Diferenças de gênero no transtorno obsessivo-compulsivo: uma revisão da literatura
Gender
differences in obsessive-compulsive disorder: A literature review
Mathis M. A., Alvarenga,
P.D., Funaro, G., Torresan, R.C., Moraes, I., Torres, A, R., Zilberman, M.L.,
& Hounie, A.G. (2011). Gender differences in obsessive-compulsive disorder:
a literature review. Brazilian Journal Psychiatry. doi: 10.1590/s1516-44462011000400014
Resenhado por
Millena Bahiano
O transtorno obsessivo-compulsivo
(TOC) é caracterizado pela presença de obsessões e/ou compulsões, sendo necessário
que pensamentos, ideias, impulsos e/ou comportamentos persistentes e
repetitivos impliquem em sofrimento ou incômodo ao indivíduo ou a seus
familiares. O gênero
possui um papel importante no que se refere aos fatores neurobiológicos,
psicossociais e comportamentais em vários transtornos psiquiátricos, incluindo
o TOC. Ao passo em que sexo é um conceito baseado em aspectos biológicos,
gênero se conceitua de forma mais ampla, podendo incluir uma diversidade de
aspectos psicossociais, a saber atitudes, sentimentos, valores, comportamentos
e atividades, os quais por meio de um processo de construção social acabam por estabelecer
diferenças entre homens e mulheres.
Esta pesquisa se
trata de uma revisão da literatura cujo objetivo foi investigar as diferenças de gênero relacionadas
aos aspectos sociodemográficos, clínicos e genéticos do TOC. As bases de dados
pesquisadas foram a Pubmed e PsycInfo
e a pesquisa realizou-se entre os anos de 1990 a 2010. Ao todo foram
encontrados 343 estudos primários publicados em inglês e português. Após
processo de análise e exclusão restaram somente 39 artigos. Nos resultados, observou-se, entre os indicadores, que o impacto negativo do TOC
foi maior entre os homens. Viu-se que, aproximadamente, um terço dos
pacientes adultos referiram o início dos sintomas na infância e, entre as
crianças, dois terços dos casos foram em meninos. Também foi visto que o início
precoce do TOC, no sexo masculino, pode incidir em maiores prejuízos na vida
pessoal, incluindo dificuldades de ajustamento social e relacionamento
interpessoal. Os autores indicaram que os sintomas obsessivos mais frequentes
nos homens incluíram presença de obsessões sexuais e religiosas.
Já no sexo feminino, percebeu-se que os sintomas de limpeza foram mais predominantes, provavelmente,
este dado se atrela aos aspectos biológicos, psicológicos e socioculturais que
se relacionam ao papel feminino em diferentes sociedades. O TOC, nas mulheres, também influiu
no medo de perder o
controle, além de relacionar-se à maternidade quanto ao medo de causar algum
mal ao recém-nascido. Os achados apontaram que, no Brasil, o transtorno de
estresse pós-traumático e transtornos de tiques foram mais prevalentes entre os
homens com TOC. Ao passo que as mulheres apresentaram fobias mais simples,
transtornos alimentares como anorexia nervosa, assim como mais transtornos de controle
relacionados aos impulsos, como compulsividade em comprar e condutas
autolesivas.
Por fim, a revisão pontua que o
gênero pode ser um fator relevante na determinação da apresentação clínica e
evolução do TOC. Todavia, apesar das razões que se referem à apresentação do transtorno
entre os gêneros não serem muito claras, pode-se presumir que, de certo modo,
elas devam resultar de influências biológicas e psicossociais dos indivíduos. Para
a Psicologia da Saúde se faz importante compreender as comorbidades e possíveis
diferenças de gênero associados as desordens mentais. A razão disso é que, a
partir destas informações pode-se conduzir o acompanhamento de forma mais
eficaz, dando atenção as particularidades que podem existir e ser atribuídas a
cada gênero, em maior ou menor grau.
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