O papel mediador da autoeficácia na relação entre a sobrecarga de trabalho e as dimensões de Burnout em professores

 Carlotto, M. S., Silva, S. R. D., Batista, J. B. V., & Diehl, L. (2015). O papel mediador da autoeficácia na relação entre a sobrecarga de trabalho e as dimensões de Burnout em professores. Psico-USF, 20(1), 13-23.

Resenhado por Luanna Silva

O estresse ocupacional tem implicações negativas na saúde física e mental do trabalhador e quando é persistente pode ocasionar a Síndrome de Burnout (SB). Frequentemente presente em trabalhos em que existe pressão excessiva, conflitos e poucas recompensas emocionais, a SB é composta por quatro dimensões:  ilusão pelo trabalho é descrita pela avaliação de que o trabalho proporciona desafios e realização pessoal; o desgaste psíquico é definido pelo cansaço físico e emocional em decorrência do trabalho; indolência se refere à presença de atitudes negativas frente aos colegas, clientes e organização; por fim, culpa é a dimensão relacionada ao sentimento de culpabilização por não atingir as expectativas associadas ao papel profissional.
Professores estão entre os profissionais que apresentam os maiores níveis de estresse ocupacional, por ser uma das atividades laborais mais expostas a ambientes conflituosos e à exigência de trabalho. Destaca-se, nesse processo, a ampliação da prática funcional docente. Além de precisar ministrar aulas que atendam as novas demandas do atual contexto educacional, os professores precisam lidar com trabalhos administrativos, atividades extraescolares, atendimento a pais, cuidar do patrimônio da instituição e manejar dificuldades de aprendizagem individuais dos alunos. Contraditoriamente, o aumento de funções a desempenhar não se reflete na remuneração, reconhecimento ou apoio. Assim, o professor vivencia não somente sobrecarga de trabalho, mas também sobrecarga cognitiva e emocional.
Fatores individuais como características da personalidade, estratégias de enfrentamento e sistema de crenças são apontados como mediador entre os estressores da SB. A autoeficácia, definida como um conjunto de crenças sobre a capacidade pessoal em executar determinadas ações, demonstram possuir relação negativa com Burnout. Os estudos mostram que independente da profissão, a autoeficácia exerce papel importante no desenvolvimento da SB. Especificamente em professores, conclui-se que docentes com altos níveis de autoeficácia na gestão da sala de aula apresentam menores níveis de Burnout, ainda que não contem com ambiente favorável ou com suporte da administração.
            Esse artigo avaliou se a autoeficácia poderia funcionar como variável mediadora na relação entre a sobrecarga de trabalho e as dimensões de SB. Participaram 982 professores que exercem atividade docente em nove escolas públicas e seis escolas privadas localizadas na zona urbana de três cidades da região metropolitana de Porto Alegre. Foram utilizados como instrumentos de pesquisa o Questionário para Avaliação da Síndrome de Burnout, versão para professores, a Escala Geral de Autoeficácia e a subescala de sobrecarga laboral do Organizational Stress Questionnaire. Os resultados obtidos por meio da análise de regressão linear confirmaram a hipótese de que a autoeficácia desempenha um papel mediador entre a sobrecarga de trabalho e as dimensões de Burnout.
            Intervenções que contemplem o desenvolvimento da autoeficácia em professores são um recurso eficaz tanto para prevenir a ocorrência da SB como para reabilitar o docente, ajudá-lo a melhorar seu desempenho e manter-se na profissão. Um dos objetivos da Psicologia da Saúde é estudar e promover fatores de proteção à saúde dos indivíduos. Portanto, ressalta-se a importância de estudar e elaborar intervenções que favoreçam o desenvolvimento de mecanismos psicológicos protetivos, como a autoeficácia.

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