Impulsividade, hostilidade e suicídio em pacientes com transtorno obsessivo-compulsivo

 

Nagy, N. E., El-Serafi, D. M., Elrassas, H. H., Abdeen, M. S., & Mohamed, D. A. (2020). Impulsivity, hostility and suicidality in patients diagnosed with obsessive compulsive disorder. International Journal of Psychiatry in Clinical Practice24(3), 284-292. doi:10.1080/13651501.2020.1773503.

Resenhado por Luiz Guilherme L. Silva.

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é um transtorno neuropsiquiátrico que afeta cerca de 2% da população mundial. Ele é caracterizado pela presença de obsessões – pensamentos indesejados ou imagens mentais desagradáveis – e/ou compulsões – comportamentos repetitivos, rituais ou ações mentais realizados a fim de diminuir o nível de estresse. Esse transtorno é uma das dez doenças mais incapacitantes da atualidade. O risco de suicídio em pessoas com TOC é relativamente baixo, mas subtipos desse transtorno podem apresentar obsessões suicidas. Em contrapartida, a hostilidade tende a estar correlacionada com a severidade do transtorno. Assim, o estudo teve como hipótese a associação da impulsividade e/ou hostilidade a vulnerabilidade ao suicídio.

Participaram 81 pacientes com TOC entre 18 e 45 anos de uma ala psiquiátrica de um hospital universitário do Cairo, Egito. Eles foram diagnosticados segundo os critérios do DSM-IV por meio da Structured Clinical Interview for DSM-IV (SCID I), a Yale Brown Obsessive-Compulsive Scale (Y-BOCS) para aferição da severidade e tipo de obsessão ou compulsão, a Escala de Impulsividade de Barratt 11ª versão (BIS-11) para avaliar traços de impulsividade e a Escala de Probabilidade de Suicídio (SPS) que é subdividida em desesperança, ideação suicida, autoavaliação negativa e hostilidade. Os participantes foram divididos em três grupos, a saber: com TOC e ideação suicida, com TOC e tentativa de suicídio recente, e com TOC sem ideação e/ou histórico de suicídio.

Na amostra estudada, encontrou-se que 33% tentaram suicídio, 27% apresentavam ideação suicida e 37% dos pacientes com TOC não apresentaram ideação ou tentativa de suicídio. Os métodos mais comuns de tentativa de suicídio foram o envenenamento, a queda de locais altos e o esfaqueamento. A maioria dos indivíduos levaram mais de cinco minutos pensando sobre a tentativa, o que indica baixo nível de impulsividade. A ideação suicida  teve correlação positiva com o escore total de severidade de sintomas da Y-BOCS.

Os pacientes com TOC que tentaram suicídio possuíam maior tempo de convivência com o transtorno sem tratamento, maior frequência de obsessões religiosas e baixo nível de impulsividade. A hipótese de que estes indivíduos teriam maior nível de hostilidade não encontrou relevância estatística no presente estudo. Em relação ao histórico familiar de transtornos psiquiátricos, notou-se que um terço da amostra apresentou algum tipo de transtorno na família, sendo o TOC o mais prevalente e que apenas um indivíduo teve histórico de suicídio. As obsessões mais comuns na amostra foram relativas à contaminação (44,4%) e religião (39,5%) e as compulsões foram referentes à limpeza (28,4%) e checagem (21,0%). Dentre os três grupos, evidenciou-se que a maior severidade do transtorno foi associado a tentativa de suicídio. Contudo, não foi possível apontar a direção desta associação, tendo em vista o delineamento transversal do estudo.

O risco de suicídio em indivíduos com TOC precisa ser monitorado frequentemente a fim de diminuir a probabilidade e piora do quadro. Entretanto, existem poucos estudos referentes a essa temática e faz-se necessário o planejamento e execução de novas pesquisas que evidenciem a direção da relação entre severidade dos sintomas do TOC e suicídio. No que se refere à prática clínica dos psicólogos, estes podem ensinar aos pacientes técnicas de aceitação radical das obsessões e compulsões em conjunto com medidas de mudança que visem a atenuação dos sintomas.


                                     

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.