Homofobia na escola: relato de universitários sobre as piores experiências
Albuquerque,
P. P. & Williams, L. C. A. (2015).
Homofobia na escola: relatos de universitários sobre as piores experiências.
Temas em Psicologia,23(3), 663-676
doi: 10.9788/TP2015.3-11
Resenhado por Márcio Diego Reis
A escola enfrenta diversos desafios
para lidar como a diversidade, inclusive com a questão da homossexualidade e da
homofobia. A homofobia é definida como atitudes e comportamentos negativos
contra pessoas que se identificam como ou são percebidas como lésbicas, gays,
bissexuais ou transgêneros (LGBT). Quando essas atitudes e comportamentos aparecem
em ações ou palavras, há o risco de tornar-se bullying homofóbico e são
inúmeras as pesquisas que documentam a violência, o assédio e a falta de
segurança para os estudantes LGBT. Dentre os efeitos do bullying homofóbico listados na literatura, destacam-se: depressão,
transtorno de estresse pós-traumático, ideação suicida e/ou tentativa de
suicídio, abuso de drogas, práticas sexuais não seguras, desempenho escolar empobrecido,
comportamento violento, homofobia internalizada e culpa após a vitimização.
Diante do exposto, o estudo de Albuquerque e Williams (2015)
buscou descrever os relatos retrospectivos de estudantes universitários sobre
suas piores experiências escolares motivadas por homofobia, apontando a
duração, os principais agressores e os sintomas advindos dessas experiências. Para isso, foi utilizado
um banco de dados de um estudo mais amplo, do qual participaram 691 estudantes
de uma universidade pública, que responderam à Escala sobre Experiências
Escolares Traumáticas em Estudantes - Revisada (ExpT-R), composta por 58 itens que tratam das experiências aversivas
no contexto escolar e o autor da experiência, e 105 itens que tratam de
sintomas comuns após situações traumáticas. Desse estudo, foram selecionados
participantes que descreveram
vitimização escolar homofóbica como a pior experiência escolar, sendo tal
número igual a 21. A média de idade desses participantes foi de 21,3 anos;
sendo 14 do sexo masculino e 7 do sexo feminino.
Os resultados mostraram que os principais incidentes
relatados pelos estudantes foram os de vitimização verbal e as situações de
isolamento social por parte dos colegas. Quanto à idade que tinham na época da
pior experiência, a média foi de 11,4 anos. Dos alunos, 16 apontaram que
estavam no Ensino Fundamental e 4 no Ensino Médio; um deles afirmou que ocorreu
nos dois períodos. No que se refere à autoria da pior experiência, 19 apontaram
que foi de outros estudantes, 1 relatou a autoria de professor e 1 o
envolvimento de estudantes e de professor. Quanto ao sexo dos autores da
experiência, 18 participantes apontaram que o autor era do sexo masculino e apenas
2 apontaram que eram do sexo feminino. Os sintomas clinicamente significativos
desenvolvidos pelos participantes foram a hipervigilância, evitação, entorpecimento,
depressão, desesperança, reexperienciação do trauma, dissociação, excitabilidade
aumentada, somatização, desajustamento mental e comportamento opositivo.
Os relatos dos estudantes estão de acordo com os dados da
literatura no que se refere à frequência, duração das experiências,
tipos de violências e envolvimento de professores e de outros estudantes como
autores das piores experiências escolares homofóbicas. Os principais sintomas
descritos pelos participantes após tais experiências preocupam ao apontar
sérios impactos sobre o bem-estar e a saúde mental dos jovens, como risco de
depressão e suicídio. Esses estudantes encontram-se em situação de
vulnerabilidade, demandando, da psicologia da saúde, uma maior atenção a esses
públicos. Nesse sentido, cabem novos estudos que visem a descoberta de fatores
que interferem no ajustamento dos indivíduos nesse contexto, também que
indiquem estratégias de enfrentamento para estudantes que sofrem homofobia.
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