O papel mediador da autoeficácia na relação entre a sobrecarga de trabalho e as dimensões de Burnout em professores
Resenhado por Luanna Silva
O estresse ocupacional tem implicações
negativas na saúde física e mental do trabalhador e quando é persistente pode
ocasionar a Síndrome de Burnout (SB). Frequentemente presente em
trabalhos em que existe pressão excessiva, conflitos e poucas recompensas
emocionais, a SB é composta por quatro dimensões: ilusão pelo trabalho é descrita pela avaliação
de que o trabalho proporciona desafios e realização pessoal; o desgaste
psíquico é definido pelo cansaço físico e emocional em decorrência do trabalho;
indolência se refere à presença de atitudes negativas frente aos colegas,
clientes e organização; por fim, culpa é a dimensão relacionada ao sentimento
de culpabilização por não atingir as expectativas associadas ao papel
profissional.
Professores estão entre os profissionais
que apresentam os maiores níveis de estresse ocupacional, por ser uma das
atividades laborais mais expostas a ambientes conflituosos e à exigência de
trabalho. Destaca-se, nesse processo, a ampliação da prática funcional docente.
Além de precisar ministrar aulas que atendam as novas demandas do atual
contexto educacional, os professores precisam lidar com trabalhos
administrativos, atividades extraescolares, atendimento a pais, cuidar do
patrimônio da instituição e manejar dificuldades de aprendizagem individuais
dos alunos. Contraditoriamente, o aumento de funções a desempenhar não se
reflete na remuneração, reconhecimento ou apoio. Assim, o professor vivencia
não somente sobrecarga de trabalho, mas também sobrecarga cognitiva e
emocional.
Fatores individuais como características
da personalidade, estratégias de enfrentamento e sistema de crenças são apontados
como mediador entre os estressores da SB. A autoeficácia, definida como um
conjunto de crenças sobre a capacidade pessoal em executar determinadas ações, demonstram
possuir relação negativa com Burnout. Os estudos mostram que
independente da profissão, a autoeficácia exerce papel importante no
desenvolvimento da SB. Especificamente em professores, conclui-se que docentes
com altos níveis de autoeficácia na gestão da sala de aula apresentam menores
níveis de Burnout, ainda que não contem com ambiente favorável ou com
suporte da administração.
Esse artigo avaliou se a autoeficácia
poderia funcionar como variável mediadora na relação entre a sobrecarga de
trabalho e as dimensões de SB. Participaram 982 professores que exercem
atividade docente em nove escolas públicas e seis escolas privadas localizadas
na zona urbana de três cidades da região metropolitana de Porto Alegre. Foram
utilizados como instrumentos de pesquisa o Questionário para Avaliação da Síndrome
de Burnout, versão para professores, a Escala Geral de Autoeficácia e a
subescala de sobrecarga laboral do Organizational Stress Questionnaire.
Os resultados obtidos por meio da análise de regressão linear confirmaram a
hipótese de que a autoeficácia desempenha um papel mediador entre a sobrecarga
de trabalho e as dimensões de Burnout.
Intervenções que contemplem o
desenvolvimento da autoeficácia em professores são um recurso eficaz tanto para
prevenir a ocorrência da SB como para reabilitar o docente, ajudá-lo a melhorar
seu desempenho e manter-se na profissão. Um dos objetivos da Psicologia da
Saúde é estudar e promover fatores de proteção à saúde dos indivíduos. Portanto,
ressalta-se a importância de estudar e elaborar intervenções que favoreçam o
desenvolvimento de mecanismos psicológicos protetivos, como a autoeficácia.
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