Estresse e estressores na pós-graduação


Faro, A. (2013). Estresse e estressores na pós-graduação: Estudo com mestrandos e doutorandos no Brasil. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 29(1), 51-60. doi:10.1590/S0102-37722013000100007

Resenhado por Danielle Alves Menezes

A produção científica no Brasil tem alcançado números cada vez maiores, considerando as últimas décadas, o que é atribuído ao crescimento do sistema de pós-graduação stricto sensu no país. Esse cenário tem relevado a importância da formação de cientistas, com destaque para exigência crescente de qualificação e volume de produção bibliográfica. Em razão disso, pós-graduandos são uma população potencialmente alvo de estressores que podem afetar o ajustamento psicossocial.
Considerando esse contexto, o artigo teve como objetivo identificar principais estressores que ocorrem na pós-graduação e determinar índice de estresse e variáveis a ele associadas, segundo mestrandos e doutorandos no Brasil. Participaram 2.157 pós-graduandos, que responderam a questões sobre perfil sociodemográfico, formação e atuação profissional, à Escala de Estresse Percebido e a uma lista contendo 28 possíveis estressores na pós-graduação.  A amostra contou com 61,9% de mestrandos e 38,1% de doutorandos, maioria do sexo feminino (71,0%), mediana de idade de 28 anos, maior participação de estudantes da região sudeste (36,2%; n = 780), pertencente a programas da área Ciências Biológicas (27,4%; n = 592). Os pós-graduandos não possuíam filhos em sua maioria, apesar de se encontrarem em relacionamentos estáveis.
Com relação ao nível de estresse, observou-se nível acima do esperado. Esse índice superou, inclusive, pontuações encontradas na mesma população em outros países. Discute-se que, para as mulheres, há uma carga adicional de estresse, o que poderia ser explicado pelo fato de que demandas sociais sobrecarregam sua capacidade adaptativa. Identificou-se que quanto menor renda o estudante possuía, maior nível de estresse, fato associado à dependência de bolsas de estudos e, consequentemente, ao desemprego decorrente dessa condição. Outra relação encontrada foi da proximidade do final do curso e maiores índices de estresse, o que atuaria elevando preocupações acerca da vida profissional posteriormente.
Análise de itens da lista de estressores considerados para mensurar nível de preocupação revelou que o fator Tempo e Recursos Financeiros, o Indicador de Dificuldades e o fator Supervisão e Desempenho foram os mais importantes conjuntos de estressores. Isso pode ser compreendido pelo fato de que o estudante de pós-graduação se encontra constantemente tensionado entre manter atividades ligadas ao curso versus atividades não ligadas ao curso. Dentre estas, a atividade laboral surge como importante dilema ante a necessidade de cumprir prazos e atingir nível considerável de excelência. Soma-se a isso o indicador Dificuldade, e fator Supervisão e Desempenho, representados pelo volume de elementos pré-requisitos para alcançar, com êxito, satisfação e reconhecimento, sua titulação.
O estudo conclui que os estressores identificados podem tornar a experiência da pós-graduação como “estudo-sofrimento”, contribuindo para o descontentamento e desencorajamento frente à carreira acadêmica, além de interferir de forma deletéria na saúde mental de estudantes. Frente a isso, conhecimentos oriundos da psicologia da saúde poderiam embasar melhor compreensão do adoecimento mental em mestrandos e doutorandos, além de incrementar estratégias de programas de prevenção nas universidades, o que contribuiria para melhora do ajustamento psicológico desse público.

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