasado em 4 anos em relação ao resultado (HR, 1,99; IC 95%, 1,32-3,00) e quando o status de depressão na linha de base foi usado como exposição (HR, 2,28; IC95%, 1,54 -3,37).
Portanto, no referido estudo as mulheres com histórico de depressão apresentaram um aumento de mais de duas vezes no risco subsequente de desenvolver lúpus eritematoso sistêmico em comparação com mulheres sem depressão. O ajuste para comportamentos de saúde atenuou ligeiramente as associações. Dessa forma, a psicologia da saúde tem um papel importante em também desenvolver estudos e intervenções na área, visando à promoção de saúde e prevenção de agravos, já que a depressão também pode contribuir para incidência de LES. Além disso, o papel do psicólogo hospitalar é fundamental, pois o paciente com LES também requer um cuidado da saúde mental de forma contínua.  

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