Se é absurdo, por que você faz isso? Quanto mais rica a experiência obsessiva, mais convincente será a compulsão

Moritz, S., Purdon, C., Jelinek, L., Chiang, B., & Hauschildt, M. (2017). If it is absurd, then why do you do it? The richer the obsessional experience, the more compelling the compulsion. Clinical Psychology & Psychotherapy, 25(2), 210–216. doi:10.1002/cpp.2155.

 

Resenhado por Amanda Feitosa

 

O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) tem como característica central as obsessões, as quais são pensamentos intrusivos, indesejados e persistentes. Seu conteúdo varia desde o medo de contaminação até impulsos agressivos, sendo este transtorno associado ao desconforto psicológico e a redução na qualidade de vida. Estudos apontam que os pensamentos compulsivos são amplificados por percepções sensoriais, especialmente quando a consequência temida é considerada catastrófica. Contudo, apesar da ocorrência de ambas em conjunto sinalizar maior severidade dos sintomas, é incerto na literatura se as experiências sensoriais acompanham todo tipo de pensamento intrusivo ou se são limitadas a certas dimensões. Assim, o presente estudo analisou a relação entre pensamentos obsessivos, percepção sensorial e compulsões e também observou se esta relação é mais forte para certos tipos de obsessões.

Participaram da pesquisa 34 pessoas diagnosticadas previamente com TOC, sendo 16 mulheres e 18 homens com idade média de 34,4 anos. Os critérios de exclusão foram não possuir histórico de psicose ou presença de transtorno neurológico e não ser dependente de substâncias no período da pesquisa. Do total, 15 possuíam como comorbidade o diagnóstico de depressão e 8sofriam de transtornos ansiosos. Utilizou-se como instrumentos o Yale–Brown Obsessive–Compulsive Scale (Y‐BOCS) para medir a severidade dos sintomas obsessivos e o Obsessive–Compulsive Inventory—Revised (OCI‐R) para mensurar as dimensões principais do TOC. Também foi usado o Beck Depression Inventory (BDI) para mensuração da depressão e, por fim, o SPOQ para medir as propriedades dos pensamentos intrusivos. Esse último mensurou o quanto os pensamentos se associavam a uma percepção sensorial, por exemplo, em que medida a compulsão de lavagem está associada a pessoa sentir sujeira em seu próprio corpo.

Os resultados da pesquisa demonstraram que a prevalência de pensamentos obsessivos relacionados a sensações corpóreas foi identificada em 73,5% dos participantes. Observou-se que a experiência sensorial foi preditora da frequência e severidade dos sintomas obsessivos, assim como se associou a maior prejuízo psicológico. Esta relação foi mais forte no caso de obsessões acerca de contaminação. Além disso, entre as propriedades sensoriais, destacou-se as sensações visuais e corpóreas como mais prevalentes.   

É relevante a aplicação dos achados do presente estudo por profissionais da Psicologia da Saúde, visto que esta é a área da psicologia que pesquisa e atua na relação entre os aspectos psicológicos e o adoecimento. Ressalta-se a relevância de futuras pesquisas acerca das variáveis associadas aos pensamentos obsessivos no TOC, a exemplo de como as percepções sensoriais nos pensamentos obsessivos são influenciadas por fatores sociodemográficos e transtornos comórbidos. Por fim, psicólogos que atuam na prática clínica também são beneficiados pelos resultados desta pesquisa ao aplicar intervenções em seus pacientes.

                                      


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