COVID-19: Alfabetização em saúde é um problema subestimado

 

Paakkari, L., & Okan, O. (2020). COVID-19: Health literacy is an underestimated problem. The Lancet. Public Health, 5(5), e249-e250. https://doi.org/10.1016/S2468-2667(20)30086-4

Resenhado por Matheus Macena

            O rápido progresso da pandemia da COVID-19 exige mais da capacidade de adquirir, aplicar e adaptar informações sobre a saúde das pessoas. Informações sobre a COVID-19 com o intuito de educar e orientar chegam em um ritmo mais rápido e em um formato de fácil acesso. A maioria das informações sobre como evitar ou disseminar a infecção é criada para oferecer soluções práticas, simples e em um formato de fácil entendimento como lavar as mãos, manter distanciamento físico e onde encontrar informações mais atualizadas em uma fonte segura. No entanto, informações complexas, contraditórias e falsas também são proliferadas neste contexto.

            A pandemia da COVID-19 tem destacado a baixa alfabetização em saúde (Health Literacy) entre a população como um problema global de saúde. Por exemplo, na Europa, quase metade dos adultos reportaram problemas com alfabetização em saúde e informaram não possuírem as competências necessárias para cuidar da própria saúde e de terceiros. Alfabetização em saúde é vista como uma ferramenta crucial na prevenção de doenças não comunicáveis com investimento em educação e comunicação de forma sustentável e a longo prazo, começando cedo no curso de vida. No entanto, quando a COVID-19 emergiu, dois aspectos foram marcantes: primeiro, a percepção de que a alfabetização em saúde é tão importante para prevenção de doenças comunicáveis como não comunicáveis. Segundo, em conjunto o preparo do sistema e do indivíduo são a chave para resolver problemas de vida complexos. Nessa pandemia, ainda que seja difícil, é possível estimular a alfabetização em saúde com ações imediatas de governos e cidadãos.

            Governos e autoridades em saúde têm clamado por responsabilidade individual em obedecer ao distanciamento social para evitar riscos desnecessários de infecção por contato. Assim, discussões sobre direitos humanos, liberdade individual, democracia, responsabilidade social têm tomado corpo em contrapartida a essa e medidas similares. Esses argumentos podem ter aspectos verdadeiros em outras circunstâncias, mas o comportamento “irracional” de “não cumprimento” das medidas de saúde para combate à COVID-19 em detrimento do tecido social por prioridades pessoais causa problemas de proliferação da doença com a negligência do cuidado e falta de adoção de comportamento protetivo. Esse grupo comete uma injustiça com os grupos de alto risco, pessoas com condições preexistentes e profissionais da saúde que tem de tratar os infectados e se expõem aos riscos associados.

            Para a psicologia da saúde, a alfabetização em saúde pode ajudar as pessoas a entender as razões por trás das recomendações e refletir sobre os desfechos de suas ações. A responsabilidade social de pensar além dos interesses pessoais também deve ser considerada dentro da teia de ferramentas da alfabetização em saúde. Solidariedade e responsabilidade social não devem ser levadas em conta apenas para o público geral e os responsáveis por tomar decisões, como também por indivíduos que produzem e compartilham informações falsas sobre a COVID-19.

                              

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.