Por que as pessoas acreditam em teorias da conspiração?
Douglas, K. (2021, January 13). Speaking of
Psychology: Why people believe in conspiracy theories. American Psychological Association. https://www.apa.org/research/action/speaking-of-psychology/conspiracy-theories.
Resenhado
por Michelle Leite
As
teorias da conspiração podem ser definidas como uma narrativa distorcida difundida
por um grupo poderoso de pessoas que possuem objetivos individualistas. Esse
movimento sempre ocorreu na história e costuma prosperar durante períodos de
crise e agitação social. No século XXI, há uma grande preocupação de que as
teorias da conspiração estejam aumentando, principalmente com o advento das
mídias sociais. Estas favoreceram com que pessoas propensas a acreditar nessas
teorias tenham maior acesso à elas, buscando fontes específicas e
desconsiderando outras que poderiam contradizer os seus pontos de vista. Dessa
forma, as atitudes polarizadas das pessoas se tornaram mais fortes como
resultado da interação, compartilhamento e consumo dessas informações nas redes
sociais.
Existem três motivos psicológicos
importantes que podem atrair pessoas a acreditarem em teorias conspiratórias,
são eles: motivos epistêmicos, existenciais e sociais. O primeiro se refere à
necessidade de conhecimento e certeza, além do desejo de obter informações.
Pessoas são mais atraídas por teorias da conspiração quando se sentem inseguras
em situações gerais ou específicas. Nessa perspectiva, pessoas com níveis mais
baixos de escolaridade tendem a acreditar mais em conspirações pelo fato de não
conseguirem, em geral, diferenciar fontes confiáveis de fontes não confiáveis
para sanarem suas necessidades de conhecimento e certeza nos lugares certos. O
segundo diz respeito à necessidade de segurança, proteção, poder e autonomia
sobre as coisas que acontecem. Dessa forma, envolver-se numa teoria da
conspiração permite que as pessoas se sintam munidas de informações que
explicam o porquê elas não possuem nenhum controle da situação, conformando-as
acerca das suas próprias impotências. O terceiro motivo alude ao desejo das
pessoas se sentirem bem individual e coletivamente. Nessa esfera, pessoas
acreditam que têm acesso a informações privilegiadas que outras pessoas não
têm, aumentando sua sensação de superioridade, exclusividade e autoestima.
Os eventos que são explicados por teorias
da conspiração geralmente são constituídos de grande significado político e
social, além de carregarem ideias consistentes com a crença subjacente de que
algo não está certo e precisa ser revelado. Algumas teorias, como a da Terra
plana e aquelas ligadas à questão da recusa às vacinas (movimento antivacina),
não são atuais e podem ser explicadas pelo aumento do ceticismo voltado à
ciência. Em relação à saúde, essas teorias podem provocar consequências graves,
como atitudes negativas em relação à vacinação e diminuição do engajamento em
comportamentos preventivos de saúde, como utilização de máscara, distanciamento
social e uso de preservativo nas relações sexuais.
Uma vez que teorias conspiratórias são
divulgadas, é possível que muitas pessoas se apeguem fortemente a essas crenças
e apresentem atitudes muito difíceis de se contestar. Fornecer informações
factuais pode funcionar em certos casos, principalmente para as pessoas que
ainda não foram expostas à desinformação. Além disso, alguns pesquisadores
consideram a ideia de apresentar às pessoas um pré-aviso de que elas podem ser
expostas à informações falsas ou, nos casos mais difíceis, utilizar técnicas
tradicionais de desmistificação, como contra argumentos consistentes e fortes. Por
fim, importa pontuar que para combater as chamadas fake news é necessário sensibilidade a eventos históricos que
possam justificar as atitudes das pessoas em relação a determinado assunto da
experiência cotidiana.
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