Autoeficácia: Aspectos conceituais e implicações no campo da saúde

Nunes, D., & Faro, A. (2019). Autoeficácia: Aspectos conceituais e implicações no campo da saúde. Em A. Faro, M. E. O. Lima, S. R. F. Enumo & C. R. Pereira (Eds.), Psicologia social e psicologia da saúde (pp. 157-177). Editora CRV.


Resenhado por Michelle Leite

            A autoeficácia (AE) é definida como a crença pessoal na capacidade de organizar e executar cursos de ação requeridos para produzir certas realizações. Em outras palavras, é a noção de competência pessoal que permite os indivíduos avaliarem suas capacidades de realizar tarefas e alcançar os resultados desejados. Criada por Albert Bandura, em 1977, o ponto central da teoria da AE indica que iniciar e persistir em comportamentos dependem dos julgamentos e expectativas das pessoas em relação às suas habilidades comportamentais e capacidades de lidar com as demandas ambientais. Logo, infere-se que esse construto psicológico pode ter influências na regulação de comportamentos, resultados e cuidados em saúde, tornando-se um importante tópico na Psicologia da Saúde.

            A Psicologia da Saúde é um subcampo da Psicologia que aplica princípios e pesquisas psicológicos para melhoria da saúde e o tratamento e prevenção de doenças. O entendimento de como as diferenças individuais impactam nos processos de saúde e doença está dentre as questões chaves desse campo. Dessa forma, como a AE é distinta para cada pessoa, ela tem ganhado notoriedade nos estudos de Psicologia da Saúde e demonstrado capacidade explicativa acerca da probabilidade de pessoas virem a adoecer ou se manterem saudáveis a depender dos seus níveis de AE. Isso acontece pois ela está no cerne dos processos de ajustamento e adaptação psicológicos, fatores que se referem à habilidade de reequilibrar-se de maneira saudável diante das adversidades.

            A AE influencia no processo adaptativo e de ajustamento de três formas: na definição de metas e persistência, na eficiência cognitiva e na adaptabilidade emocional. A primeira forma indica que pessoas com AE mais positiva tendem a estabelecer metas pessoais mais desafiadoras e persistir em direção aos seus objetivos, aumentando as chances de atingir o sucesso nas suas realizações. O segundo caminho demonstra que indivíduos com maior AE usam seus recursos cognitivos com mais eficiência, o que leva a melhores soluções e maior realização diante de problemas. Por fim, entende-se que a AE influencia na adaptabilidade emocional, pois pessoas com alta percepção de AE são mais propensas a interpretarem situações estressoras de modo mais positivo e se tornarem mais engajadas na busca ativa de soluções. Todos esses fatores em conjunto podem ser considerados determinantes psicológicos da saúde.

            Em relação à saúde mental, há evidências de que a AE pode ser variável preditora e protetiva na ocorrência de transtornos mentais comuns, como a depressão e os transtornos de ansiedade. Quanto à depressão, baixos níveis de AE podem provocar falta de interesse em uma tarefa e sentimentos de apatia, inutilidade, inadequação e incapacidade, agravando ou propiciando a ocorrência de quadros de humor depressivo. Em relação à ansiedade, a baixa AE refere-se à uma percepção de incapacidade de lidar comportamental e cognitivamente com ameaças potenciais. No tratamento dessas condições, investir em variáveis como a AE possibilita o aumento do senso de controle e motivação dos pacientes para se engajarem em atividades terapêuticas essenciais para a eficácia da intervenção psicoterápica.

           


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